As mulheres correspondem à maioria do percentual de jovens que não estão no ensino formal e nem trabalham
Mais de 26% da população do Ceará, que seria economicamente ativa - de 18 a 25 anos -, está fora da educação formal e do mercado de trabalho. Em Fortaleza, 25,68% das mulheres não brancas e 20,34% das brancas estão fora da escola e sem emprego, enquanto 14,18% dos homens não brancos e 12,92% dos brancos estão na mesma situação. É o que diz estudo do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). O levantamento teve por base microdados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para especialista, a maior parte das pessoas que não estudam nem trabalham são miseráveis que não têm acesso à educação ou ao emprego.
Talita Melo, de 18 anos, se enquadra nesse perfil. Ela terminou o 2º grau no ano passado e ainda não ingressou na faculdade. Por enquanto, ela preenche o tempo com leituras, curso de informática e estudos voltados para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que pretende fazer em 2013. "Quero Psicologia. Procuro ficar em casa estudando para me preparar", conta.
De acordo com a professora do Departamento de Ciências Sociais e coordenadora do Laboratório da Juventude da Universidade Federal do Ceará (UFC), Glória Diógenes, a pesquisa necessitaria de uma análise qualitativa para saber as razões pelas quais os jovens deixam de estudar e de trabalhar.
Para ela, tanto o Governo do Estado quanto a Prefeitura de Fortaleza não têm trabalhado uma perspectiva de continuidade das políticas públicas após os 18 anos. "Há um vácuo que se instala na juventude, principalmente a de baixa renda", diz.
Glória lembra que o Brasil não construiu um pacto de políticas que cheguem a atender pessoas com até 29 anos. Esses jovens não conseguem ingressar em uma universidade e nem no mercado de trabalho por falta de qualificação. Além disso, a professora acrescenta que esses jovens são os que mais se envolvem com drogas. "É um segmento desassistido do ponto de vista dos direitos humanos".
Miseráveis
O mestre em Educação Marco Aurélio de Patrício Ribeiro considera que o percentual de 26% se refira aos miseráveis, ou seja, pessoas que não têm acesso à escola e nem ao emprego. E são aquelas que precisam de políticas públicas de atenção. "São jovens com os quais a sociedade tem dívida. Necessitam, portanto, não só da forma de sobrevivência, mas também da formação profissional e de uma política de inclusão de trabalho".
Outro dado importante é que as mulheres correspondem à maioria do percentual de jovens que não estudam nem trabalham. Cerca de 29% das mulheres brancas estão nesse perfil contra 18,6% de homens na mesma situação. Marco Aurélio Ribeiro comenta que o problema é que ainda existe uma cultura de o sexo feminino ser provido e não provedor. "Muitas mulheres ainda buscam maridos que as sustentem". Além do fato de as empresas preferirem os homens para as vagas de emprego.
A Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado do Ceará (STDS) revela que tem ação efetiva para atender os jovens de 18 a 25 anos. Conforme o coordenador do Trabalho, Emprego e Renda da STDS, Robson Veras, o Estado contempla quase oito mil jovens. O Projeto Primeiro Passo, por exemplo, cria oportunidades de trabalho e qualificação para 2,5 mil pessoas vindas da rede pública de ensino e carentes. Além disso, a STDS oferece bolsas no Interior.
Uma nova perspectiva é o início do Projovem, em outubro, que vai atender 8.500 jovens em 132 municípios com inclusão digital, noções de ética e cidadania e Direito Trabalhista.
Já a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SDE) oferece o Programa de Qualificação Básica e Tecnológica, com ações de capacitação profissional nas áreas de serviços, comércio, turismo, artesanato, alimentação e indústria, para pessoas a partir dos 16 anos de idade. Existe também o Projovem Trabalhador - Juventude Cidadã - que qualifica social e profissionalmente jovens de Fortaleza.
LINA MOSCOSO
REPÓRTER
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