Em 30 anos, dengue matou 500 pessoas no Estado

Dengue: a maior epidemia do Estado

Há três décadas, era confirmado o primeiro caso de dengue no Ceará. Mais de meio milhão de ocorrências e sete epidemias depois, a infecção se transformou na maior endemia do Estado por Vanessa Madeira - Repórter [caption id="attachment_127335" align="alignleft" width="300"]Health ministry workers show a larva of Aedes aegypti mosquito, vector of the dengue, Zika and Chikungunya viruses in the Bethania neighborhood in Guatemala City on February 2, 2016. World health officials mobilized with emergency response plans and funding pleas Tuesday as fears grow that the Zika virus, blamed for a surge in the number of brain-damaged babies, could spread globally and threaten the Summer Olympics. AFP PHOTO Johan ORDONEZ / AFP / JOHAN ORDONEZ  - cidade - 29ci0001  -  JOHAN ORDONEZ Evolução do mosquito Aedes aegypti facilitou agravamento da transmissão [/caption] Mal voltou de viagem a Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, sua terra natal, Ilza caiu de cama. Febre, dores no corpo, cefaleia. Era 1986, e os médicos do Hospital São José, para onde foi levada, logo perceberam a semelhança entre seus sintomas e os da infecção que já se convertera em surto na cidade fluminense, deixando autoridades de todo o País em estado de alerta. A hipótese e o receio dos especialistas se confirmaram nos dias seguintes. Ilza Nascimento dos Santos, moradora da Barra do Ceará, na Capital, era o primeiro caso confirmado de dengue no Ceará. Ainda desconhecida na época para grande maioria da população, de pesquisadores e do poder público, a doença viria a se tornar um dos maiores problemas de saúde pública do Estado. Nos 30 anos que se passaram desde o primeiro registro até os dias atuais, a dengue não só persistiu, como se disseminou e se agravou. De 1986 para cá, o Ceará já registrou pelo menos meio milhão de ocorrências (558.827) e 500 mortes, vivenciou sete epidemias (sendo a mais recente em 2015), e identificou quatro dos cinco vírus causadores da infecção existentes no mundo em circulação. A dengue se transformou em doença endêmica, manifestando-se anualmente, de janeiro a dezembro, sem trégua. A crítica situação de transmissão na qual o Ceará se encontra hoje foi construída ao longo dessas três décadas, resultado de uma série quase inumerável de fatores, da histórica insuficiência de ações de prevenção e controle à falta de consciência da população sobre a seriedade da virose. A isso pode se somar a evolução do mosquito Aedes aegypti, cujo poder de ameaça surpreende constantemente ciência e governo. Combate dificultado Estes serão os temas tratados, a partir de hoje, na série de reportagens especiais do Diário do Nordeste sobre os 30 anos da dengue no Ceará, completos neste ano. Em cinco matérias, iremos discutir o fortalecimento do vetor, que se adaptou ao ambiente e ao clima cearense e já é responsável pela proliferação de outras duas enfermidades, chikungunya e zica; a incapacidade do poder público de combater o problema, com estratégias desarticuladas e descontinuadas; a resistência dos moradores em adotar medidas simples contra o mosquito em suas próprias casas; e, por fim, a criação, a passos lentos, de imunizações contra a doença. Não é difícil entender como a virose se tornou uma das infecções mais predominantes no Estado. De início, a dengue foi subestimada. Por inexperiência dos governos que lidaram com a primeira crise, o problema tomou dimensões bem maiores do que se imaginava. "No primeiro ano de dengue, a epidemia foi explosiva. A população estava susceptível e rapidamente houve difusão da doença", lembra o médico sanitarista Manoel Fonseca, secretário de Saúde de Fortaleza em 1986. Erros históricos "A estratégia foi combater o mosquito como podíamos", afirma ele, citando o início das rotinas de visita casa a casa, do uso de bombas costais e da preocupação com a limpeza urbana. "Mas acho que houve erros históricos em todo o País, principalmente do ponto de vista de criar estratégias diferenciadas de educação para saúde, de investir em saneamento básico e em iniciar pesquisas para controle por meio da vacina", acrescenta Fonseca. Para Robério Leite, infectologista do Hospital São José, pelo impacto que possui sobre a mortalidade no Estado e pela sobrecarga que acarreta ao sistema de atenção, a dengue é um das principais desafios para a Saúde. "Tanto o número de óbitos quanto os custos para o sistema de saúde criaram, com certeza, um grande problema. Não havia percepção que ia atingir todo o território com a velocidade que aconteceu. Se houvesse, talvez tivesse ocorrido uma ação mais intensa para evitar essa proliferação", ressalta.

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