Maior chuva em 14 meses causa 73 ocorrências em Fortaleza
Uma das surpresas foi o transbordamento do Rio Cocó, o que já não acontecia há quase um ano
[caption id="attachment_126491" align="alignleft" width="300"] 31 DE MARCO DE 2016 - FORTE CHUVAS CAUSAM TRANSTORNOS EM FORTALEZA. BAIRRO DO LAGAMAR.
- CIDADE - 01ci0317 - NATINHO RODRIGUES[/caption]
Desde 4 de janeiro de 2015, quando choveu 134 mm, os fortalezenses não presenciavam uma chuva tão intensa quanto a de ontem (31). Os 123mm de precipitação registrados pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) das 7h do dia 30 de março às 7h de 31 de março de 2016 foram suficientes para deixar à mostra os problemas estruturais recorrentes localizados na capital cearense perante às chuvas, que causaram, inclusive, o transbordamento do Rio Cocó.
O acúmulo das águas resultou em 73 ocorrências registradas pela Defesa Civil, destas, 41 foram alagamentos, 10 riscos de desabamento, 15 inundações, um risco de inundação e quatro desabamentos. Um dos desabamentos aconteceu no bairro Vicente Pinzón e resultou no desalojamento de uma família de cinco pessoas, que agora estão abrigadas na casa de familiares, segundo informações do órgão.
Além do boletim divulgado pela Defesa Civil, a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) revelou que, durante a manhã, período de maior concentração das precipitações, seis semáforos apresentaram defeitos na Avenida Bezerra de Menezes, Rotatória da Aguanambi e Avenida Silas Munguba. Todos, conforme o órgão, voltaram a funcionar após um curto período de pane. A Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb) divulgou ainda que sete árvores caíram nas vias da Cidade até as 16h. As quedas não resultaram em acidentes.
Cratera - Por volta das 8h30, um ônibus da Viação Fortaleza caiu em uma cratera que abriu em plena Avenida Castelo Branco (Leste/Oeste), esquina com Rua Álvaro de Alencar. O veículo fazia o trajeto entre os terminais do Antônio Bezerra e Papicu, via Barra do Ceará Foto: José Leomar
Doenças
A surpresa ficou por conta do transbordamento do Rio Cocó, o que já não acontecia há quase um ano. Com o volume acima da capacidade, algumas residências do Lagamar chegaram a ficar alagadas. Uma dessas casas foi a de Maria Célia. Mãe de três filhos, a dona de casa ressaltou o medo das doenças que podem ser contraídas com a água suja. "Desde ontem à noite ficamos acordados. O medo do canal encher é grande. Ninguém do poder público faz nada", conclui.
Sobre o transbordamento, o coordenador especial de Proteção e Defesa Civil, Cristiano Férrer, avaliou que não há problemas relacionados às limpezas no local, já que isso vem sendo feito frequentemente, mas o fato se deve a um conjunto de fatores, com destaque para o que aconteceu nas lagoas. "Acumulou uma chuva forte e uma maré alta que chegou a 2m e 20cm com pico às 10h. Então, as lagoas Vila Cazumba, Zeza, Tijolo e Cabo Velho, que compõem a bacia do Cocó, transbordaram. Dependendo dos fatores pode acontecer novamente", alertou.
Casa alagada - No Lagamar, famílias tiveram as residências invadidas pela água suja. Do lado de fora, mesmo com o lixo, crianças brincavam nas ruas do bairro Foto: Natinho Rodrigues
Ainda ontem (31), a Funceme também registrou que o pico das precipitações aconteceram da meia-noite até às 10h. Só neste período, na estação do Itaperi, foram contabilizados 117mm de chuva. Nos 14 meses, contabilizados a partir do dia 4 de janeiro de 2015, a terceira maior chuva de Fortaleza aconteceu no dia 21 de janeiro de 2016, quando choveu 95mm em 24 horas.
Com a apresentação de chuvas intensas, a recomendação da Defesa Civil para os que moram em áreas de risco é permanecerem atentos e, com a presença de anormalidades, não resistir a desocupar o local, dando prioridade à retirada de crianças e idosos. "Qualquer população em costa de morro, em cima de morro e perto de recursos hídricos deve redobrar a atenção e permanecer atenta às condições da água no entorno para acionar a Defesa Civil", destaca Férrer.
A Regional VI foi a que apresentou mais ocorrências, conforme o último boletim da Defesa Civil às 17h: 38 registros só nesta região, sendo, deste total, 23 alagamentos. Como motivações para os dados elevados nesta regional, Férrer aponta as presenças de rios, o que deixa os espaços mais úmidos.
Segundo o meteorologista da Funceme, David Ferran, o principal fator para o aumento das precipitações é a atuação da zona de convergência, que permanecerá presente pelos próximos três dias. "Com uma ou duas horas de chuva é possível prever a intensidade da chuva. Nos próximos dias, deve persistir a nebulosidade variável e é possível ter chuva intensa em alguns locais", disse o especialista.
Mesmo com a intensa chuva no último dia do mês de março, os dados preliminares da Funceme apontam que as precipitações na Capital permanecem abaixo da média histórica. De acordo com os dados preliminares da fundação, a média observada em março de 2016 foi de 265,5mm, enquanto a histórica é de 324,1mm. No Estado, os números de março deste ano se diferenciaram em 40%.
Trânsito lento - Na Avenida Abolição, o tráfego ficou lento devido à chuva. Já na Beira-Mar, bocas de lobo estouraram e ficaram jorrando sujeira para a via Foto: José Leomar
Acidentes
Durante a chuva, um ônibus da Viação Fortaleza caiu em uma cratera aberta em plena Avenida Castelo Branco (Leste/Oeste), esquina com R. Álvaro de Alencar. O acidente com o veículo, que fazia o trajeto entre os terminais do Antônio Bezerra e Papicu, via Barra do Ceará e Pirambu, aconteceu às 8h30min.
A chuva também causou transtornos em outros pontos da cidade, como na Avenida Beira Mar. Ali, bocas de lobo estouraram e ficaram jorrando sujeira para a via. "Perdemos as contas de quantas vezes isso ocorreu e quantas vezes ficamos na mesma", ressalta o comerciante Gilvan Barbosa.
Ilhados - Na Av. Dom Luis, um ônibus e um carro ficaram presos no alagamento sob o viaduto. Um veículo do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Ceará (Sindiônibus) foi chamado para resgatar os passageiros ilhados. Segundo o Sindicato, cerca de dez linhas de ônibus tiveram que alterar a rota por conta do problema no local. Foto: Natinho Rodrigues
Na Praia de Iracema, nas proximidades do Centro Cultural Dragão do Mar, trafegar pela Rua Bóris somente com muito cuidado. A via alagou, o que provocou muita confusão no trânsito daquela área. Em outro ponto, na Avenida Abolição, um transformador de energia estourou, provocando muita fumaça e medo em que passava. Já na Av. Júlio Abreu, sob o viaduto da Via Expressa, um ônibus e um carro ficaram presos no alagamento do viaduto. Com isso, se fez necessária a presença de um veículo do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Ceará (Sindiônibus) para resgatar os passageiros ilhados. Segundo o Sindicato, cerca de dez linhas de ônibus tiveram que alterar a rota por conta do problema no local.
Os alagamentos impediram o juiz da 5ª Vara da Infância e Adolescência, Manuel Clístenes, de acessar o Centro Educacional Patativa do Assaré, no Ancuri, onde realizaria visita na manhã de ontem. Conforme o magistrado, o total alagamento da Rua Tenente Jurandir Leonel Alencar, o impediu de chegar ao local.
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