Soldador transforma sucatas em peças de arte em Fortaleza

Produções já foram levadas para os Estados Unidos e para Itália.

O soldador e lanterneiro Dr. Alves percebeu que as sobras do seu trabalho poderia se tornar peças disputadas por colecionadores. Há mais de 20 anos, o cearense que mora no Bairro Cambeba largou o trabalho com carteira assinada para ser artista. “Comecei a inventar boneco de todo jeito nas horas vagas. Aí, o homem disse: 'Ei, seu ramo é outro'. E deixei o emprego”, lembra.

Dr. Alves sustenta a família com as suas criações. Os estudos dos dois filhos foram custeados com o trabalho do artista. “Eu vivo só disso mesmo. Me casei, tenho 25 anos de casado. Tenho dois filhos, todos já grandes. Terminaram os estudos só a custo disso mesmo. Não tem outro meio não”, afirma.

O cearense tem vida simples e conta que trabalha desde os oito anos de idade. Quando era criança, Dr. Alves lembra que aprendeu o ofício do pai de manobreiro de trem de ferro e, nas horas vagas, ainda varria a estação. O título de “doutor” não veio de uma universidade e, sim, de quando conheceu um engraxate todo engravatado no município de Iguatu. “O nome dele era Dr. Rui. Aí, eu pensei: Sabe de uma coisa? Se ele usava o doutor porque eu não posso usar também”, revela.

As peças de Dr. Alves andaram longe, já foram compradas por clientes dos Estados Unidos e da Itália. Apesar do talento reconhecido internacionalmente, os trabalhos feitos pelo artista mal pagam as contas da casa. “É meu meio de vida. A minha sorte é que a turma me ajuda, as pessoas me doam material. Até uma bacia furada, eu recebo”, diz. Ele conta que a obra mais cara custou R$ 800 e foi vendida para alunos universitários. “Todo mundo recebeu (nota) 10”, brinca.

Como todo artista, Dr. Alves tem inspirações. A música é uma delas. O cearense coleciona vinis, guardados na oficina, e só trabalha ouvindo os discos. “Sem som aqui, eu fico doido. Quando eu vendo uma radiola, enquanto eu não comprar outra, não sossego”, afirma.