O agronegócio que deu certo no Estado

Ao contextualizar a agropecuária no Ceará, logo vem à mente a inserção do Estado no semiárido nordestino, as irregularidades temporais e espaciais de chuvas, a incerteza da safra e a vulnerabilidade, sobretudo dos pequenos produtores. Características que ainda hoje influenciam os resultados dos setor primário local e o peso de sua contribuição para o crescimento da economia estadual.

Entretanto, como alternativa à dependência do clima como determinante da produção, a utilização da irrigação e a adoção de tecnologias de ponta foram o grande trunfo há muito esperado para reverter a situação. Tanto que, hoje, a importância da atividade agropecuária no Ceará está longe de ser aquela de há quase 15 anos, quando essas novas práticas aqui começaram a ser implantadas. Apenas dizer que avançou não dá a real dimensão dos resultados obtidos. Atualmente, o Estado está entre os maiores produtores de frutas e flores do País, por exemplo.

Economia verde

O surgimento do que ficou conhecido como a "economia verde", implantada no Interior cearense por meio dos perímetros irrigados e a segurança hídrica, proporcionada por infraestrutura para abastecimento e transporte de água, estão mudando, em algumas regiões do Ceará, a face e o conceito de um fenômeno da sua história: a seca. Tanto mudou que a tradicional produção de grãos vem perdendo espaço para culturas mais rentáveis e pautadas na exportação, tornando o agronegócio, uma experiência que deu certo.

"É um segmento estratégico para o Ceará e pelo qual eu tenho um profundo respeito", disse o governador Cid Gomes na semana que passou, em encontro com representantes de diversos segmentos do agronegócio cearense. E ele tem razão, ante as estatísticas acumuladas em pouco mais de uma década.

Destaque nacional

Segundo dados da Agência de Desenvolvimento econômico do Estado (Adece), o setor emprega mais de 60 mil pessoas; já são mais de 88 mil hectares irrigados, distribuídos em seis polos ocupados com frutas, hortaliças, flores e grãos; e outros 20 mil hectares estão prontos para passar pelo mesmo processo.

Para se ter uma ideia, relata o gerente de Mercado e Projetos da Adece, Sérgio Baima, "enquanto em 1998, antes da utilização de terras irrigadas, a exportação de frutas no Ceará era em torno de US$ 800 mil, em 2013 chegou à marca de US$ 117 milhões". "Tanto que, hoje, somos o terceiro maior exportador de frutas do País e o quarto produtor", completa o especialista.

Conforme disse, a importância é tanta, que o peso do agronegócio nas exportações cearenses supera o que o setor representa nas vendas externas do País. "No Brasil, um terço das exportações vem do agronegócio. Aqui no Estado são 41%", ressalta.

Há ainda outros exemplos bem sucedidos na agropecuária estadual. De acordo com o analista do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Klinger Aragão, pesquisador na área, um deles é o da bovinocultura leiteira, "a qual apresentou crescimento na produção superior a 57% entre os anos de 1990 e 2012".

"Esse resultado foi fruto de diversos esforços dos setores público e privado no sentido de organizar a cadeia produtiva, incluindo a especialização do rebanho, formação de pastagens e capacitação dos produtores para a gestão do negócio", fala.

Outros destaques do agronegócio cearense, relata Aragão, são a produção de mel (avanço de 374,3% entre 1990 e 2012), a ovinocaprinocultura, a produção de tilápia, de camarão e de algas.

Anchieta Dantas Jr.
Repórter