'Bento XVI acelerou processo de beatificação de padre Cícero', diz sacerdote da Diocese do Crato, no Ceará

Foi a partir dessa reconciliação com a igreja que foi possível iniciar etapa de beatificação.

Bento XVI - Foto Vincenzo Pinto | AFP

Por g1 CE

MORRE BENTO XVI: PAPA EMÉRITO CONTRIBUIU COM PERDÃO DE PADRE CÍCERO

O Papa Bento XVI, falecido neste sábado (31), foi responsável pela reabertura do processo de beatificação de padre Cícero Romão Batista, apontou o sacerdote da Diocese do Crato, Antônio Edson Bantim. Padre Cícero é considerado "santo popular" para muitos fiéis católicos nordestinos. Todos os anos, as romarias em homenagem a ele atraem milhões de romeiros a Juazeiro do Norte.

O pontífice morreu neste sábado aos 95 anos, após passar por uma piora repentina de saúde nos últimos dias. A informação foi confirmada pelo Vaticano no Twitter.

O velório está marcado para começar na segunda-feira (2) na Basílica de São Pedro, sendo que o funeral será na quinta-feira (5) na Praça de São Pedro, presidido pelo Papa Francisco, segundo o Vaticano.

De acordo com o pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Edson Bantim, papa Bento XVI, foi decisivo na beatificação e pediu para o bispo de Crato, na época, Dom Fernando Panico reabrir o processo.

“O papa Bento XVI foi quem pediu para o bispo de Crato, na época Dom Fernando, que reabrisse o processo do Padre Cícero depois de muito tempo. Esse processo estava calado. Falar sobre Padre Cícero era quase proibido e de repente o papa desperta para isso. Bento XVI pede para o bispo Dom Fernando Panico fazer um estudo profundo para ver as possibilidades de reabilitar Padre Cícero e posteriormente a causa de beatificação”, afirmou.

Padre Cícero — Foto: Arquivo TVM

Delicado e brincalhão

Antônio Edson Bantim recorda que conviveu de perto com Bento XVI enquanto estudou e morou em Roma entre 2008 e 2013. Segundo o sacerdote, Bento XVI era simples e brincalhão. Totalmente diferente da imagem que aparecia nos meios de comunicação.

“Eu estive em Roma entre 2008 e 2013 estudando e morando na paróquia Pio V provisionado por Bento XVI. E tive a oportunidade de várias vezes ter contato com ele. Imagem que ele passava era de pessoa sempre próxima, simples, brincalhão, que não aparecia na mídia. Uma experiência muito forte”, disse.

Ainda de acordo com Antônio Edson Bantim, a sua delicadeza era incrível. Sacerdote lembra com carinho do som do piano tocado pelo santo padre no fim da noite quando a praça de São Pedro estava vazia.

“Joseph Ratzinger tinha uma delicadeza incrível. Experiência muito marcante. Ele tinha a delicadeza de um artista. Aliás, ele era pianista, muito competente. Tenho na recordação muito marcante, na minha mente, é que na noite, durante o silêncio da Praça São Pedro dava para escutar o som do piano dele, no palácio pontifício. Essas delicadezas não poderiam ser de um homem grosseiro”, disse.

Antônio Edson Bantim estudou e morou em Roma entre 2008 e 2013. — Foto: Reprodução/TV Verdes Mares

Processo e pedido de beatificação

O processo de beatificação na igreja católica foi autorizado pelo Vaticano em agosto. Em 2015, o Vaticano atendeu ao pedido do bispo dom Fernando Panico e reconciliou o padre Cícero Romão Batista com a igreja católica. Com a reconciliação, não havia mais impeditivos para a abertura do processo de beatificação do "santo popular".

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O pedido para a autorização da beatificação de padre Cícero foi solicitado por Dom Magnus Henrique Lopes, por meio de uma carta entregue ao papa Francisco durante a visita ao Vaticano, em maio deste ano.

"Recorremos a vossa solicitude de pastor universal da santa igreja para pedir especial clemência para com este sacerdote católico, amado, exonerado. Esperamos que Vossa Santidade, na hora oportuna, examine, com o coração de pai e como sucessor de Pedro, este pedido ora formulado, cuja resposta é um anseio nosso e dos milhões de devotos do padre Cícero", diz um trecho da carta entregue por Dom Magnus ao papa Francisco.

Padre Cícero morreu em 1934 rompido com o Vaticano por envolvimento com a política e pelo polêmico “milagre da hóstia”. Segundo a crença popular, uma hóstia dada pelo padre virou sangue na boca de uma beata. Para os devotos de padre Cícero, trata-se de um milagre, mas a igreja Católica considerou o caso uma interpretação equivocada. Por conta dos "equívocos", ele foi afastado da igreja católica.

Término da beatificação

Para concluir a beatificação, o Vaticano faz inicialmente um levantamento da biografia do candidato para verificar se há algum fator na biografia que possa impedir o processo. Se nada for encontrado, a igreja emite o Nihil Obstat (nenhum impeditivo), um documento formal, redigido em latim e dirigido ao bispo indicando que o pode haver continuidade do processo.

“É a partir deste documento que o candidato à santidade passa a ser chamado Servo de Deus e tem a investigação livre para desenrolar-se até o fechamento do processo”, explica o advogado e especialista em Direito Canônico José Luís Lira. Em seguida, será constituído um tribunal eclesiástico diocesano que vai aferir as qualidades, as virtudes e constatar toda a vida do Servo de Deus.

Após a conclusão da fase diocesana, os documentos são encaminhados para o Vaticano, onde se inicia a fase romana. O Vaticano avalia relatos de milagres, graças e atos que possam dar status de beato a Padre Cícero.

“Uma vez constatada, ele é automaticamente declarado como ‘venerável’. Se houver um milagre consistente, nos modos que a Santa Sé exige, com laudos médicos e toda documentação cabível, é iniciada a fase de beatificação. Aprovado o milagre, o papa autoriza a beatificação. Após se tornar beato, é necessário outro milagre para a canonização”, conta Luís.

https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2022/12/31/bento-xvi-acelerou-processo-beatificacao-de-padre-cicero-diz-sacerdote-da-diocese-do-crato-no-ceara.ghtml