Crato registra casos sucessivos de violência contra mulheres

Protesto no Crato pedi o fim da violência contra as mulheres

Crato registra casos sucessivos de violência contra mulheres Por Antonio Rodrigues No fim da tarde de ontem, dezenas de pessoas realizaram um protesto no Centro do Crato pedindo o fim da violência contra as mulheres [caption id="attachment_152248" align="alignleft" width="300"] No fim da tarde de ontem, dezenas de pessoas realizaram um protesto no Centro do Crato pedindo o fim da violência contra as mulheresFOTO: ANTONIO RODRIGUES[/caption] Crimes recentes de feminicídio e abuso sexual contra mulheres no Município do Crato, na região do Cariri, acendem um alerta para a violência de gênero no interior do Estado. Ontem, cinco homens foram presos por abusar da sobrinha A Polícia Civil cumpriu, ontem, mandados de prisão contra parentes de uma adolescente de 17 anos, no Crato, vítima de estupros continuados durante 10 anos. Cinco dos suspeitos são tios da vítima e o outro, tio-avô. Um deles está foragido. Foi assim que teve início o mês da mulher na região do Cariri, que registra altos índices de violência de gênero no Estado. No fim da tarde de ontem, dezenas de pessoas realizaram um protesto no Centro da Cidade pedindo o fim da violência contra as mulheres. Além desse caso, anteontem, Geanne Tavares Souza, de 28 anos, foi morta a tiros ao sair de uma farmácia, onde trabalhava, no mesmo Município. O suspeito do feminicídio é seu ex-companheiro identificado como Paulo Roberto Carlos Ramalho, que tentou suicídio e está em internado em estado grave. No primeiro caso, a violência contra a jovem começou após a morte do pai dela, quando a menina tinha apenas 7 anos. A própria vítima fez a denúncia anonimamente no fim do ano passado. De acordo com a titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Crato, Kamila Brito, a mãe da adolescente informou que sabia do crime desde 2016, mas, por medo dos suspeitos, não teve coragem de contar à Polícia sobre os abusos. As duas moravam juntas, próximas aos parentes, em um sítio a 14 quilômetros da sede do Município do Crato. Os cinco homens capturados prestaram depoimento e foram levados à Cadeia Pública de Crato, onde devem ficar presos temporariamente por 30 dias. O prazo, segundo a delegada, é suficiente para que o inquérito seja concluído. A identidade deles não foi divulgada para preservar a vítima. Os suspeitos podem responder por estupro de vulnerável. A Polícia Civil segue à procura do sexto foragido. Segundo a delegada, um dos seis tios suspeitos de estuprar a sobrinha confessou o crime contra ela e mais duas sobrinhas-netas, na época com 7 anos. O idoso, que hoje tem 84 anos, chegou a levar as três meninas a uma escola abandonada para praticar os abusos. A adolescente também prestou depoimento. De acordo com Kamila, a jovem contou detalhes sobre o caso. Os cinco homens são irmãos do pai dela, já falecido. Ela passará por um tratamento psicológico. A equipe do Centro de Referência da Mulher já entrou em contato com a jovem. Apesar da prisão, a delegada admite que, pelo grande número de notificações na Delegacia de Crato, as ações preventivas na zona rural não têm acontecido nos últimos meses. "Desde agosto suspendi os trabalhos preventivos. É isso que é importante. Se for só pra reprimir, aplicar pena, não vamos dar um basta (na violência contra mulher)", destaca Kamila. Feminicídio Por volta das 18 horas, na última quinta-feira (28), um caso de feminicídio também foi registrado, em pleno Centro da cidade de Crato. Geanne Tavares de Souza, 28, tinha acabado de terminar o expediente numa farmácia, onde trabalhava como caixa, quando foi surpreendida a tiros pelo seu ex-namorado, Paulo Roberto Ramalho. Os dois haviam se separado há três meses e ele não aceitava o fim do relacionamento. Uma amiga da vítima relatou ainda que a mulher tinha uma medida protetiva contra o suspeito. Os agentes que atenderam a ocorrência, acreditam que o crime foi premeditado, já que o suspeito aguardou a vítima sair do trabalho em seu caminho habitual. Depois do assassinato, Paulo Roberto atirou contra si mesmo, na boca. Ele foi levado em estado grave ao hospital. A arma foi recolhida pela Polícia. A professora Verônica Isidório, do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher Cratense, conta que o movimento de mulheres da Região se preparava para se organizar para os atos do dia 8 de março - Dia Internacional da Mulher - quando foram surpreendidas pelos últimos crimes. "A região do Cariri tem se destacado nos altos índices. A gente tem buscado, mas os avanços foram muito poucos. Há uma desarticulação em nível de Estado de política no enfrentamento da violência contra a mulher. Porém, conseguimos aprovar em Juazeiro e Crato o ensino da Lei Maria da Penha nas escolas", pondera. Três dias antes da morte de Geanne, no bairro São José, em Juazeiro do Norte, Natália Ferreira Barão, de 24 anos, morreu após ser lesionada gravemente no pescoço com uma garrafa de cerveja quebrada. A vítima tentava defender sua amiga, Maria do Socorro, que estava sendo agredida pelo ex-marido, identificado como Carlos Rodrigues Silva, que está foragido. A mulher possuía uma medida protetiva contra o suspeito. Professora No dia 19 de agosto de 2018, a professora Silvany Inácio de Souza, de 25 anos, era morta com tiros à queima-roupa, na Praça da Sé, também em pleno Centro de Crato, na frente do seu filho. O suspeito do crime é seu ex-companheiro que foi preso minutos depois. Menos de um mês depois, no dia 16 de setembro, outra professora, Cidcleide Bezerra Campos, também foi assassinada no Município, vítima de golpes de faca por seu ex-namorado, que tentou se matar após o crime. Curiosamente, naquele último mês de setembro, o número de boletins de ocorrência registrados por mulheres vítimas de violência na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Crato dobrou de sua média mensal, que fica entre 80 e 100 casos. Em 2016, foram notificados 2.299 casos de violência contra a mulher em Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha. Ou seja, 6,26 por dia. Estes dados estão disponíveis no caderno "Diálogos sobre as experiências no enfrentamento à violência no Cariri", resultado do trabalho realizado por pesquisadores e a equipe de bolsistas do Observatório de Violência e Direitos Humanos, da Universidade Regional do Cariri (Urca). A partir dos dados, percebeu-se que o Crato tem uma taxa de 14,18 notificações, superando Juazeiro do Norte, que possui uma população maior de mulheres e registrou 10,18 notificações. Mesmo o Crato tendo uma população feminina que não alcança a metade do número de mulheres do Município vizinho - 63.812 contra 131.586 -, "o número de B.Os, inquéritos instaurados e medidas protetivas são quase equivalentes ao da Delegacia de Juazeiro do Norte", conta a delegada Kamila Brito.

Rotarianos Barbalhenses

Sandra Nancy, Josier Ferreira e Odair José de Matos

Rotarianos, Escola de Saberes e Câmara.