Pequi e maracujá-peroba são destaque na Chapada do Araripe

Extrativismo é forma de sobrevivência na Chapada do Araripe Por Antonio Rodrigues [caption id="attachment_152269" align="alignleft" width="300"] Apesar de comum, o pequi se tornou uma alternativa de sobrevivência somente há pouco tempo na Chapada do AraripeFoto: Antonio Rodrigues[/caption] Entre a vasta diversidade encontrada na mata, o pequi se destaca por ser consumido por muitos moradores do Cariri cearense. Para complementar a renda, os extrativistas também colhem o maracujá-peroba, um fruto nativo Logo cedinho, antes de raiar o dia, o agricultor Cícero de Sousa Silva, de 44 anos, acorda seus filhos, Wellington, 14, e Wesley, 12. O trio sai de bicicleta da comunidade Baixa do Maracujá, em Crato, para se embrenhar no meio da mata da Floresta Nacional do Araripe (Flona), nas margens da CE-292, que liga o Município até Nova Olinda. O objetivo? Catar o máximo de pequi e maracujá-peroba que puderem transportar. Assim como eles, dezenas de outros extrativistas escolhem os primeiros meses do ano para conciliar a roça com a venda de frutos colhidos na Chapada do Araripe. Entre a vasta diversidade encontrada na mata, o pequi se destaca por ser consumido por muitos moradores do Cariri cearense, seja no baião de dois, feijão ou na "pequizada". Além disso, o óleo produzido do fruto é muito procurado, principalmente, pelos romeiros, que acreditam ser um medicamento popular, que serve para aliviar inflamações e sintomas de gastrite. A safra, desta vez, começou mais cedo, ainda em dezembro do ano passado, e deve terminar neste mês. É deste fruto que muitos agricultores conseguem uma renda complementar. A partir de fevereiro, se destaca, também, no meio do verde da floresta, a cor laranja dos primeiros maracujás-peroba que, aos poucos, vêm sendo muito bem vendidos. Similar ao fruto "tradicional", o produto nativo é menor e mais doce. "É muito procurado para chupar, fazer suco", garante Cícero. Com seus dois filhos, o extrativista encheu dois sacos grandes de 50 quilos, que tradicionalmente transportam açúcar, em apenas uma manhã. Após a colheita, os meninos seguem para a escola e o agricultor pedala mais alguns quilômetros para vender aos feirantes da beira da pista. [caption id="attachment_152270" align="alignleft" width="300"] Extração do fruto garante o sustento de dezenas de famílias na região do Cariri cearenseFoto: Antonio Rodrigues[/caption] Cada saco pequeno de maracujá-peroba custa R$ 2,50 e é exposto ao lado do pequi em, aproximadamente, 50 barracas instaladas próximas ao acostamento da CE-292, nos limites entre Crato e Nova Olinda. Jaca, mel de abelha, leite janaguba, amendoim, pitomba e macaúba também são comercializados. Tudo retirado da Chapada do Araripe. "Eu planto legumes. Minha rocinha está lá. De milho, fava, mandioca. Aí, sobra um tempinho para ganhar com as frutas. Nasci e fui criado aqui, catando pequi, maracujá, jaca. O pessoal procura cada vez mais", garante Cícero. A safra do maracujá, que dura cerca de 20 dias, conciliou com o fim da safra de pequi, que está cada vez mais raro de encontrar. "Ano passado, foi até maio", lembra o extrativista. Mesmo assim, em 2019, acredita que foi melhor. Sustento "Não tem emprego, não tem renda. A gente vive disso", resume a catadora Cícera Islândia Damião. A jovem de 26 anos explica que nem todo ano o maracujá produz, por isso, neste ano a safra foi importante para complemento de renda. Ela e sua família saíram de Exu, em Pernambuco, porque o extrativismo era melhor que viver apenas na roça. "Era difícil. Apesar que aqui também é complicado, porque o solo não retém água. Aí não tem como plantar", explica. José Orlando dos Santos fica do início da manhã até o fim da tarde na beira da pista. Este ano é sua primeira experiência como catador, depois que se mudou de São Paulo há um ano. "Isso aqui é para não faltar alguma coisa dentro de casa", justifica. Com a aproximação do fim da safra, antecipa que o preço do pequi provavelmente subirá. É por isso que o empresário Francisco Otávio Mota, natural de Antonina do Norte, aproveita suas viagens até Juazeiro do Norte e compra uma centena de pequi. Dono de um restaurante em sua terra natal, o fruto é um pedido constante dos clientes. "Lá não tem pequi, aí, por isso, sempre que vou ao Juazeiro levo. O preço aqui está bom", ressalta ele. Ao contrário da Vila Barreiro Novo, comunidade formada por catadores de pequi no limite de Jardim e Barbalha, os moradores da Chapada do Araripe entre Crato e Nova Olinda evitam vender pequi de outros estados, como Maranhão e Tocantins. "A gente não faz isso, porque trazem muito caro aqui pro Crato. Aqui nós apanhamos quando cai do chão. Lá, derruba de vara e chega aqui com talo muito grande. O daqui é mais carnudo e apanha maduro. Aqueles de lá nem descasca", descreve Cícero. Apesar de comum, o pequi se tornou uma alternativa de sobrevivência há pouco tempo na Chapada do Araripe. O sítio Zabelê, por exemplo, às margens da rodovia, foi criado a partir da chegada de muitos moradores de Exu, que viram no fruto uma fonte de renda. "Aqui começou com quatro famílias, hoje são 72", conta o agricultor José Taveira da Silva, um dos primeiros a trabalhar com extrativismo. "Não tinha essas barracas. A gente colocava era nos baldes os centos", completa. Hoje, ele vê com preocupação a situação dos pequizeiros. "A árvore está morrendo. Vai chegar um tempo de ficar raro, porque ninguém planta", acredita.