Artistas participam de ciclo cultural

Artistas, estudiosos e a comunidade se reúnem em torno dos brincantes

[caption id="attachment_126933" align="alignleft" width="300"]14 DE ABRIL DE 2016 - OS MESTRES DA CULTURA DO CARIRI RELATAM NAS RODAS DE CONVERSAS AS SUAS EXPERI  - REGIONAL - 17re0936  -  ELIZANGELA SANTOS Durante os diálogos, a conversa é entrecortada com a poesia das ruas, ou mesmo o som dos instrumentos que têm as suas experimentações[/caption] Atividades se estendem até o próximo dia 28, quando são compartilhados saberes de mestres da tradição por Elizangela Santos - Colaboradora Durante os diálogos, a conversa é entrecortada com a poesia das ruas, ou mesmo o som dos instrumentos que têm as suas experimentações Crato. Os mestres da cultura do Cariri compartilham suas experiências até o próximo dia 28, durante ciclo de encontros e partilha de saberes de mestres da tradição, realizado por meio do projeto Territórios Criativos, que vem sendo realizado desde o ano passado em municípios da região. São mais de 90 grupos de tradição nas cidades de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, catalogados por meio de mapeamento do projeto, da Universidade Federal Fluminense (UFF), do Rio de Janeiro, e a Universidade Federal do Cariri (UFCA), com apoio do Ministério da Cultura (Minc). Alguns deles, emblemáticos nas suas áreas, foram escolhidos para participar das rodas de conversa. Artistas, estudiosos e a comunidade se reúnem em torno dos brincantes. Eles levam seus instrumentos e indumentárias. Relatam suas necessidades e dificuldades para manter resistindo a cultura local. Os mestres falam da falta de apoio do poder público e da realidade de manter a tradição do longo do tempo, passando para as próximas gerações o legado. O coordenador do projeto territórios Criativos, no Cariri, professor Renato Dantas, afirma que essa é uma das últimas ações do projeto, que vai culminar com a elaboração de um livro, contendo históricos dos grupos e depoimentos dos mestres da cultura. Durante os diálogos, a conversa é entrecortada com a poesia das ruas, ou mesmo o som dos instrumentos que têm as suas experimentações, formas de confecção das vestimentas do reisado, espadas, explicitados pelos membros dos grupos. "Uma das coisas que tem surpreendido é a criatividade, na reciclagem de materiais para compor os seus instrumentos e indumentárias", afirma. Elaboração Dantas relata, por exemplo, que nas comunidades há verdadeiros ateliês onde se trabalha a confecção de todas as roupas e adereços para esses grupos de tradição. Um medalhão que chamou a sua atenção, em uma espada de brincante, veio do lixo. "Era a marca de uma roupa de grife", diz ele, admirado com a forma inteligente de elaboração desses instrumentos ao mesmo tempo em ressalta o quanto ainda há de desconhecimento das pessoas em relação ao trabalho desenvolvido pelos grupos. Segundo o professor, as informações serão trabalhadas e sistematizadas numa grande publicação, pela UFF, que coordena o projeto Territórios Criativos. Essas informações, segundo ele, serão uma forma de resgatar a construção desses grupos dentro do território. Serão finalizados quatro filmes, curtas-metragens, sobre cada uma das funções, que incluem os reisados, bacamarteiros, banda cabaçal, maneiro pau e dos mateus. Ele afirma que uma das coisas que foi notada nos mestres é o ressentimento de alguns em relação a templos católicos. Nos espaços sagrados do Juazeiro existe uma resistência em relação aos grupos e muitos já foram expulsos desses locais. "Os que fazem as bandas cabaçais são promotores da vivência do sagrado", afirma. Bênção A visita ao divino, queima de lapinhas, são realizadas pelos componentes dos reisados. "Quando eles compram roupas novas vão ao Padre Cícero e Nossa Senhora, para que sejam bentos", afirma o professor, ao destacar que é preciso ter muita atenção com isso. "Na verdade, se está sentido uma tristeza muito grande na fala deles, por conta dessa não aceitação", diz. Apoio Renato Dantas afirma que, diante dessa realidade, alguns trabalhos já foram realizados com instituições, para que olhem essa tradição como complemento do seu trabalho, como na casa, os templos religiosos. Os grupos se ressentem pela falta de apoio dos poderes públicos. As três cidades acabam usando os grupos com o cartão postal da cidade, a cultura mais importante, e não há um retorno para os grupos. "É preciso uma atenção com a cultura de tradição e as políticas são muito tímidas. Precisam ser mais efetivas para que os grupos tenham satisfação", diz ele. Continuidade O mapeamento do projeto ainda vem sendo trabalhado e Renato Dantas afirma que é uma quantidade muito grande de grupos para que fiquem à margem das políticas públicas das três cidades. Outro aspecto ressaltado tem sido o processo de continuidade dos grupos. Para o coordenador do projeto no Cariri, no núcleo do CraJuBar as novas gerações estão codificando uma realidade e incorporando melhor os grupos, com o que ele chama de riqueza possuidora. Um desses exemplos tem sido a grande quantidade de reisados mirins que existe nos três principais municípios da região. Ele destaca a valorização das crianças dos reisados e bandas cabaçais e a repercussão desse trabalho na comunidade. O lançamento do resultado desse trabalho acontece em junho, com o II Encontro de Cultura da região. Na ocasião, a produção que vem sendo realizada será apresentada à sociedade, como as oficinas de escultura e cordel. Há também o projeto que destina vestimenta para três grupos de reisados e dois de banda cabaçal. Serão contempladas as três cidades e o critério maior é a necessidade dos grupos, para renovar os seus uniformes.

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