Cariri recebeu 95% do clero da Arquidiocese de Maceió

Demontier Tenório

Padres, diáconos e até o Arcebispo da Arquidiocese de Maceió, Dom Antonio Muniz, estiveram na região do Cariri participando de um retiro durante toda a semana que passou. A assessoria foi do Bispo Diocesano do Crato, Dom Fernando Panico, reunindo cerca de 80 clérigos alagoanos. Sob o título “Retiro Abençoado”, o Cônego José Everaldo R. Filho, enviou o seguinte artigo à redação do Site Miséria com pedido de divulgação:        

         “Passamos um retiro abençoado no Crato. Uma participação de 95% do clero da Arquidiocese de Maceió, padres, diáconos e nosso Arcebispo. Foi num centro de formação na cidade em um pé de serra. Um lugar místico de oração, silêncio e recolhimento. O pregador foi dom Fernando Panico, um bispo acolhedor, feliz com seu ministério, feliz com sua diocese a qual batizou de "Igreja missionária e romeira".        

 Dom Fernando, não nos acolheu com alegria por sermos padres. É a mesma atitude que toma ao receber todos que vão ao Juazeiro. Todos os romeiros levam na memória e no coração seu sorriso, sua alegria e sua palavra carregada de Deus. Foi a mesma impressão que nós padres trouxemos conosco.       

Foram dias de reflexão e oração intensa. Foi também dias de confronto com a Palavra de Cristo. Passagens bíblicas que nos deram força de ânimo para continuar nossa missão, superando nossos momentos de crise, de dúvida, de mágoa e de decepção.       

Como foi bom caminharmos pelo chão sagrado da cidade do Juazeiro, pisado pelas sandálias de tantos romeiros que buscam a bênção e luz do padre Cícero e da Virgem das Dores. Nossa Senhora que representa as dores e angústias do povo nordestino. Como foi emocionante celebrarmos na Basílica de Nossa Senhora das Dores e Capela do Socorro, esta última onde se encontram os restos mortais do padre Cícero.       

Tive a alegria de ouvir o bispo do Crato chamar Padre Cícero de Patriarca do Nordeste, escorreu uma lágrima de meus olhos por ver ali sepultado um padre que viveu para servir o povo humilhado e sofredor. Padre Cícero viveu a amargura de ser perseguido e odiado por alguns bispos e padres do seu tempo. Até hoje motivo de cizânia e conflito. Por causa deles morreu suspenso de ordem, sem poder exercer seu ministério sacerdotal ao qual Deus o chamou. Porém, Deus possibilitou que Padre Cícero servisse aos pobres como prefeito do Juazeiro e vice governador do Ceará. Deus abriu uma brecha num muro de preconceito no qual queriam enjaulá-lo.

No momento de sua morte foi uma comoção enorme, o povo chorando a perda de seu pai e protetor. A multidão leva seu o caixão, cantando louvores e benditos, para a Igreja construída por ele para ser a tumba da Beata Maria de Araújo (a beata do Milagre Eucarístico). Anos antes, num ato de violência brutal, na calada da noite, a mando do pároco da cidade profanaram a sepultura da beata, sumiram com seus restos mortais, na opinião dos profanadores era inconcebível uma negra, pobre e ignorante ser santa e ser venerada numa Igreja.       

Padre Cícero nunca se conformou com a violência, muito menos o povo que o via como guardião dos bons costumes do sertão. Num ato de rebeldia, o povo depositou na mesma Igreja, outrora profanada, o corpo maltratado do Padre Cícero que morreu cego, com dores enormes no ventre que não permitia que dormisse e se alimentasse. Oh! Bendita revolta do povo, quem se atreve hoje a profanar os restos mortais sagrados de meu Padrinho Cícero?        

Chorei quando lembrei-me desse episódio, somando meu grito mesclado a minha prece: "permita Senhor que Padre Cícero seja venerado como santo, na Igreja do Brasil e no mundo", “permita Senhor que ele seja um modelo para o clero do Brasil”, um santo incompreendido em seu tempo, mas venerado hoje nos rincões desse Nordeste sofredor.        

 Outra experiência marcante foi a visita a cidade de Santana do Cariri, onde conhecemos a historia da jovem adolescente Benigna Cardoso da Silva, com 13 anos morta a golpes de foice nos idos de 1941, por resistir heroicamente contra uma violência sexual. Um homem chamado Raul queria violentá-la, mas ela resistiu por amar a Jesus e querer guardar sua pureza intacta. Neste dia rezei: "bendito sejais Senhor pela santidade que semeasteem nosso Nordeste". Enquanto muitos acham que nesses rincões não se produz santidade Deus mostra que faz com seu divino Espírito brotar flores perfumadas no solo surrado do sertão”.