Terceiro dia do júri de Mizael Bispo recomeça nesta quarta-feira
Julgamento está sendo transmitido ao vivo pelo G1.
Do G1 São Paulo
O terceiro dia do julgamento do ex-policial reformado Mizael Bispo de Souza está previsto para começar às 9h desta quarta-feira (13) no Fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele é acusado de matar a advogada Mércia Nakashima, em maio de 2010. O G1está transmitindo ao vivo o júri de Mizael.
Neste terceiro dia, novas testemunhas arroladas pela defesa e pelo juízo deverão ser ouvidas no júri. Nos dois primeiros dias, sete testemunhas já deram seus depoimentos, com destaques para o irmão de Mércia, Márcio Nakashima, que foi ouvido na segunda-feira (11), e para o delegado Antonio de Olim, que falou ao júri nesta terça-feira. O interrogatório do réu está previsto para acontecer na quinta-feira (14).
O segundo dia de julgamento foi interrompido às 20h35 de terça-feira pelo juiz Leandro Bittencourt Cano, após a conclusão do depoimento do investigador Alexandre Simoni Silva, a quarta testemunha do dia e a sétima a ser ouvida no júri.
Antes do policial ouvido, prestaram depoimento nesta terça-feira o delegado que presidiu o inquérito que apurou a morte de Mércia Nakashima, Antonio de Olim, o advogado Arles Gonçalves Júnior, que foi indicado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para acompanhar o processo e representar o vigia Evandro Bezerra Silva, que será julgado como cúmplice do crime, e a corretora Rita Maria de Souza, a primeira testemunha de defesa e que trabalha em uma imobiliária embaixo do escritório de advocacia de Mizael.
No primeiro dia de julgamento, na segunda-feira (11), foram ouvidos os depoimentos do irmão de Mércia Nakashima, de um biólogo e de um engenheiro.
Depoimento delegado
O depoimento mais importante desta terça-feira foi o do delegado Antonio Assunção de Olim, que contou como suspeitou que o réu havia matado a advogada Mércia Nakashima, em maio de 2010. Ele foi o responsável por investigar o caso pelo Departamento de Homicídio e de Proteção à Pessoa (DHPP). “Eu não tenho dúvida nenhuma de que o Mizael matou a Mércia”, disse Olim no júri.
O depoimento começou às 9h20. Durante mais de cinco horas, o delegado falou sobre o percurso feito pelo réu no dia da morte de Mércia, com base no rastreador instalado no veículo. Segundo Olim, Mizael desconhecia o fato de seu veículo possuir um rastreador que foi instalado pela seguradora a pedido de Mércia.
O delegado falou também sobre ligações telefônicas feitas por Mizael e que, segundo o registro das antenas de telefonia, mostram que Mizael esteve em Nazaré Paulista, local onde Mércia foi assassinada em uma represa.
Mizael responde por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima). De acordo com a denúncia, Mizael matou a ex-namorada, então com 28 anos, porque ela não queria reatar o relacionamento.
O policial reformado nega ter matado Mércia e afirmou que passou a noite do crime com uma prostituta. A Promotoria, no entanto, diz ter provas que derrubam a versão do acusado, como o laudo que mostra que o sapato dele tinha alga compatível com as da represa de Nazaré.
O julgamento começou na segunda. O corpo de jurados é formado por 5 mulheres e 2 homens. Segundo o Tribunal de Justiça, trata-se do primeiro julgamento do país transmitido ao vivo.
Balanço do MP
Após o segundo dia do julgamento de Mizael Bispo de Souza, o promotor Rodrigo Merli disse acreditar que os jurados decidirão pela condenação do réu. " As testemunhas de defesa foram favoráveis para a acusação", disse. "A defesa fez um favor ao trazer uma testemunha de acusação, não de defesa", acrescentou, referindo-se ao policial civil Alexandre Simoni, arrolado pelos advogados de Mizael.
Para o promotor, a estratégia da defesa é trazer os profissionais que trabalharam na investigação do crime e "destruir" a reputação deles. "Mas não conseguiram."
Na quarta-feira deverão ser ouvidas outras três testemunhas da defesa e uma do juízo. A previsão é que o réu fale na quinta e o veredicto seja dado na sexta.
Os advogados de Mizael não deram entrevista após o segundo dia do júri. Eles disseram que só falarão com a imprensa no fim do julgamento.
Segundo dia
O delegado Antônio de Olim afirmou que Mizael não soube descrever as características da mulher com quem diz ter ficado por quatro horas naquele dia. “Ele não lembrava nem o nome nem a cor do cabelo”, disse o delegado. Segundo o delegado, uma mulher se apresentou dizendo ser a prostituta, mas depois foi à delegacia dizer que acreditava que o réu havia matado a advogada.
A polícia analisou na investigação cinco linhas telefônicas de Mizael e depois descobriu uma sexta. A análise das ligações mostraram que Mizael recebeu uma ligação da filha quando estava na região de Nazaré Paulista, às 21h20.
No confronto entre o relatório do rastreador e das ligações telefônicas, a polícia chegou a Evandro Bezerra Silva, vigia acusado de ajudá-lo a assassinar a advogada e de ir buscá-lo em Nazaré Paulista.
A constatação foi que Mizael se comunicou 16 vezes no dia do crime com Evandro. “Era um telefone frio usado só para falar com Evandro porque ele [Mizael] já estava planejando matar a Mércia”, disse Olim, respondendo aos questionamentos do promotor Rodrigo Merli.
Após o crime, Evandro fugiu e foi preso em Sergipe. O delegado afirmou que o vigia contou "tranquilamente" sobre o plano com Mizael. “Não tinha como falar que não era ele [Evandro]. O telefone dele não anda sozinho”, afirmou.
Durante a inquirição feita pela defesa o clima esquentou no plenário. A defesa tentou destacar ao longo das perguntas que o delegado entrou em contradições e que há falhas na investigação. Perguntou por exemplo se o delegado fez uma pesquisa dos clientes de Mércia e por que não apreendeu o rastreador do veículo de Mizael.
Um dos advogados de defesa, Ivon Ribeiro, chegou a afirmar que o delegado mentia. O promotor Rodrigo Merli então afirmou que Ribeiro era desleal. "O diabo é o pai da mentira. O senhor é amigo do diabo. Após a confusão, o juiz determinou que as perguntas da defesa deveriam ser feitas a ele, que então as repassaria ao delegado.
A segunda testemunha do dia foi o advogado Arles Gonçalves Júnior, que foi indicado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para acompanhar o processo e representar o vigia Evandro. Gonçalves Júnior afirmou em seu depoimento nesta terça que se ofendeu com afirmações do advogado de Mizael sobre fatos que teria esquecido de propósito. A polêmica fez o juiz Leandro Cano intervir novamente e pedir que as perguntas fossem feitas a ele, e então o juiz as repassaria à testemunha.
Após o advogado, a primeira testemunha de defesa a falar foi a corretora Rita Maria de Souza, que trabalha em uma imobiliária embaixo do escritório de advocacia de Mizael. Ela disse que Mizael e Mércia tinham um bom relacionamento e que Mizael ajudou bastante Mércia, inclusive cedendo clientes. Neste momento, a família de Mércia mostrou indignação. Janete Nakashima, mãe de Mércia, deu um riso irônico. Uma jovem ao seu lado acrescentou, em voz baixa: "Que absurdo".
Após esse depoimento, falou energia no plenário, e a sessão foi interrompida por pouco mais de trinta minutos.
No retorno, o investigador Alexandre Simoni Silva contou como chegou a uma linha que era usada por Mizael e que ele teria utilizado no dia da morte de Mércia para se comunicar com Evandro, segundo a investigação. O número foi descoberto pela análise das contas de telefone de Mércia, que chegou a ligar para a linha após tentar os outros números que pertenciam a Mizael. Falou também sobre as conclusões do rastreamento do veículo de Mizael.
O investigador, inclusive, disse que foi graças à descoberta deste aparelho "celular frio" de Mizael que foi confirmada a participação de Evandro no crime. "Esse número (de celular) que nos possibilitou chegar ao Evandro. Não sabíamos quem era ele", disse Silva. Segundo ele, no dia 23 de maio de 2010, Mizael fez 16 ligações para Evandro utilizando o aparelho e recebeu outras três do vigia no mesmo dia. "A única exceção é uma ligação às 21h21 da filha dele (de Mizael)", explicou.
Primeiro dia
No primeiro dia de julgamento, nesta segunda-feira (11), foram ouvidos os depoimentos do irmão de Mércia Nakashima, de um biólogo e de um engenheiro. Durante quatro horas, Márcio Nakashima alinhou os argumentos que sustentam sua desconfiança em relação a Mizael , que ele o descreveu como possessivo. "No início era um relacionamento normal. Depois ele se transformou, virou um sujeito possessivo", afirmou
Também foram ao plenário nesta segunda o biólogo Carlos Eduardo de Mattos Bicudo que apontou indícios de que Mizael esteve na represa onde o corpo de Mércia foi encontrado. Com mestrado em Michigan e doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) em taxonomia de algas, Bicudo analisou as lâminas com restos de sedimentos do sapato e do tapete do carro de Mizael. Para o especialista, trata-se de uma alga aquática e subaquática que exige substrato (rochas, plantas) para se fixar. "Tudo indica a presença dele [Mizael, na represa]", afirmou.
O terceiro a falar na segunda-feira foi o engenheiro Eduardo Amato Tolezani que apresentou, em projeção na parede do plenário do Fórum de Guarulhos, a metodologia usada na análise das ligações feitas pelo celular de Mizael e do posicionamento do carro do réu na noite do crime.
Após os depoimentos das testemunhas de acusação, as testemunhas de defesa serão ouvidas. Em seguida Mizael será interrogado. Por fim, acusação e defesa vão expor seus pontos de vista, e os jurados se reunião na sala secreta para decidir.
O caso
Mércia Nakashima foi vista pela última vez com vida em 23 de maio de 2010, após sair da casa dos pais, em Guarulhos (SP). Depois de vários dias de investigação e buscas, bombeiros encontraram, no dia 10 de junho de 2010, o carro da vítima – um Honda Fit prata – no fundo de uma represa em Nazaré Paulista, vizinha a Guarulhos.
Na manhã seguinte, o corpo de Mércia foi localizado. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) indicou morte por afogamento em 23 de maio, depois da vítima ter sido baleada de raspão no rosto e nas mãos e sofrer um desmaio.
À polícia, um pescador afirmou que, em 23 de maio, quando se preparava para pescar na represa, viu um carro ser abandonado na água. Ele contou que ouviu gritos antes do veículo submergir e que no local estava um homem alto, cuja face não conseguiu enxergar.
Com o inquérito concluído, a Justiça pediu a prisão de Mizael, ex-namorado da vítima, e do vigilante Evandro Bezerra Silva, que teria encontrado com o suspeito na noite do crime e, posteriormente, tentado vender informações sobre o caso para a família da vítima. Dias depois, no entanto, a decisão foi revogada e ambos puderam responder o processo em liberdade.
O vigia Evandro Bezerra Silva, que também é réu do caso, só será levado a julgamento no dia 29 de julho.
Conheça as principais provas reunidas pela acusação e o que alega a defesa de Mizael:
Laudo mostra que foram feitas pelo menos seis ligações para o celular de Mizael. Exame identifica que, pelas Estações Rádios Bases (ERbs) é possível indicar que o ex-namorado de Mércia estava perto saindo de Nazaré Paulista e indo para Guarulhos perto do horário em que a vítima foi morta em 23 de maio de 2010. O que diz a defesa - alega que nesse dia as ERBs estavam congestionadas e deslocaram a chamada para o telefone de Mizael para outras antenas mais distantes.
RASTREADOR DO CARRO
Laudo demonstra que Mizael circulou ao redor da casa de Mércia e que veículo dele ficou parado das 18h37 às 22h12 no estacionamento de um hospital em Guarulhos no horário do crime. Para a acusação, o ex havia ido com Mércia no carro dela para Nazaré nesse horário. O que diz a defesa: alega que Mizael estava com uma garota de programa nesse horário e que o rastreador estava com problema.
ALGA NO SAPATO
Biológo detectou que alga achada no sapato de Mizael é compatível com a encontrada no fundo da represa de Nazaré Paulista, onde Mércia foi morta. O que diz a defesa: a alga existe em qualquer lugar úmido. Portanto não dá para concluir que seja exclusiva da represa.
SANGUE NO SAPATO
Exame não é conclusivo para saber de quem é material genético, mas indica que a substância é humana. O que diz a defesa: resultado é inconclusivo.
PARTÍCULAS DE OSSO
Estilhaços de material que seria osso humano foram achados no calçado e veículo de Mizael. Quando Mércia foi baleada, teve fratura nos ossos da face e da mão. O que diz a defesa: resultado é inconclusivo.
PARTÍCULAS DE LATÃO
Parte de material metálico, que seria de bala, foi encontrada no calçado e veículo de Mizael. Acusação suspeita que seja parte das balas que atingiram Mércia. O que diz a defesa: resultado é inconclusivo.
Os advogados Samir Haddad Júnior e Ivon Ribeiro, que defendem Mizael, contestam as provas apresentadas pela acusação. “Não há nada no processo que coloque Mizael na cena do crime”, disse Haddad Júnior. "E isso será provado diante dos jurados".
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