Seca e queimadas destroem pastagens e leite e derivados ficam mais caros para os consumidores

Falta de chuvas, pastagens menos, os animais ficam com restrição alimentar e há queda na produção do leite

Produtores de leite sofrem com a seca no Espírito Santo — Fotos: Reprodução/TV Gazeta

Por g1ES - 27/10/2024 04h00  Atualizado há 7 horas

A situação deve ser amenizada com a expectativa de chuvas para os próximos 15 dias, de acordo com os serviços de informação meteorológica.

Os produtores de leite de todo o Espírito Santo estão sofrendo com a falta de chuva e as consequências das queimadas que atingiram o estado nos últimos meses. Os pastos estão secos, o capim mal nasce e há pouca água disponível para os animais.

Com isso, o gado perde peso e produz menos leite, impactando não apenas a pecuária e a produção leiteira, mas também o bolso do consumidor final, que está comprando leite e derivados com preços mais elevados.

Segundo o presidente da Associação de Criadores e Produtores de Gado de Leite do Espírito Santo (ACPGLES), Fábio Pagung, o leite chegou a aumentar até R$ 1,20 o litro para o consumidor final.

A situação deve ser amenizada com a expectativa de chuvas para os próximos 15 dias, conforme os serviços de informação meteorológica.

A Secretaria de Estado da Agricultura (Seag) explicou que a falta de chuvas no período de inverno e a redução da quantidade de horas de luz por dia afetam a produção das forrageiras, principalmente as pastagens, que formam a base alimentar dos bovinos. Essa seca afeta a produção de leite e carne nesta época do ano.

Com a falta de chuvas, essas pastagens ficam com menores quantidades de nutrientes e, consequentemente, os animais ficam com restrição alimentar e há queda na produção. Como consequência, o estado pode ter menor oferta de produtos no mercado, o que faz com que os preços tendam a aumentar.

Prejuízos

Na propriedade do Luciano Maitan, em Itapemirim, no Sul do estado, a base da alimentação do gado leiteiro tem sido a cana-de-açúcar triturada, que depois é misturada a outros insumos para sustentar os animais. A estratégia é usada por causa da seca. O pasto quase não tem capim.

"O gasto maior hoje é alimentado com ração concentrada, polpa cítrica e cana. A prefeitura doa pra gente um farelo que ajuda bastante, mas falta complementar muito ainda", declarou o produtor rural.

Também em Itapemirim, o produtor rural Gabriel Freitas conta que os agricultores estão passando por dificuldades financeiras, já que o preço do leite não subiu de forma proporcional ao aumento dos custos da produção.

"Este ano, assim como foi em 2022, está sendo um desafio muito grande. Por mais que haja rea-justes no valor do leite devido à baixa produção no momento, ainda assim se torna complicado, porque os insumos sobem muito. Não consegue ser sustentável, porque o preço melhora, mas o insumo também tem um aumento. Você fica na luta: precisa melhorar a produção, mas o insumo está caro, conta com o pasto, mas o pasto acaba. Se torna cada vez mais difícil", declarou o pro-dutor.

Na propriedade, Gabriel usa a silagem de milho, junto a produtos como a cana e a mandioca.

"A pastagem acaba, você tem que comprar o insumo. A silagem de milho ficou muito cara, acabamos não conseguindo manter isso, e procuramos a cana ou a mandioca. Porém, a rentabilidade não é grande, não consegue dar uma produção tão grande quanto a silagem. Lutamos para equili-brar o melhor possível a dieta. Conseguimos usar a cana, que é pobre em proteína, então temos que complementar com ureia ou soja, para balancear a alimentação do gado".

Norte do estado

A situação é a mesma no Norte do estado, no município de Linhares. O produtor Geraldo Butzlaff Filho se preparou durante todo o ano para ter insumos durante a seca. A alimentação do gado na propriedade dele é complementada com bagaço de cana.

"Eu pego o bagaço da cana que sobra, misturo ração no meio, com palha de café e ureia. Por incrível que pareça, as minhas vacas, comendo isso aqui, mantiveram o leite. Estão comendo palha de café, bagaço de cana e piquete irrigado. Também abasteço meus vizinhos com silagem de milho", explicou Geraldo.

Também em Linhares, o produtor Lézio Sathler explicou que usou a tecnologia e sistemas para a preservação ambiental e represamento da água na propriedade. A produção dele caiu quase pela metade, mesmo tomando esses cuidados.

"O gado, no período de seca, perde até 20% do seu peso. A produção de leite tem uma queda de até 40%, mesmo com os cuidados. Também aumentam os custos com irrigação, mão de obra e equipamentos", disse Lézio.

Extremos

Em Itapemirim, os produtores também sofrem com o excesso de água na área de cheias. "Tive-mos enchentes de dezembro a abril, e depois temos a falta de água. Os poços em que o gado bebe água, secam. No final de outubro, esperamos as chuvas para amenizar nosso sofrimento", declarou Luciano.

No entanto, nesta época, o problema tem sido as queimadas. De acordo com o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), as queimadas são proibidas nesta época do ano. "De abril a outu-bro, não existe autorização para queimadas. Por conta, exatamente, da condição climática. É um clima mais seco, por isso não é autorizado o uso do fogo", pontuou Eduardo Chagas, diretor técnico do Idaf.

Nos outros meses, é permitida a queima controlada, desde que com autorização do Idaf. O técnico do órgão vai até a propriedade, verifica se há condições de fazer o uso do fogo e emite a autorização.

"Isso é feito de forma muito organizada para que não se tenha um desastre, uma queima que se alastre e cause danos à vegetação", explicou Eduardo. A previsão é de que a chuva só chegue no final de outubro.

https://g1.globo.com/es/espirito-santo/agronegocios/noticia/2024/10/27/seca-e-queimadas-destroem-pastagens-e-leite-e-derivados-ficam-mais-caros-para-os-consumidores.ghtml