Defesa pede condenação "justa" para Macarrão e diz que ele era "serviçal"

Leonardo Diniz apresentou argumentos durante júri do caso Eliza Samudio.

O advogado Leonardo Diniz, que defende o réu Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, no júri do caso Eliza Samudio, pediu aos jurados uma "reprimenda justa" para seu cliente. O defensor pede que Macarrão seja absolvido dos crimes de sequestro, porque não teria participado, e de ocultação de cadáver, porque não saberia o que foi feito do corpo. O apelo foi feito durante a argumentação da defesa nos debates do julgamento, na tarde desta sexta-feira (23).

"Seja aplicada uma condenação, uma reprimenda, segundo o que entenderem da participação dele nesses fatos, mas que essa reprimenda seja justa, que seja proporcional", disse Diniz. Ele começou a argumentação da defesa às 15h06 desta sexta-feira, e encerrou às 16h18.

O advogado ainda disse que Macarrão era apenas um "serviçal" do goleiro, e que cumpria ordens de Bruno.

"Quero que vossas excelências analisem a relação entre um serviçal e um ídolo de futebol", disse ele, referindo-se ao atleta. Diniz ainda lembrou que, durante seu depoimento, Macarrão afirmou ter tentado argumentar sobre o desaparecimento Eliza: "Vai acabar com a sua carreira", disse ao goleiro.

Diniz recorda-se do que foi dito pelo goleiro, segundo o depoimento de Macarrão: "É para fazer eu estou mandando. Aí ele se submete, adere a essa vontade. Sai, pega Eliza e leva até o lugar, com a imaginação dela de que ela iria ao apartamento".

Provas
Diniz questionou as provas trazidas pela Promotoria e tentou desqualificar os depoimentos dos primos do goleiro Bruno Fernandes, Jorge Luiz Rosa e Sérgio Rosa Sales. A estratégia de mostrar os primos como desafetos de Macarrão teve como objetivo se contrapor à Promotoria nos debates entre defesa e acusação durante o julgamento.

No seu tempo reservado à acusação, o promotor Henry Wagner de Castro apresentou uma série de provas que indicam que Macarrão e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foram os executores de Eliza em 10 de junho de 2010. Segundo o Ministério Público, o goleiro seria o mandante da morte de sua ex-amante. Diniz discorda desta versão.

"Sérgio não gostava do Luiz Henrique . Já viu desafeto seguir ordem de desafeto?", disse o advogado, referindo-se ao depoimento de Jorge em que ele aponta o outro primo de Bruno como responsável por vigiar Eliza no sítio do goleiro enquanto ela era mantida em cárcere privado.

"Eliza chama o menor de filho da p... E já voltado para a criminalidade, envolvido com traficantes, envolvido com drogas, entra em luta corporal com Eliza Samudio. E aí ele descreve, uma delas atinge Eliza que começa a sangrar (...) Arma de fogo nunca foi achada, nunca foi encontrada", disse o advogado. Diniz afirma, inclusive, que Macarrão tentou conter Jorge.

Argumentos da acusação
O promotor Henry de Castro apresentou uma série de provas como argumentos da acusação durante o julgamento do caso Eliza. Elas incluem registros de telefonemas realizados pelos réus, como Macarrão e Fernanda de Castro, ex-namorada do goleiro Bruno Fernandes; um laudo do sangue de Eliza achado no carro do atleta; e os depoimentos dos primos do atleta dados à polícia, que dão detalhes sobre a morte da ex-amante do goleiro.

A fase de debates no julgamento começou às 11h35, e a acusação terminou sua fala ás 14h10. De acordo com Castro, as provas mostram os passos de Eliza até a morte, em junho de 2010, desde o Rio de Janeiro até Minas Gerais, para onde ela foi levada. O laudo do sangue de Eliza encontrado no carro do goleiro Bruno atesta que ela "foi violentada, agredida, subjugada, foi levada ao interior da casa do goleiro no Recreio dos Bandeirantes", no Rio de Janeiro, de acordo com o promotor.

Do Rio, Eliza foi trazida para Minas Gerais, "onde Bruno e sua turma poderiam dar cabo da vida dela com mais facilidade", disse o promotor. Castro afirmou que Eliza foi atraída por uma proposta "hipócrita" do goleiro para a viagem que terminou com sua morte.

A ex-amante dizia a amigos que o goleiro a "estava enrolando", relatou o promotor. "Ela passou a realizar insistentemente ligações para o réu", disse.

Ligações
A Promotoria apresentou aos jurados os registros de telefonemas do celular de Macarrão, amigo de Bruno e também réu no processo. Uma ligação é feita em 4 de junho de 2010, às 20h40, do celular de Macarrão para Eliza. "Era a proposta para que ela fosse ao encontro do goleiro, que estava concentrado ", disse Castro.

A última ligação feita do celular de Eliza é para Belo Horizonte, cidade para a qual ela foi levada. Depois ela não teve mais acesso o telefone, segundo o promotor. "A partir daí são cinco dias sem uso do celular" até que a ex-amante seja morta, disse Castro.

Macarrão ligou seis vezes para o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em 10 de junho de 2010, dia em que Eliza foi morta, segundo o Ministério Público. Um dos telefonemas para Bola, que também é réu no processo, apontado como executor da ex-amante de Bruno, ocorreu às 20h22, hora em que Eliza foi levada para a morte, segundo a Promotoria.

Três pessoas estavam no carro que levava a ex-amante naquela hora: Macarrão, Jorge e outro primo do goleiro, Sérgio Rosa Sales, segundo o promotor. Eles passaram a seguir um homem que estava em uma moto rumo à casa do ex-policial na cidade de Vespasiano, também em Minas.

Ao chegar lá, na versão do promotor Bola deu uma gravata em Eliza e Macarrão chutou as pernas dela, para que ela perdesse o equilíbrio. "Ela ficou com olhos de sangue, segundo o relato do Jorge. A língua foi para fora, ela estremeceu um pouco mais e não se movimentou", disse Castro.

Papel decisivo
Macarrão teve um papel decisivo na morte da ex-amante do goleiro, na opinião do promotor. "Eliza não teria sido sequestrada nem morta se não fosse o poder exercido nos bastidores por este facínora. Não podia abalar a imagem de Bruno. Precisava do cara que mantinha a discrição", afirmou Castro.

Antes do cárcere e da morte, Bruno chegou a advertir sua ex-amante a não procurar a polícia ou ele a mataria, de acordo com o promotor, que relembrou o relato de Eliza após ela ter sido levada para Minas Gerais, em 2010.

"Nós vimos aqui o relato de Eliza, depois que ela foi levada a cativeiro (...) O goleiro Bruno, na época ainda goleiro, a advertiu expressamente a não procurar a polícia, pois se ela o fizesse, ele mataria a ela e providenciaria a morte de seus amigos e de seus familiares", disse o promotor.

Castro ressaltou ainda a convicção do Ministério Público de que o goleiro foi o mandante do crime de cárcere privado e morte da Eliza. "A Promotoria não precisava de uma confissão de Macarrão, existem provas". "Mas essa confissão é relevante, porque aponta que quem mandou, Bruno", disse.

Quinto dia de júri
O quinto dia de julgamento começou por volta das 11h30 desta sexta, após os depoimentos da ex-namorada do goleiro Bruno e de Macarrão, réus no processo de cárcere privado e desaparecimento de Eliza Samudio, que era amante do goleiro. A sentença dos réus pode ser proferida pela juíza Marixa Fabiane ainda nesta sexta-feira.

A sessão começou com mais de duas horas de atraso. O motivo foi a instalação de equipamento de áudio em uma sala de apoio à imprensa em um andar acima do plenário, de acordo com a juíza.

A fase dos debates pode durar até nove horas. Encerrada esta etapa, os jurados se reúnem em uma sala secreta para responder a quesitos formulados pela juíza, com resposta de "sim" e "não". Eles decidirão se os réus cometeram o crime, se podem ser considerados culpados e se há agravantes ou atenuantes, como ser réu primário. Os jurados podem permanecer na sala secreta o tempo que acharem necessário.

A juíza Marixa deve explicar os quesitos aos jurados e tirar todas as dúvidas. No novo procedimento do júri, os votos dos jurados não são todos contados para a própria proteção deles. Assim, se quatro dos sete jurados votarem pela absolvição, é encerrada a contagem, e não se sabe o que os demais votaram, e vice-versa.

De posse do veredicto (a decisão final dos jurados), a juíza dosa a pena com base no Código Penal, se houver condenação. Se houver absolvição, o réu deixa o tribunal livre. A sentença é lida a todos os presentes no Tribunal do Júri. A sessão deve ser encerrada à noite ou até na madrugada deste sábado (24).

Acusações dos réus
Macarrão é acusado por homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado e ocultação de cadáver. Já a ex-namorada do goleiro é acusada de sequestro e cárcere privado. Os outros três réus no caso tiveram o júri adiado e serão julgados em 4 de março de 2013 - o goleiro Bruno, sua ex-mulher, Dayanne Rodrigues, e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola.

Para o assistente de acusação José Arteiro Lima, Macarrão "merece uma pena bem menor que a do Bruno", após ter apontado o atleta em seu depoimento. "Bruno premeditou, planejou e mandou matar Eliza", disse. Já o amigo do goleiro, na opinião do advogado, "era o jagunço do Bruno".

Lima disse que a acusação possui provas de que Macarrão esteve no local onde Eliza foi morta. "Os depoimentos do menor e do Sérgio provam que ele esteve na cena do crime", afirmou o assistente de acusação. "De inocente nesta historia, só tem a Eliza e o Bruninho."

Boato interrompe júri
Um boato divulgado nesta quinta-feira dava conta que o goleiro Bruno teria tentado suícidio dentro da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, Minas Gerais, mesma cidade em que o júri do caso Eliza está sendo realizado.

A notícia falsa causou tensão no fórum, onde o júri chegou a ser interrompido por cerca de 20 minutos pela juíza Marixa.

O boato foi desmentido pela Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais. Segundo a secretaria, o diretor-geral do presídio, Luiz Carlos Danunzio, confirmou que Bruno está bem. A secretaria disse que Danunzio chegou a ir até o pavilhão onde o atleta está para verificar seu estado de saúde. 

Bruno ficou 'decepcionado'
O advogado do goleiro Bruno, Lúcio Adolfo, disse que o atleta ficou "decepcionado" ao saber nesta quinta (22) das declarações dadas pelo réu Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, no julgamento do caso Eliza.

O defensor, junto com os advogados Francisco Simim e Tiago Lenoir, foi à Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, por volta de 11h30 contar a Bruno sobre o interrogatório de Macarrão, que terminou na madrugada desta quinta. " reagiu com tristeza, mas entendeu que Macarrão está pressionado", disse. Adolfo reforçou que o goleiro não chorou, mas "ficou chateado, decepcionado, pela amizade que existia entre os dois".

Macarrão relatou à juíza que não sabia o que iria acontecer com Eliza, mas que "pressentia" que a jovem seria morta. Ele afirmou ainda que alertou Bruno sobre o que podia acontecer, mas que o goleiro pediu para ele largar "de ser bundão". "Falou que era para deixar com ele", disse o réu antes de começar a chorar no plenário.

Em entrevista, o advogado Adolfo disse que quer incluir Macarrão como testemunha quando for realizado o novo julgamento do goleiro Bruno, no dia 4 de março de 2013. Na data, devem ser julgados também os outros dois réus no caso - Dayanne Rodrigues e o ex-policial Bola.

Júri de goleiro é adiado
Na manhã de quarta-feira, o julgamento de Bruno foi desmembrado e adiado para 4 de março de 2013, segundo decisão da juíza Marixa. O goleiro foi retirado do plenário para ser levado novamente para a penitenciária Nelson Hungria. Inicialmente, a magistrada havia anunciado que o novo júri ocorreria em janeiro, mas depois ela afirmou que é difícil conseguir jurados para compor o Conselho de Sentença no início do ano e que fevereiro tem poucos dias, em razão do Carnaval.

O adiamento foi concedido pela juíza a pedido da defesa de Bruno. O advogado Francisco Simim, que defendia o goleiro, apresentou um documento transferindo seus poderes a outro defensor, Lúcio Adolfo. Chamado de substabelecimento sem reserva de poderes, o documento pediu a substituição de Simim por Adolfo, que alegou não conhecer o processo para pedir o adiamento.

A juíza afirmou que "não obstante haver claras evidências de manobra, por outro lado também é verdade que o documento que foi apresentado a mim foi de substabelecimento", justificando sua decisão. "Estou acolhendo o pedido da defesa para conceder ao advogado prazo para o conhecimento do processo".