Estudo sugere que zika pode estar associada a outra condição fetal grave

Além de microcefalia, zika foi associada em estudo a caso de hidropsia fetal. Condição caracteriza-se por acúmulo de fluido em partes do corpo do bebê.

O vírus da zika (pontos pretos) em tecido humano numa imagem de microscópio eletrônico (Foto: Cynthia Goldsmith/CDC) Mariana LenharoDo G1, em São Paulo Além da provável associação com a microcefalia, o vírus da zika pode estar relacionado a outra condição grave: a hidropsia fetal. Um artigo publicado nesta quinta-feira (25) na revista "PLOS Neglected Tropical Diseases" relata o caso de uma gestante de 20 anos cujo feto, nascido morto, teve o vírus da zika identificado em amostras do córtex cerebral e em outros tecidos do corpo. O bebê tinha microcefalia e hidrospia fetal, uma condição grave que ocorre quando há acúmulo de fluido em duas ou mais partes do corpo do bebê. Ela pode causar inchaço do fígado, problemas respiratórios, falência cardíaca, inchaço geral, anemia, entre outros problemas. No caso do feto descrito no estudo, havia líquido no pulmão, tórax, abdômen e sob a pele. Este é o primeiro registro que indica que o vírus da zika pode estar relacionado a problemas fora do sistema nervoso central. A gestante foi atendida no Hospital Geral Roberto Santos, em Salvador. Exames de ultrassom feitos no segundo e terceiro trimestres da gravidez demonstraram microcefalia servera, hidranencefalia (quando há substituição do cérebro por líquido), calcificações no crânio e lesões destrutivas no cérebro. "O bebê tinha características que sugeriam infecção por zika, mas a gestante negou ter tido sintomas. É um quadro totalmente atípico", conta o médico Manoel Sarno, especialista em medicina fetal e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), um dos autores do estudo. Depois de o feto ir a óbito na 32ª semana de gestação, em janeiro, os especialistas fizeram uma avaliação por meio da qual encontraram o vírus nos tecidos fetais. O sequenciamento genético do material permitiu concluir que trata-se de um vírus com características similares às do vírus que circula no país. "Esses resultados levantam a preocupação de que o vírus possa causar danos severos aos fetos, levando à morte fetal, e pode ser associado com efeitos além dos vistos no sistema nervoso central", diz Albert Ko, professor da Escola de Saúde Pública de Yale que também participou da pesquisa. Cautela Os autores do estudo ressaltam que é preciso ter cautela ao interpretar o achado, já que trata-se de apenas um caso. “A gente tem que alertar que trata-se de um quadro atípico. Temos 80 casos atendidos no hospital e este foi o caso mais grave que eu tive. O comum é os bebês nascerem, irem para casa e serem amamentados”, diz Sarno. Os resultados, porém, sugerem que seja importante investigar com mais cuidado os casos de morte fetal relacionadas a outras condições além da microcefalia para verificar o papel do vírus da zika nessas situações, de acordo com o médico Antonio Raimundo de Almeida, diretor do Hospital Geral Roberto Santos e professor da UFBA. “Estamos tão ocupados em tratar os pacientes com microcefalia que podemos estar deixando de investigar os casos de aborto. Foi isso que nos despertou para alertar a comunidade científica sobre esse caso.” A pesquisa é resultado da parceria de pesquisadores brasileiros e americanos da Universidade Yale, da Universidade do Texas, da UFBA, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Hospital Geral Roberto Santos.

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