PANTICOLA - Construção do Canal do Riacho do Ouro ajudou na minha formação como ser humano

Tive participação na construção do canal como auxiliar do carpinteiro "Distico"

Crédito de imagem: Panticola, para o diariodocariri.com.br

CONSTRUÇÃO DO CANAL DO RIACHO DO OURO, UMA OBRA QUE AJUDOU NA MINHA FORMAÇÃO COMO SER HUMANO.

O riacho do ouro, com suas águas vindas do pé da serra, tornava-se uma ameaça constante aos moradores da Vila de Seu Paulo, umas moradas próximas do Centro da cidade construídas a sua margem, devido a derrubada da sua mata ciliar para retirada de areias para construção civil no município. A construção de um canal tornou-se imprescindível para a proteção daquelas moradas e das futuras.

O ano exatamente do começo da construção, não lembro. Só sei que começaram a recrutar os trabalhadores para iniciarem a grande obra.

O meu pai, Seu Zé Vieira, teve que viajar para Bahia a procura de emprego, pois por aqui não havia conseguido. Eu, como o mais velho dos homens da família, tive que abandonar os estudos para trabalhar com o objetivo de ajudar a minha mãe na criação dos meus outros irmãos e irmãs.

Eu tinha um grande amigo por nome de Francisco Emilson, conhecido por Distico, um carpinteiro famoso da cidade, onde fazia todo tipo de trabalho de carpintaria, desde escoramentos de grandes obras, móveis, a emadeiramento de residências. Ele, como bom profissional, já havia se alistado para trabalhar na obra. Vi no amigo a oportunidade de me engajar também na construção do canal. Falei com ele para que ele visse junto aos encarregados a possibilidade de uma vaga para mim, para que eu pudesse trabalhar sendo seu auxiliar. Ele falou com um dos encarregados que prontamente atendeu seu pedido e, a partir daí, passei a ser seu auxiliar.

A empresa encarregada da construção do canal do riacho do ouro implantou um fornecimento de alimentos para os trabalhadores, uma espécie de bodega, onde fornecia alimentos que seriam descontados no pagamento semanal.

Minha mãe sabendo disso e meu pai sem mandar um centavo lá da Bahia, pois até então não havia conseguido emprego, toda semana fazia a nossa feira no fornecimento. No sábado quando eu pegava a fila para receber o pagamento semanal o encarregado da obra chamava meu nome e dizia: sua mãe fez a feira de vocês e você ainda ficou devendo um resto para próxima semana. Resultado, não recebia nada e ainda estava devendo. Mas isso nunca me incomodou e nem atrapalhou meu rendimento no trabalho, pois sabia que a minha mãe estava correta e eu via os olhos das minhas irmãs e meus irmãos brilharem satisfeitos com a alimentação.

E assim foram vários meses sem troco, com raras exceções, até a conclusão da primeira etapa da construção do canal do riacho do ouro, uma experiência muito proveitosa para minha formação como ser humano.

Escreveu: Francisco Demontier dos Santos Vieira (Panticola)