Terezinha é desclassificada e ironiza: "Delicado correr contra homem"
Clegg e Terezinha correm com seus respectivos guias
Brasileira chega em quarto nos 100m T11, prova vencida pela britânica Libby Clegg, que na semi chegou a ser desclassificada por supostamente ter sido puxada pelo guia Por Amanda Kestelman e Helena RebelloRio de Janeiro Foram anos imaginando uma noite histórica no Rio de Janeiro. Afinal, Terezinha Guilhermina era a cega mais rápida do mundo, dona até então de seis medalhas em Paralimpíadas, e teria a força da torcida em casa. As razões para acreditar no sonho do bicampeonato dos 100m, no entanto, esbarraram em duas adversárias no auge da forma. Campeã em 2012, a brasileira foi superada pela britânica Libby Clegg (11s96) e pelas chinesas Guohua Zhou (11s98) e Cuiqing Liu (12s07). Não bastasse o amargo quarto lugar, a brasileira ainda foi desclassificada. - Eu acho que quem assistiu a prova, tem imagens. Acho que dá para falar melhor que eu sobre esse assunto. É uma situação delicada ter que competir contra homens. Não é uma situação justa. Em outras competições, fora do Brasil, não foi assim. A gente teve situações que teve atleta desclassificada porque o guia entrou na frente, puxou. Infelizmente, aqui no Brasil, as regras são diferentes. Nessas Paralimpíadas mudaram as regras na última hora e eu não sabia. Se eu soubesse que teria que correr contra homens teria me preparado de um jeito diferente - disse, revoltada. Libby, a campeã, por pouco sequer disputou medalha. Nas eliminatórias, ela havia sido desclassificada sob alegação de ter sido puxada pelo guia. O Comitê Paralímpico Britânico, no entanto, teve seu recurso aceito, e a atleta foi mantida na final, e o tempo que havia cravado (11s91) foi homologado como novo recorde mundial da classe T11, para cegos. Descrição da imagem: Clegg e Terezinha correm com seus respectivos guias (Foto: Marco Antonio Teixeira/MPIX/CPB) Descompensada ao passar pela zona mista, área onde os atletas concedem entrevista para a imprensa, Terezinha mostrou-se revoltada. Repetiu diversas vezes, em alto e bom som: "É injusto". Rafael Lazarini, o guia que a acompanhou na prova, fez o possível para acalmá-la antes que se manifestasse oficialmente diante da imprensa. Quando falou, Terezinha disparou sobre a participação da britânica na final. Àquela altura, Terezinha ainda não sabia, mas sua própria desclassificação, ironicamente, se deu pelo mesmo motivo: ter sido puxada pelo guia. O fim do reinado de Terezinha começou a se desenhar no Mundial de Doha, no ano passado.Na ocasião, ela não passou à final dos 100m e ficou com a prata nos 200m e 400m. O mau rendimento gerou o rompimento com o guia Guilherme Santana, que há acompanhava há anos e de quem era muito amiga. O clima entre os dois, atualmente, não é nada amistoso. Descrição da imagem: Terezinha corre com o braço esticado (Foto: Marcio Rodrigues/MPIX/CPB) Guilherme, que agora corre ao lado de Jerusa Santos, não passou à final. Nas eliminatórias, Terezinha até fez seu melhor tempo no ano (12s10), mas ficou atrás das demais adversárias. Clegg cravou 11s91, tempo um décimo mais baixo que o até então vigente recorde, pertencente a Terezinha. Liu Cuiging correu 11s96, marca também nunca alcançada pela brasileira - cujo melhor tempo da vida é 12s01. Mesmo diante dos números, Terezinha não se deu por derrotada. Seguiu enfatizando a suposta vantagem indevida da britânica e ignorou que outras duas adversárias chinesas também foram mais velozes. - O guia está comigo do meu lado. Não tem como passar da minha frente. Não sei correr puxada. Eu não preciso, eu treino como atleta, sou atleta. Diante dessas situações todas, me considero como sendo minha principal adversária ainda.Com marcas que fiz na eliminatória, seria campeã nas últimas edições na Paralimpiada - disse a brasileira, esquecendo-se que o tempo que lhe rendeu o ouro em Londres 2012 foi 12s01, nove centésimos mais rápido que o feito na eliminatória no Rio. [caption id="attachment_130855" align="alignright" width="300"] IZABELA CAMPOS É BRONZE NO LANÇAMENTO DE DISCO[/caption] O Brasil ainda ganhou mais uma medalha na noite desta sexta-feira. No lançamento do disco classe F11, para atletas cegas, Izabela Campos ficou com a medalha de bronze. Ela conseguiu no Engenhão a melhor marca de sua carreira, com 32,60m alcançados. Uma dobradinha da China completou o pódio, com Liangmin Zhang (ouro, 36,65m) e Hongxia Tang (prata, 35,01m). Descrição da imagem: Izabela Campos no momento em que lança o disco no estádio (Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB) O terceiro lugar do pódio foi celebrado pela brasileira. Izabela contou que entrou no atletismo, inicialmente, para perder peso e se movimentar. Depois de um período nas provas de pistas, acabou migrando para o campo onde tinha mais chance de render. - Procurei ficar muito centrada. Tentar focar nas coisas boas, no que o professor estava falando. Não pensar no meu redor. Manter mais firme para executar a técnica. E consegui - vibrou a brasileira.
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