Conheça a história do casal Ed Couto e Amanda Sombra, que transforma o couro em arte
Hoje é comemorado o Dia de São José, padroeiro do Ceará e dos artesãos. Na Art Zion, os dois perpetuam técnicas e conhecimentos adquiridos com outros mestres
Ed Couto e Amanda Sombra trabalham na própria casa, acompanhados do filho, Zion Helene Santos
Por Lívia Carvalho
O Ceará é terra do artesanato, da criatividade e do trabalho manual. Nesta quinta-feira (19), é celebrado o Dia de São José, padroeiro do Estado e também dos carpinteiros e artesãos. Não por menos, a data também é conhecida como o Dia Nacional do Artesão. Para comemorar, o Verso conversou com Ed Couto que, há 17 anos, ao lado da mulher, Amanda Sombra, produz artesanalmente artigos em couro, a exemplo de carteiras, bolsas, porta-copos e até banquetas.
A história dos dois, entretanto, começa um pouco antes, quando se conheceram no Ensino Médio, em Ipiaú, no interior da Bahia, Estado natal de Ed, 38 anos. Já Amanda, 37, é cearense, mas foi morar lá para ajudar um irmão que estava doente.
"A escola que a gente frequentava à época incentivava a arte, começamos então a fazer e gostamos". Lá, Ed teve a oportunidade de conhecer um artesão chileno que o ensinou algumas técnicas. O encantamento com a produção foi tanta que ele nem prestou o vestibular.
Bolsa em couro produzida pela Art Zion Gustavo Ribeiro
Bolsa em couro produzida pela Art ZionGustavo Ribeiro
Antes de trabalharem com o couro, o casal fazia artesanato estilo hippie, tramavam o macramê e utilizavam materiais como o metal. Percorreram o Brasil na busca de aprimorar as técnicas e aprender mais sobre a cultura de cada região do País. Para isso, na época, Amanda teve de abandonar a faculdade de Filosofia e o emprego como professora em busca desse sonho.
"A minha escolha pelo artesanato foi devido às experiências que eu tive como professora, por causa de todos os déficits que já havia no ensino público, isso por volta de 2003 e 2004", conta Amanda. Na época, ela já vendia peças de artesanato para ajudar na renda.
"Se deu principalmente também porque eu entendo que nós temos um papel social com o artesanato, nós temos o entendimento de que viver com aquilo que você produz não é só uma filosofia de vida. Esse processo do manual de deixar a pessoa levar um pouco da nossa energia e muito da nossa dedicação. Foi isso o que nos encantou", declara a artesã.
Ed explica que saíram em viagem "porque queríamos conhecer o Brasil, a cultura, as técnicas de artesanato de cada região e as formas como trabalhavam o couro. Fomos atrás de conhecer mestres de todo o País para aprender".
Vendo o potencial da matéria-prima e a baixa concorrência, o casal abandonou as outras técnicas, bem como o nomadismo por uma razão muito especial, o nascimento do pequeno Zion, de 8 anos, que dá também o nome à marca.
Depois de muito rodar, a dupla firmou-se no Ceará, onde encontrou tratamento para a alergia à proteína do leite do menino. Atualmente, eles moram na Praia de Iparana, em Caucaia, endereço que abriga o ateliê da família. O menino, imerso nesse universo criativo, já dá os primeiros passos no artesanato com a produção de pulseirinhas de sementes e de plástico, artigos mais simples.
PRODUÇÃO
Os processos de feitura consistem em um trabalho inteiramente manual e sem o auxílio de máquinas, desde o corte à costura. O modelo de vendas é tanto a pronta entrega quanto por encomenda, já que os artesãos costumam produzir artigos personalizados, com desenhos ou cores da preferência do cliente. "A ideia é que o acessório imprima a personalidade de cada pessoa", explica Ed.
Entre os artigos mais vendidos estão as carteiras, que levam pelo menos dois dias para ficarem prontas, e as bolsas, cuja feitura dura cerca de seis dias. "A produção de uma carteira, por exemplo, leva dois dias, porque tem o corte, a impermeabilização do couro, que precisa de 24 horas pra secagem, a pintura e a textura", afirma.
Os processos de produção são todos manuais e ricos em detalhes Helene Santos
Com um estilo mais cosmopolita e contemporâneo, o catálogo de produtos oferece carteiras de tamanho compacto e ideal para carregar no bolso. Além disso, conferem toque especial a alça para câmeras fotográficas ou a caderneta de anotações com espaço para caneta, por exemplo.
A matéria-prima é comprada de vendedores no Centro de Fortaleza, mas o curtume, processo em que o couro fica próprio para a utilização, é de Pernambuco.
O contato com mestres artesãos de todo o Brasil resultou em um desejo do casal de, um dia, também repassar os conhecimentos a outros produtores manuais, pois ele acredita que, quando é feito com amor, a profissão dá certo. "A gente incentiva, dá pra viver com artesanato, dificilmente um artesão vai ser rico, mas se for o propósito de vida da pessoa, ela vai amar fazer aquilo", declara Ed.
O trabalho no ateliê-casa tem proporcionado aos dois a vivência quase que integral da criação do filho. Juntos, conseguem dividir as atividades e acompanhá-lo em tarefas rotineiras, além da capacidade de estarem a postos caso algo aconteça.
No entanto, ao mesmo em que tempo é uma vantagem, o período integral pode afetar a produtividade. "A gente tem a dificuldade de organização, então acaba que para muito, o trabalho fica todo quebrado, tem horas que eu estou mexendo panela e costurando uma bolsa, tem essa mistura dos processos de casa e da Art", pontua Amanda.
Apesar disso, o casal vê com paixão a profissão que escolheram seguir. Cheio de detalhes e de esmero, Ed e Amanda transformam peças em couro em verdadeiros artigos de arte.
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