Eleições: tropas federais se deslocam para comunidades do Rio
Jornal do BrasilHenrique de Almeida
Oficiais do Exército e da Marinha brasileira estiveram nesta segunda-feira(01) em três comunidades no Rio. O objetivo das ações das Forças Armadas é garantir a segurança em comunidades do Rio durante as eleições municipais.
Junto aos oficiais, estiveram cerca de 80 fiscais do Tribunal Regional Eleitoral, para combater a propaganda irregular a menos de uma semana do pleito.
Moradores das favelas do Muquiço, em Guadalupe, na Zona Norte, e do Conjunto Bento Ribeiro Dantas, no Complexo da Maré disseram que a entrada das Forças Armadas no local trouxe alguma segurança às comunidades, e esperam tranquilidade nessas eleições.
Três comboios no Rio
Na manhã desta segunda-feira, 450 homens e 20 viaturas - entre motos, carros blindados e caminhões - seguiram para a Gardênia Azul, em Jacarepaguá, na Zona Oeste. Após a saída do comboio, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Luiz Zveiter, falou o que espera da população das comunidades que terão a presença do Exército e da Marinha até o próximo dia 6 de outubro:
"O povo do Rio de Janeiro tem certeza que o seu voto é muito importante para mudar o destino da sua vida. Acho que vamos ter uma eleição tranquila, e temos certeza que o Rio terá uma eleição tranquila", comentou Zveiter, que considera que as polícias militar, civil, rodoviária federal e o corpo de Bombeiros sejam capazes de cuidar da segurança de outras regiões do Rio de Janeiro nos próximos dias.O chefe do Comando Militar do Leste, Coronel Francisco Carlos Modesto, acredita que não haverá confronto nas 28 comunidades que serão visitadas pelas forças de segurança:
"Não há possibilidade de confronto, de acordo com as nossas informações da inteligência. Mesmo que haja algo, cada soldado sabe perfeitamente o que fazer", limitou-se Modesto.Saídos do 31º Batalhão de Infantaria Motorizada, em Deodoro, 3 unidades se dirigiram à comunidade do Muquiço, em Guadalupe, por volta das 12h.Às 13, os fuzileiros navais saíram do 1º Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais, na Ilha do Governador, em direção ao Complexo da Maré.
Ao todo, 3 mil homens do Exército e da Marinha trabalharão para garantir a segurança em comunidades do Rio durante as eleições. De acordo com o presidente do Tribunal Regional Eleitoral - 1ª Região, Luiz Zveiter, cada tropa será acompanhada por um juiz, que determinará o tempo de permanência na comunidade.
Além de Zveiter, acompanham o deslocamento dos comboios o general Francisco Carlos Modesto, do Comando Militar do Leste (CML), e o general José Alberto da Costa Abreu, comandante da 1ª Divisão do Exército.
Dois mil homens do Exército vão patrulhar as comunidades da Zona Oeste. Mil militares da Marinha estarão no Conjunto de Favelas da Maré, subúrbio do Rio.
Em cada dia de operação, as autoridades estarão presentes em pontos específicos do complexo e o Grupamento Operativo vai garantir a atuação do pessoal do TRE em condições seguras.
Moradores falam pouco
Na comunidade do Muquiço, em Guadalupe, as tropas adentraram o local com 600 homens, com direito a dois carros blindados. Os oficiais que estiveram no local têm experiência com áreas de risco: muitos deles estiveram na ocupação do Complexo do Alemão, em novembro de 2010.
Apesar da força ostensiva para a ocupação, o clima no local era de certa tranquilidade. Anísio, morador do local há 30 anos e dono de uma oficina mecânica, lembra que a comunidade já foi mais perigosa:
"Aqui sempre tinha muitos carros roubados, muitos assaltos...a Polícia Militar tem vindo mais aqui nos últimos meses, e o Exército está patrulhando esta área aqui diariamente. O índice de assalto caiu muito", comentou Anísio.
Outros moradores, menos comunicativos e mais preocupados em , acharam estranha a movimentação do Exército na comunidade do Muquiço. Mas a maioria, como Luana de Jesus, declarou que a presença das Forças Armadas é necessária:
"Nunca teve isso aqui antes. Mas é melhor votar com o Exército aqui. É só isso que eu tenho para falar", disse Luana de Jesus, antes de seguir em passos apressados.Uma outra senhora, que preferiu não se identificar, declarou que haveria mais tranquilidade se os oficiais continuassem na comunidade:
"Se eles pudessem ficar, eu adoraria. Mas não podem", disse a senhora, rindo nervosamente.No Complexo da Maré, no conjunto Bento Ribeiro Dantas, o efetivo contou com um número de cerca de 300 fuzileiros navais, além de 25 policiais do 22º Batalhão da Polícia Militar, do próprio Complexo da Maré, e um chamado " Caveirão" da PM.
U morador explicou que a localidade escolhida para a atuação dos Fuzileiros Navais já foi bastante violenta, e com um nome bem sugestivo: Fogo Cruzado.
"Hoje em dia, isso aqui está mais tranquilo, mas existia uma área de conflito por aqui bem pesada de traficantes, que recebeu o nome de Fogo Cruzado", contou Raimundo, que definiu a passagem dos Fuzileiros por lá como burocrática. " Aqui está bem tranquilo, não tem muito com o que eles(oficiais) se preocuparem", disse o morador, com certo receio na voz.
Juízes eleitorais em alerta
Apesar de o horário de atuação do TRE ter sido definido como sendo de 8 às 18h, os fiscais do TRE ficarão nas comunidades até o juiz do tribunal no local se dar por satisfeito.
Essas são palavras de André Ricardo Ramos, coordenador do TRE na favela do Muquiço, em Guadalupe, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ele lembrou o objetivo pacífico da operação no local, mas deixou claro que as irregularidades serão reprimidas:
" O TRE vai permanecer aqui até que tudo esteja normalizado nesta área. Queremos trazer paz para a população e para os candidatos. Mas sabemos que, nas comunidades, sempre existe algum tipo de pressão. Vamos atrás da solução destes problemas", declarou o juiz, acompanhado de 28 fiscais do tribunal.
Já no Complexo da Maré, Luiz Fernando Andrade Pinto coordenava a fiscalização da propaganda eleitoral irregular no local. Ao tirar um painel de um candidato da casa de um morador, que inclusive não havia autorizado a propaganda, ele desabafou:
" Isso é um absurdo. E acontece por algum motivo, alguém mandou botar isso aqui", comentou Luiz Fernando, sem especificar se seriam traficantes ou milicianos que estão presentes no Complexo da Maré.
Enquanto a propaganda era apreendida, ele lembrou que a quantidade poderia ser muito maior. " Quem faz esse tipo de coisa foi avisado, a divulgação foi grande. Mas estamos encontrando muito material, o que deve continuar", finalizou o coordenador.
Cronograma
Na terça, dia 2, os militares do Exército seguirão para Piraquê, Vila Sapê, Vila Vintém e Vila Cosmos; quarta-feira, dia 3, para as regiões do Terreirão, Rio das Pedras, Vila Kennedy e Barbante; na quinta-feira, Anil, Tirol, Antares, Minha Deusa; sexta, dia 5, Muzema, Jardim Maravilha, Coreia e Carobinha; e sábado, dia 6, Covanca, Caxangá, Sapo e Fumacê.
Já os soldados da Marinha ocuparão, na terça, dia 2, o Morro do Timbau; na quarta-feira, Baixa do Sapateiro; na quinta, dia 4, Nova Holanda; na sexta-feira, dia 5, Parque União; e sábado, dia 6, a Vila do João. Durante esta semana, a operação das tropas será contra a propaganda ilegal.
No dia das eleições, domingo, 7 de outubro, as Forças Armadas ficarão dispostas no entorno dos locais de votação para combater a boca de urna. O esquema de segurança vai abranger as cidades de Campos dos Goytacazes e Macaé, no Norte Fluminense, Magé, na Baixada Fluminense, São Gonçalo e Itaboraí, na Região Metropolitana, Cabo Frio, na Região dos Lagos, e Rio das Ostras, na Região das Baixadas Litorâneas.
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