Valdir Julião - repórter
A quadrilha que sequestrou o estudante Porcino Fernandes da Costa Segundo, "Popó Porcino", 19 anos, no dia 17 de junho deste ano, é formada por aproximadamente dez criminosos e já tinha experiência nesse tipo de crime. A Polícia Civil acredita que o grupo já tinha praticado um outro sequestro no Ceará, Estado de origem de todos que foram presos até agora. O último a ser preso, Luís Eduardo Lima Magalhães Filho - um dia após o resgate do refém -, confessou o seu envolvimento.
Segundo a Polícia Civil, Luís Eduardo era o motorista do bando
A delegada Sheila Maria de Freitas, do Departamento Especializado em Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor), disse ontem que a quadrilha está envolvida em outro sequestro, mas não disse qual seria - o caso é investigado pela polícia cearense. Ainda não se sabe, ao certo, se todos que participaram do sequestro de "Popó Porcino", como é conhecido o filho do empresário Porcino Júnior, estiveram nesse outro sequestro. Sheila diz ter certeza da participação de Paulo Victor Lopes Monteiro, 25, que é o mais experiente entre os presos, e sua namorada, Bruna Pinho Landim, 22. "Acreditamos que ele seja o mais experiente da quadrilha", enfatiza Sheila Maria, que coordena as investigações, que estão em andamento. Ela explica que o trabalho da polícia foi dividido em duas etapas. Na primeira, o foco principal era resgatar o refém com vida. "Agora vamos estudar o crime", revela Sheila, que acredita numa formação numerosa de criminosos, podendo passar de dez o número de bandidos.
"Com certeza irão acontecer mais prisões. A gente não quer falar para não atrapalhar", afirma. Sheila confirma, no entanto, que a prisão de Luís Eduardo Lima Magalhães Filho, descoberto um dia após o resgate do refém, contribuiu substancialmente para as investigações. "A prisão dele trouxe novidades a investigação, mas não podemos revelar. Posso dizer apenas que nos ajudará a identificar e prender os outros integrantes do bando", conclui.
SUSPEITO
O sexto suspeito de envolvimento no sequestro do estudante Porcino Fernandes da Costa Segundo, chamado pela família por "Popó", foi identificado como sendo o estudante de Administração de uma universidade particular, Luiz Eduardo Magalhães Lima Filho.
Durante o interrogatório o estudante confessou sua participação no sequestro de "Popó", mas alegando que sua única atribuição era fazer o transporte do negociador do resgate a ser pedido à família da vítima.
Segundo a delegada, Luiz Magalhães Filho disse que conduziu o negociador José Irismar, o "Cabeça", por três vezes entre Fortaleza e Natal, até o local do primeiro cativeiro de "Popó", em Japecanga, em Parnamirim. "Cabeça" morreu no confronto com a polícia, por ocasião da invasão na tarde de segunda-feira, dia 23, do segundo cativeiro localizado na rua principal da praia de Pitangui. A delegada também ouviu do sexto suspeito, contra o qual ela pediu, ontem de manhã, a decretação de prisão preventiva, de que é amigo de infância de outro acusado do sequestro, Paulo Victor Lopes Monteiro, filho de um coronel da reserva da Polícia Militar do Ceará.
O estudante de Administração também disse a delegada que mora há dois anos em Natal, no mesmo condomínio fechado em Ponta Negra (Príncipe das Astúrias), onde morava o amigo Paulo Victor e outro suspeito do sequestro, José Orlando Evangelista da Silva.
A Polícia Civil chegou até o estudante Luiz Magalhães Filho depois que um telespectador assistiu a uma segunda exibição sobre o noticiário da TV InterTVCabugi, no qual ele aparecia como sendo o homem que estava no Fox vermelho, de placa NUZ-9384, de Juazeiro do Norte (CE), e passou em frente ao cativeiro de Japecanga, perguntando aos vizinhos pelo pessoal da casa. O telespectador informou à Polícia o local onde se encontrava o veículo.
Bando estaria planejando dois sequestros no Ceará
Paulo Victor Lopes Monteiro, 25, considerado o mais experiente dos que foram presos até o momento, vinha sendo monitorado pelo Departamento de Inteligência Policial (DIP) da Polícia Civil do Ceará. A polícia do estado vizinho já tinha informações de que ele e os outros integrantes da quadrilha iriam sequestrar duas pessoas. As identidades dos alvos, porém, foram preservadas.
A informação foi divulgada na edição de ontem do jornal Diário do Nordeste, em texto assinado pelo jornalista Fernando Ribeiro. A matéria diz que Paulo Victor e a namorada, Bruna de Pinho Landim, 22., ambos presos pelo sequestro de "Popó Porcino", seriam os articuladores do sequestro.
A prisão do grupo foi comunicada à Polícia Civil do Ceará, que deverá solicitar a transferência de Paulo quando acabarem as investigações no RN. Ele já era procurado naquela unidade federativa por outros crimes, como um duplo homicídio praticado em 2011, na cidade de Juazeiro do Norte.
Já estão presos em duas unidades do sistema penitenciário estadual, depois de ter sido lavrado o flagrante delito, três suspeitos do sequestro do estudante Porcino Fernandes Segundo, mais conhecido como "Popó", que fico 37 dias em cativeiro entre Parnamirim e Extremoz.
Depois de passarem pela triagem no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pirangi, na Zona Sul de Natal, os suspeitos Paulo Victor Lopes Monteiro e José Orlando Evangelista da Silva foram transferidos para a Cadeia Pública Nominando Gomes, em Nova Cruz.
A cadeia pública inaugurada em 2010, tem capacidade para abrigar 170 presos e, segundo o recém-empossado coordenador estadual de Administração Penitenciária, Francisco Ailson Dantas, "já está no limite".
Já a namorada de Paulo Victor, Bruna de Pinho Landim, foi transferida para a ala feminina do Centro de Detenção Provisória de Parnamirim, segundo informou Ailson Dantas.
O outro acusado que foi baleado e preso durante a invasão do cativeiro de "Popó", na praia de Pitangui, Anderson de Souza Nascimento, continua internado no Hospital Santa Catarina.
A delegada de Combate ao Crime Organizado, Sheila Freitas, que conduziu as investigações até o "estouro" do cativeiro de "Popó" há quatro dias, disse que tem dez dias para concluir o inquérito e só depois disso poderá informar em quais artigos do Código Penal Brasileiro, os acusados serão indiciados, além dos crimes de formação de quadrilha (288) e sequestro (159).
Organizado - Cada um com sua função
José Orlando Evangelista Silva, 42 anos
Foi o único do bando a ser preso em Parnamirim (os outros estavam com Popó, na praia de Pitangui). Ele é cearense, mas morava em Natal e era o ponto de referência da quadrilha no RN. Sua responsabilidade era dar apoio ao bando no RN. Alugava imóveis, fornecia os carros para o transporte, etc.
Luís Eduardo Lima Magalhães Filho
Era o motorista da quadrilha. Fazia viagens do Rio Grande do Norte para o Ceará constantemente, antes e durante o sequestro do estudante.
Paulo Victor Lopes Monteiro, 25 anos
É o mais experiente entre os presos. Foi investigado pela polícia cearense em um duplo homicídio, em Juazeiro do Norte, já foi preso no RN por estelionato. Entre o grupo, apresenta-se como o articulador, mentor intelectual.
Bruna Pinho Landim, 22 anos
Namorada de Paulo Victor e sua companheira nas ações criminosas. Participava das torturas psicológicas praticadas contra o refém e tinha ainda a missão de manter o cativeiro.
José Erisvan, o "Cabeça"
Foi morto durante a operação, quando policiais estouraram o cativeiro na praia. Era responsável pela negociação com Porcino Júnior. Foi ele quem torturou psicologicamente o empresário e a família durante as ligações.
Anderson de Souza Nascimento
Foi baleado durante a operação de resgate, mas não morreu. Era um dos principais responsáveis pela vigília do refém.
MP pede detalhes da investigação do sequestro
Os autos sobre o caso do sequestro do estudante Porcino Fernandes Segundo, "Popó" tramitam em segredo de justiça na Comarca de Ceará Mirim, mas, em nota emitida e assinada pelo procurador geral da Justiça, Manoel Onofre de Souza Neto, o Ministério Público esclarece o que vazou nas redes sociais e nos jornais on line da internet, sobre o ajuizamento de uma ação do Ministério Público contra a juíza criminal Valentina de Lima Damasceno, por sua decisão de conceder medidas de natureza cautelar para a Polícia investigar o caso de sequestro de "Popó".
Na nota, o Ministério Público explicar os motivos pelos quais impetrou um recurso processual questionando o trâmite do processo para a investigação do sequestro que foi vítima Popó Porcino.
O MP negou que os problemas encontrados sejam referentes à celeridade da autorização para as interceptações telefônicas e disse que a correição parcial, como é chamado o recurso, é "absolutamente normal".
A nota diz que a Promotoria de Justiça de Ceará Mirim não ofereceu representação contra a juíza "por esta ter atendido ao pedido de interceptação telefônica de forma célere".
Segundo a nota, na realidade, sequer houve oferecimento de representação, "mas sim o manejo de um recurso processual, previsto em lei, denominado Correição Parcial", com o objetivo de questionar alguns pontos do processo, "algo perfeitamente normal e comum dentro do devido processo legal".
O MP também informa que jamais foi contra a interceptação telefônica havida, medida, "aliás, extremamente necessária no tipo de crime sob investigação".
Tanto é, segundo o MP, que ao ser notificada das decisões concessivas da medida, como a inclusão de novas linhas telefônicas e de algumas prorrogações, "a Promotoria de Justiça que oficia no feito não manejou qualquer recurso".
O MP alega que a correição objetiva a reforma de decisões, que indeferiu o acesso da promotora de Justiça Isabel Pinheiro aos autos do inquérito policial, "bem como aos autos da interceptação telefônica".
Como os autos estão em segredo de Justiça, e depois de procurada pela TRIBUNA DO NORTE, a informação oriunda do MP era de que a promotora Isabel Pinheiro não ia se pronunciar sobre a questão.
Da mesma forma a juíza Valentina Damasceno, que responde ainda, em Ceará Mirim, pelo juizo eleitoral daquele município. Mas, informações dos bastidores, dão conta que ela foi "surpreendida" com o pedido de correição do MP.
Bate-papo
Sheila Freitas, delegada responsável pela investigação do sequestro
Delegada critica ação do MP
A delegada de Combate ao Crime Organizado, Sheila Freitas, que conduziu as investigações que resultou na prisão de cinco, de seis suspeitos do sequestro do estudante Porcino Fernandes da Costa Segundo, obteve a confissão do estudante de Administração Luiz Eduardo Magalhães, de que participava da quadrilha, como o condutor do negociador entre Natal e Fortaleza. Sheila Freitas também avaliou a decisão da promotora da Comarca de Ceará Mirim, Isabel Cristina Pinheiro, de interpelar judicialmente a juíza Valentina de Lima Damasceno por ter concedido medidas cautelares à Polícia a pedido da Deicor, qualificando o fato como "despreparo" da representante do Ministério Público.
O que a Polícia já descobriu sobre a participação do quinto suspeito de sequestro que foi preso na tarde de quarta-feira, dia 25?
Nós já ouvimos, passamos a noite interrogando e conseguimos a confissão dele, de que realmente participava da quadrilha, ele alega que a participação dele era fazer a condução do negociador, dizia que ele vinha de Fortaleza para Natal, e levava ele para o primeiro cativeiro em Parnamirim, e isso foi feito por três vezes.
Quem era o negociador?
Já está identificado, era a pessoa que foi a óbito, José Erismar.
A participação dele só foi essa de transportar o negociador?
ós descobrimos que ele é amigo de infância do Paulo Victor, e que aqui em Natal alega ser estudante de Administração da Universidade Potiguar (UnP) e que mora aqui em Natal há dois anos. Porém, no mesmo condomínio que morava ele, moravam Paulo Victor e José Orlando, todos moravam no mesmo condomínio.
Também foi pedida a prisão preventiva desse sexto suspeito do sequestro?
Pedi, estou aguardando que a juíza se pronuncie.
A respeito dessa ação do Ministério Público contra a juíza Valentina Damasceno, qual a sua posição a respeito?
Classifico isso como um absurdo, como um despreparo dessa representante do Ministério Público, porque isso não é comum aos promotores, está querendo aparecer no caso, porque o que houve foi uma integração da Polícia com o Judiciário, em razão do caso e não só desse caso, porque a juíza Valentina Damasceno é conhecida como uma pessoa séria, trabalha muito, não foi só no caso de "Popó", nos outros casos ela sempre atuou da mesma forma.
O Ministério Público chegou a participar das investigações, ou ficou à margem desse processo?
Não, no momento em que a Polícia pede alguma coisa ao Judiciário, o Judiciário informa ao Ministério Público e isso o Judiciário fez. Mas, em momento nenhum essa promotora ligou para mim, para saber como estava o andamento das investigações, como ela "vive no Olimpo", ela não desce onde estão os pobres mortais, não seria eu que ficaria ligando para ela, eu estava ligando para a juíza, que era uma pessoa que sempre estava em contato comigo para saber o que estava acontecendo e sendo informada sobre tudo o que estava havendo.