Dilma Rousseff deve ser afastada hoje
Senadores decidirão hoje sobre o processo contra Dilma
Senadores decidirão hoje sobre a admissibilidade do processo contra a presidente da República [caption id="attachment_127446" align="alignleft" width="300"] Mesmo ciente de um cenário irreversível, Dilma repetiu que continuará a lutar em defesa do mandato. "Jamais a renúncia passou pela minha cabeça", afirmou a presidente diante da plateia formada por militantes ( FOTO: AFP )[/caption] Brasília. O Senado Federal deverá abrir o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, afastando-a do cargo, em sessão prevista para começar na manhã de hoje, às 9h. A decisão precisa do voto da maioria simples dos presentes, e tanto o placar das agências de notícias quanto as contas de governo e oposição apontam para o resultado. O afastamento tem prazo máximo de 180 dias, mas a previsão é que o Senado julgue-a pelas pedaladas fiscais e créditos orçamentários sem autorização antes disso. O vice Michel Temer (PMDB) assume assim que for notificado da decisão. O governo tentava até a noite de ontem impedir a sessão, com a apresentação de um recurso ao Supremo. Dilma deve ser a segunda presidente afastada para ser julgada politicamente pela acusação de crime de responsabilidade desde a redemocratização, repetindo Fernando Collor em 1992 -o hoje senador pelo PTC-AL, até aqui seu aliado, vota nesta quarta. A petista é acusada de editar decretos de créditos suplementares sem aval do Congresso e de usar verba de bancos federais em programas do Tesouro, as chamadas "pedaladas fiscais". Sua defesa entende que não há elementos para o afastamento. Derrota Diante de um cenário previsível de derrota, a base do governo trabalha, numa conta otimista, para tentar chegar a 30 votos dos 81 senadores contra o processo de impeachment de Dilma, enquanto a oposição trabalha com até 57 por sua abertura. Basta maioria simples dos presentes para que Dilma seja afastada por até 180 dias e julgada por crime de responsabilidade. Nas últimas 24 horas, senadores próximos ao Planalto não acreditavam em surpresa, ao contrário da votação na Câmara, em que havia na véspera esperança. Levantamento feito pelo "Estado de S. Paulo" aponta que pelo menos 50 pretendem se manifestar pela admissibilidade. Ciente do cenário político praticamente irreversível, o governo procura o caminho da judicialização do caso. Ontem, a Advocacia-Geral da União (AGU) recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo, por meio de um mandado de segurança, a anulação do processo. O ministro Teori Zavascki vai relatar a ação. Cardozo avisou que o mesmo deve ser feito após a votação dos senadores hoje. "Até onde você vai (judicializar)? Até o fim", disse o ministro. Desvio de poder Um dos argumentos da AGU é o que chama de "desvio de poder" por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como presidente da Câmara, na ocasião em que aceitou o processo contra Dilma em 2015. O ministro do STF Gilmar Mendes desconsiderou a ação do governo. "Ah, eles podem ir para o céu, o papa ou o diabo", disse. Juízes do STF defendem a não interferência na decisão do Congresso sobre o tema. Além de afastar a presidente, o placar de hoje vai indicar a tendência para a fase final do processo, que exige 54 votos para que ela seja condenada e deixe o cargo definitivamente. Aliados da petista no Senado consideram que só uma catástrofe política e econômica de um governo de Michel Temer seria capaz de mudar o quadro no Senado e abrir espaço para uma volta dela. A sessão deve começar às 9h. Até ontem, 67 senadores se inscreveram para discursar, além do relator, Antonio Anastasia (PSDB-MG), e de Cardozo. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), quer realizar a votação por painel eletrônico às 19h, mas se espera atraso por causa de discursos e questionamentos. Se a votação for concluída na noite de hoje, Dilma deve ser notificada amanhã de manhã, quando então automaticamente se afasta. "Não quero colaborar com antecipação de etapa nenhuma", disse Renan, ao ser questionado sobre o futuro da presidente. O Senado decidirá a estrutura presidencial que ela poderá usar durante o período do processo. Dilma pediu a auxiliares que suspendam a cerimônia de descida da rampa do Palácio do Planalto depois que o Senado aprovar a admissibilidade do impeachment. A petista quer passar a ideia de que a gestão do vice é ilegítima e que estará fora apenas por um período. Dirigentes do PT ainda tentam convencer a presidente de que seria bom fazer um gesto para os movimentos sociais. Manifestantes pró-Dilma pretendem organizar uma caminhada do Planalto até o Alvorada, sede da residência oficial. Dilma, porém, não participará. Uma reunião ministerial foi marcada para hoje, quando Dilma vai agradecer a todos os auxiliares e dizer que resistirá ao "golpe". "Jamais a renúncia passou pela minha cabeça", afirmou ela ontem, ao participar de uma solenidade com mulheres, que pode ser seu último evento público como presidente. Diante da plateia formada por militantes, ela repetiu que continuará a lutar em defesa do mandato. "Não estou cansada de lutar, estou cansada dos desleais e dos traidores. Mas esse cansaço impulsiona a mim a lutar ainda mais", disse Dilma, na 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres. Demissões Ainda ontem, Dilma recebeu pedidos de demissão de vários ministros, e haverá um Diário Oficial extra com as dispensas. No Planalto, mais de mil servidores que ocupam cargos em comissão, batizados de Direção e Assessoramento Superior (DAS) devem ser cortados. Dilma também limpou as gavetas no gabinete. Despachou livros, fotos da filha Paula e dos netos, lembranças e as três imagens de Nossa Senhora que mantinha sobre sua mesa. Foram para o Alvorada, ainda, as bonecas do Vale do Jequitinhonha que Dilma ganhou de presente. O QUE ELES PENSAM Votos dos cearenses Vamos votar favoravelmente ao impeachment (de Dilma), em função de estar sobejamente comprovado o crime de responsabilidade cometido por esse governo e em função também de outras transgressões que apareceram ou aparecerão durante esse processo, mas principalmente por causa dos brasileiros. Os brasileiros não suportam mais viver com a economia em destroços como está acontecendo hoje e sem uma presidente que possa soerguer a economia e devolver empregos a milhões de brasileiros que estão perdendo seus empregos. Tasso Jereissati Senador (PSDB-CE) Vou votar sim ao impeachment da presidente Dilma fazendo uma ressalva como sempre fiz, (de) que a presidente perdeu a condição de governabilidade, de transformar os sonhos dessa população em realidade. Ela perdeu a condição de liderar. Num colégio eleitoral de 513 parlamentares (na Câmara dos Deputados), (com) cerca de 75% dos parlamentares novatos, ela não conseguiu fazer sequer 25% dos votos. Ali ficou demonstrado que ela perdeu a condição de governabilidade. A economia não tem perspectiva de reação com a presidente Dilma. Eunício Oliveira Senador (PMDB-CE) Esse processo inicia com o parecer comprado de R$ 45 mil da senhora Janaína Paschoal. Em seguida, no dia 1º de setembro, ele é protocolado na Câmara Federal. Teve uma avaliação prévia feita pelo presidente da Câmara, o deputado suspenso Eduardo Cunha, e chegou à conclusão de que ele não tinha condições de receber. Foi sugerido que fosse feito um aditivo. (...) Não tem nenhum ato de corrupção, lesivo aos recursos públicos, e é por isso que o meu voto será contrário a esse projeto de impedimento sem nenhuma base legal. José Pimentel Senador (PT-CE)
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