Agropecuária tem condições de avançar

TECNOLOGIA E RESERVA ALIMENTAR

Mesmo localizado no semiárido e sofrendo a ação de estiagens, o Ceará tem representatividade no setor agropecuário, sustentado, principalmente, pela bovinocultura, apicultura e agricultura. A pecuária responde por 80% do setor, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária no Ceará (Faec), e é também a mais castigada pela seca, acarretando na morte de rebanhos inteiros.

Entretanto, as intempéries climáticas, na visão do presidente da Faec, Flávio Saboya, não devem ser entrave ao desenvolvimento do setor na próxima década. "É preciso, apenas, que o homem mude radicalmente a maneira de ver a pecuária e a seca, porque temos condições de fazer reserva alimentar para os rebanhos, independente da condição climática", garante.

Se adotarem novos hábitos e tecnologias de reserva alimentar animal, de acordo com Saboya, os pequenos e médios produtores do Estado poderão contribuir para elevar o índice de crescimento para 10%. "O governo também pode mudar a postura e incentivar esse armazenamento", sugere. Em 2013, o setor agropecuário teve alta de 2,61%, segundo os dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).

Produção Irrigada

A transposição das águas do rio São Francisco, que deve chegar ao Estado em 2016, representam o ponto de virada para a agricultura cearense, segundo o presidente do Instituto Frutal, Euvaldo Bringel. Com a garantia de recursos hídricos, as culturas irrigadas devem se expandir consideravelmente. "A fruticultura irrigada é a que deve crescer mais, e nós temos potencial para isso", acrescenta Bringel.

O crescimento dessa modalidade de cultivo deve, na verdade, consolidar um cenário que já vem sendo construído, já que, nos últimos dois anos, a produção irrigada superou o sequeiro no Ceará. "Nos próximos anos, a tendência será ainda mais forte. O sequeiro vai ser reduzido no Estado", projeta. As pastagens irrigadas, de acordo com Bringel, também já estão sendo adotadas na produção cearense, visando minimizar os efeitos da seca.

A expansão da fruticultura deve manter a posição do Ceará como o terceiro maior exportador de frutas do País. "No ano passado, a exportação de frutas rendeu R$ 117 milhões", contabiliza Bringel. Além do melão, que lidera as exportações, produtos como maracujá, feijão irrigado, côco e banana devem se destacar na próxima década.

A distribuição de recursos hídricos deve gerar, ainda, uma reorganização natural do Estado, do ponto de vista das migrações regionais. "As famílias vão buscar as fazendas irrigadas para produzirem", explica o presidente do Frutal.

Diferentemente das décadas passadas, quando a seca levava os sertanejos a se amontoarem em favelas nos centros urbanos, o novo êxodo, na visão de Bringel, será positivo. "Essas fazendas passam por fiscalizações rígidas e garantem as condições trabalhistas dos produtores, será um processo diferenciado", diz.