ZONA NORTE

Irauçuba. A Polícia Militar apreendeu um carro da Secretaria de Saúde com medicamentos vencidos para serem queimados no lixão da cidade. O fato causou indignação na população na cidade, especialmente a de baixa renda e que se ressente de medicação gratuita.

Um veículo com adesivos da Prefeitura de Irauçuba foi apreendido na manhã da última segunda feira na área de descarte da cidade. Os remédios já vencidos deveriam ser queimados juntamente com pneus

Um veículo, modelo D-20, com adesivos da Prefeitura Municipal de Irauçuba, foi apreendido na manhã da última segunda- feira na área de descarte da cidade. Os remédios já vencidos deveriam ser queimados juntamente com pneus. Foram presos três funcionários que foram surpreendidos no momento do fato. Durante toda a manhã de ontem o promotor de Justiça, Francisco Lucídio Queiroz Júnior, esteve com todos os envolvidos em audiência, inclusive os policiais responsáveis pela apreensão do veículo.

Descontos

De acordo com um morador, que preferiu não se identificar, essa é uma ação que provem da venda de remédios próximos à data de vencimento com até 50% de desconto, onde parte do restante do dinheiro fica com a Prefeitura. "Um dos moradores esteve no posto de saúde em busca de medicamentos há cerca de um mês, e recebeu o medicamento vencido. Se não tivesse visto a data, teria ingerido e as complicações seriam maiores", disse.

Ele contou que o clima na cidade está tenso, e que teme perseguição política. "A população acredita que esses funcionários presos estavam cumprindo ordens, embora não se saiba ainda de quem".

Segundo o vereador Elton Lira, a presidência da Câmara de Vereadores de Irauçuba havia se pronunciado na tarde da segunda-feira passada e disse que esta é uma prática normal, tendo ocorrido desde sempre. Ele acredita que esses medicamentos devem ter vindo da gestão anterior devido às datas.

De acordo com ele, há uma intensa falta de medicamentos no município, sendo que a primeira entrega deste ano foi feita em março, e que vários dos remédios se esgotaram apenas uma semana depois de entregues, como o remédio para pressão.

Compras

"Isso faz com que muitas pessoas acabem comprando esse medicamento que deveria ser gratuito em farmácias e drogarias, como é o caso até mesmo de minha mãe e vários colegas hipertensos". O vereador conta que a situação administrativa de Irauçuba se encontra precária, sendo que o município tem tido problemas em todas as áreas.

"O prefeito já explicou que não tem como fazer mais do que pagar os funcionários, pois a Prefeitura se encontra sem dinheiro", afirmou Elton.

Além disso, observa que há outros problemas sociais graves envolvendo a população local. Programas que visam a distribuição de cestas básicas se encontram suspensos devido à falta de verba. Na localidade de Juá, uma escola se encontra há um mês sem merenda escolar, e os alunos das unidades municipais fizeram um manifesto onde saíram às ruas com cartazes onde escreveram "Tenho Fome".

Elton afirma que em quatro meses de mandado, pôde verificar que as obras estão paradas, não havendo nenhum avanço nesse tempo para o município.

Outra moradora que preferiu não se identificar explica que a atual gestão tem sido conturbada. Hoje, tramitam na Justiça Eleitoral quatro processos contra o prefeito José Mota, com 22 acusações, dentre elas compra de votos e contratação de 153 funcionários dentro do período vedado da campanha".

O clima acirrado desde a campanha eleitoral não amenizou, e a maioria das pessoas tem medo. Mas Irauçuba é um município muito pobre, não pode haver esse tipo de desperdício, principalmente quando se trata de remédio, coisa que normalmente falta por aqui", disse. Ela conta que os processos envolvem também funcionários públicos pedindo voto em horário de trabalho, doação de terrenos e cestas básicas com a presença do então candidato a prefeito Zé Mota.

Eles se encontram na Justiça Eleitoral da 41ª zona eleitoral sob a jurisdição do juiz Carlos Eduardo Oliveira Holanda, com os números de registro 178.361/ 2012, 178.375/ 2012, 178.383/ 2012, 199.693/ 2012. Todos protocolados em fevereiro deste ano.

Autuação

A secretária de Saúde do Município, Nerivânia Tabosa Teixeira, e o prefeito não foram localizados até o fechamento da edição. Os acusados pela queima foram autuados com base na Lei 9605/98, que trata sobre crimes ambientais. Dentre eles, estava o chefe da Vigilância Sanitária do Município, Antonio de Sousa Marques.

Na internet, o caso repercutiu entre as cidades vizinhas, como Sobral, Cruz e Itapajé devido principalmente à citação da presidente da Câmara.

De acordo com a internauta e estudante Thais Mattos, a ideia de que "queimar dinheiro público" era normal causava raiva. "Uma cidade pobre, onde tem gente que precisa comprar esse medicamento, fica com eles em depósitos até vencer. Isso mostra o quanto a administração do lugar ainda tem que melhorar. É desperdício de dinheiro público. Uma verdadeira queima dele", afirmou a estudante.

Recomendação

Segundo a perita, Fátima Pinheiro, lotada nos quadros da Perícia Forense de Sobral, que esteve no lixão local e fez um relatório dando as informações para a Polícia, o procedimento, apesar de não ser legal, é a única forma necessária para ser dado destino final a medicamentos nesta situação.

Isso se faz necessário, conforme disse, porque, uma vez que se não são incinerados "podem ser comercializados ou doados para pessoas que podem se prejudicar tomando estes medicamentos", afirmou. Daí a prática de destinar os produtos vencidos para áreas de resíduos.

Apreensão
3 funcionários foram presos em flagrante por policiais militares, bem como houve a apreensão de um veículo utilizado para o descarte dos remédios.

Mais informações:
Prefeitura de Irauçuba
Secretaria de Saúde do Município
Avenida Paulo Bastos, Centro
Telefone: (88) 3635.1294

JÉSSYCA RODRIGUES
COLABORADORA