Fechamento de vasos, duração de uma hora e 'baixo risco': saiba tudo sobre o procedimento de Lula nesta quinta-feira

Objetivo da intervenção é minimizar a possibilidade de que ocorram futuras hemorragias no cérebro do presidente

Por Adriana Dias Lopes, Mariana Rosário e Jeniffer Gularte

 — São Paulo e Brasília 12/12/2024 00h00  

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva — Foto: EVARISTO SA / AFP

Dois dias depois de ser submetido a uma cirurgia de emergência para drenar um sangramento no cérebro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai passar por um novo procedimento na manhã de hoje, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde está internado. O objetivo da intervenção, uma embolização (fechamento dos vasinhos por onde está saindo sangue) das artérias meníngeas, é minimizar o risco de que ocorram futuras hemorragias. Segundo o cardiologista Roberto Kalil Filho, médico do presidente, o tratamento é “relativamente simples e de baixo risco”. A decisão de realizar o procedimento, que não é cirúrgico, ainda segundo o médico, não havia sido antecipada em comunicações e boletins sobre a saúde do presidente, mas já estava prevista, ainda de acordo com Kalil. 

A intervenção, prevista para começar às 7h, deve durar cerca de uma hora e será realizada na sala de cateterismo, e não no centro cirúrgico. Será feita uma punção na virilha, por onde um cateter será introduzido até o local onde ocorrerá a embolização, o que pode ser feito sob sedação ou anestesia geral — a decisão será feita no momento do procedimento. A técnica costuma ser adotada na maioria dos pacientes que se submetem a drenagem de hematoma cerebral, caso de Lula.

O tempo de internação do presidente não deverá mudar com o novo procedimento, de acordo com a equipe médica. A expectativa é que ele deixe a UTI em até dois dias e volte para Brasília na próxima semana.

Como é a cirurgia — Foto: Editoria de Arte

Retirada de dreno

Ao lado de Ana Helena Germoglio, médica da Presidência, Kalil afirmou na tarde de quarta-feira que a intervenção já estava prevista como desdobramento da cirurgia. Os dois especialistas afirmaram que o quadro do presidente não teve grandes alterações e que no procedimento será retirado um dreno que está na cabeça de Lula.

— A evolução do presidente foi ótima, ele desenvolveu bem, sentado, conversando, comendo e se alimentando. Já estava sendo discutido como complemento do procedimento cirúrgico esse tipo de embolização. É um tipo de caraterismo — disse o médico, em entrevista coletiva. — Quando você drena o hematoma (como ocorreu no procedimento de segunda) existe uma pequena possibilidade de, no futuro, as artérias da meninge causarem um pequeno sangramento. Não é impossível de acontecer.

Kalil reforçou que esse procedimento será feito como forma de minimizar a possibilidade de que um sangramento ocorra novamente.

— Faz parte dos protocolos atuais e é um procedimento de baixo risco que foi muito discutido com a equipe médica no dia de hoje (quarta-feira) — afirmou Kalil.

De acordo com a colunista Vera Magalhães, do GLOBO, a decisão de realizar o procedimento, já debatida pela equipe do presidente, foi tomada de fato na tarde de quarta-feira. A explicação dada pelos médicos de Lula para o presidente e sua família foi a de que a medida reduz a chance de novos sangramentos nos próximos dois meses de 10% para algo como 2% a 3%.

A equipe médica defendia só tornar pública a informação sobre a intervenção em coletiva de imprensa marcada para as 10h de hoje, mas Lula e a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, preferiram antecipar a notícia. O procedimento foi informado pela equipe médica no boletim divulgado pelo Sírio-Libanês às 16h30m de quarta. O texto também destacou que o presidente “passou o dia bem, sem intercorrências, realizou fisioterapia, caminhou e recebeu visitas de familiares”.

— Já estava previsto desde o procedimento cirúrgico. Não falamos antes porque esperamos uma evolução, extremamente boa do presidente, para acontecer — disse o cardiologista. — Poderia ter sido feito hoje, ou sexta, mas decidimos fazer amanhã (hoje) justamente para retirar o dreno.

Segundo a colunista Malu Gaspar, do GLOBO, Lula se surpreendeu ao saber que a informação sobre o procedimento não havia sido incluída no boletim médico divulgado ao meio-dia, de acordo com fontes que estão em contato com os médicos e com o casal presidencial. O petista avaliou que um vazamento seria inevitável e muito ruim do ponto de vista da comunicação, uma vez que os médicos garantem que se trata de um procedimento simples e que já se sabia que poderia ser necessário. “Se amanhã alguém souber, vão pensar que estou morrendo”, afirmou Lula, segundo os relatos.

Em seus perfis nas redes sociais, Janja escreveu na quarta-feira que Lula passou por “mais um dia tranquilo de recuperação” e que, em breve, “vai voltar renovado para seguir trabalhando”. “Ele está se alimentando bem e recebeu a visita de familiares. Sempre cercado de cuidado, afeto e sorrisos”, afirmou a primeira-dama.

Transferência às pressas

Lula foi levado às pressas de Brasília para São Paulo na noite de segunda-feira para ser submetido à cirurgia de emergência em que foi feita uma perfuração no crânio para acessar o cérebro e drenar um sangramento. O petista teve um sangramento entre as camadas do meio e mais externa do cérebro no lado esquerdo da cabeça. Segundo os médicos, esse tipo de sangramento tardio é comum em caso de contusão cerebral. Em outubro, o presidente bateu a cabeça em uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada.

Antes da internação, Lula relatou dor de cabeça e auxiliares que despacharam com ele ao longo da segunda-feira disseram ter percebido uma mudança de comportamento. O mandatário se mostrava indisposto, abatido e, ao contrário do que costumava fazer, falava pouco.

No fim da tarde, Lula interrompeu uma reunião com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e deu entrada no Hospital Sírio-Libanês em Brasília, onde passou por uma ressonância magnética, em que foi identificado o sangramento. Em seguida, a equipe médica decidiu transferir Lula para a unidade do hospital de São Paulo.

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