Por Bárbara Sena
Branqueamento do coral-de-fogo Millepora alcicornis no Banco do meio, 43 metros de profundidade. — Foto: WWF-Brasil/Divulgação
Segundo os cientistas, os chamados recifes mesofóticos crescem em águas profundas, entre 30 a 150 metros de profundidade. Acredita-se que sejam mais resistentes às mudanças do clima, o que torna o evento extremamente preocupante. Braqueamento ocorre entre a costa do Ceará e se prolonga até o Rio Grande do Norte.
Cientistas detectaram um branqueamento de corais em uma espécie que até agora era considerada resistente ao aquecimento das águas. A descoberta foi feita pela expedição Montes Oceânicos da Cadeia Norte Brasileira. O braqueamento ocorre entre a costa do Ceará e se prolonga até o Rio Grande do Norte e preocupa pela conservação do ambiente marinho.
A expedição marinha revela a existência de uma grande variedade de habitats recifais nunca vistos ou registrados, que abrigam alta diversidade de seres marinhos, entre peixes, esponjas, corais, algas, porém, nessa região até então desconhecida também foi observado que muitos dos recifes descobertos apresentam sinais de branqueamento.
Branqueamento do coral Montastrea cavernosa no Banco Sueste, 51 metros de profundidade. — Foto: WWF-Brasil/Divulgação
Estes recifes, chamados de recifes mesofóticos crescem em águas profundas, entre 30 a 150 metros de profundidade e acredita-se que sejam mais resilientes às mudanças do clima, o que torna esse evento extremamente preocupante. Segundo o chefe da expedição, professor Mauro Maida, trata-se do primeiro registro de branqueamento de corais em recifes mesofóticos no Atlântico Sul.
“Vimos verdadeiros jardins submersos, interconectados por correntes oceânicas superficiais e subsuperficiais que emolduram um mega ecossistema recifal oceânico de mais de 1.000 km de extensão. No entanto, observamos um branqueamento de corais em grande escala nos recifes mesofóticos dos cinco bancos visitados durante a expedição: Bancos Mundaú, Canopus, do Meio, Sueste e Leste” , revela o professor do Departamento de Oceanografia da UFPE, que busca concluir o mapeamento dos topos dos bancos oceânicos da Cadeia Norte do Brasil.
A principal espécie afetada pelo branqueamento nos bancos visitados é o coral Montastrea cavernosa (a mais abundante nesses ambientes), o coral Agarícia cf. fragilis, além de espécies que se acreditava que só eram abundantes em zonas rasas, como o coral Siderastrea stellata, o coral Mussismilia harttii, e o coral-de-fogo Millepora alcicornis, pela primeira vez registrada no Brasil em profundidades entre 44 e 57 metros.
Registro inédito no Atlântico
O branqueamento de corais em recifes mesofóticos já foi observado no Oceano Índico, mas é a primeira vez que o fenômeno é registrado no Oceano Atlântico. Os cientistas afirmam que se trata de um alerta severo sobre os danos causados no oceano pelo aumento das temperaturas da água do mar ocasionadas pelas mudanças climáticas.
“Temperaturas elevadas no Atlântico já vêm causando o branqueamento de corais de águas rasas do Rio Grande do Norte até Sergipe, incluindo as ilhas oceânicas de Fernando de Noronha, como atestam os trabalhos da equipe e de outros pesquisadores na costa brasileira, mas em áreas profundas este resultado não era esperado”. Geralmente estas zonas são consideradas refúgios climáticos, mais resistentes ao aquecimento do oceano, que é mais intenso nas águas superficiais", afirma o professor.
A descoberta dos cientistas brasileiros revisita uma semana depois que a Administração Nacional Oceânica (NOAA) e Atmosférica e a Iniciativa Internacional para Recifes de Coral (ICRI, na sigla em inglês) divulgaram uma nota afirmando que o mundo passa por um novo episódio de branqueamento em massa de corais.
Segundo cientistas, este pode se tornar o pior período de branqueamento já registrado, mais uma tragédia ambiental consequência do superaquecimento do oceano, gerado pela crise climática. O fenômeno chamou muita atenção na Grande Barreira de Corais da Austrália, no entanto, também vem sendo constatado em outros países, inclusive no Brasil.
Além de mapeamento batimétrico, os pesquisadores da expedição Montes Oceânicos do Ceará estão coletando amostras de sedimento e utilizando câmeras submarinas que permitem a caracterização e o mapeamento do fundo em grande escala.
A iniciativa é realizada pela UFPE, CEPENE/ICMBIO e o Instituto Recifes Costeiros, em parceria com o WWF-Brasil. Estes levantamentos dão sequência a uma série de expedições iniciadas em 2017 que já mapearam os bancos com topos mesofóticos da cadeia de Fernando de Noronha e completa nesta fase o mapeamento dos bancos da Cadeia Norte do Brasil.
Os resultados desta e das expedições anteriores farão parte de um relatório que subsidiará tecnicamente o governo federal no processo para a criação da base legal para a conservação e uso sustentável dos montes oceânicos das Cadeias de Fernando de Noronha e Norte do Brasil.
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2024/05/01/branqueamento-de-corais-na-costa-do-ceara-traz-alerta-sobre-aquecimento-do-oceano-diz-cientistas.ghtml