Ave foi vista em Governador Valadares (MG) por observador. Pesquisador explica que coloração incomum é resultado de problemas na síntese de melanina.
Por Nicolle Januzzi, Terra da Gente
De corpo predominantemente amarelo e penas vermelhas na cabeça, um pica-pau diferente foi flagrado na cidade mineira de Governador Valadares (MG) pelo fotógrafo de natureza Nil Rodrigues, de 36 anos.
O registro movimentou os grupos dos observadores de aves no último mês após ser publicado no WikiAves, uma plataforma colaborativa que reúne informações sobre as espécies de aves do Brasil.
Até onde se sabe, é a primeira vez que um pica-pau-verde-barrado (Colaptes melanochloros) dessa coloração é fotografado. Isso porque a espécie geralmente possui um corpo barrado entre amarelo e preto, com tons esverdeados, além de uma cabeça com detalhes em preto e vermelho.
O pica-pau-verde-barrado ocorre desde a Ilha de Marajó, no Pará, até o Rio Grande do Sul, e para oeste até o Mato Grosso. É encontrado também no Paraguai, Argentina e Uruguai.
Aves com plumagem aberrante, predominantemente amarelada, costumam ser descritas como flavismo ou xantocromismo, de acordo com ornitólogo Luciano Lima. No entanto, ele afirma que um estudo recente sugere abandonar esses termos, uma vez que diferentes mutações podem resultar em aves com coloração amarelada.
Pica-pau raríssimo foi fotografado na cidade de Governador Valadares (MG). — Foto: Nil Rodrigues
A diferença na coloração ocorre por problemas na síntese de melanina — Foto: Nil Rodrigues
O encontro durou poucos minutos e desde 2019 esse pica-pau não foi mais visto — Foto: Nil Rodrigues
Um casal de pica-paus-verde-barrado de coloração comum — Foto: Nil Rodrigues
“No caso desse pica-pau, que é um macho, aparentemente trata-se de uma mutação classificada como ‘ino’, que é resultante de um problema na síntese de melanina, e nesta espécie acaba revelando uma plumagem extensivamente amarelada, ao invés de verde", diz Luciano.
Além da coloração amarelada, outros efeitos associados a esse tipo de mutação presentes na ave são o bico e pés esbranquiçados e o vermelho desbotado, também causados pela diminuição de melanina.
Para Luciano, o registro de Nil não só é raríssimo, como também de extrema importância para a comunidade científica.
“Eu fotografei esse pica-pau em 2019 e, na época, eu registrava a natureza em geral, não era tão focado nas aves como sou agora. Confesso que nem sabia que se tratava de uma raridade, mas há cerca de um ano descobri que era uma ave tão diferente e fiquei muito feliz. É muito bacana a gente ver de perto como a natureza é maravilhosa”. Relembra Nil.
Nil conta ainda que o pica-pau amarelo foi visto por volta das 10h30, no bairro Ilha dos Araújos, que é uma ilha fluvial contornada pelo Rio Doce. A região bem populosa fica perto da área central. “Ele estava em um tronco bem próximo de outros pica-paus-verde-barrado, parecendo ser todos uma família e nosso encontro foi rápido, coisa de 10 minutos”.
Não é incomum ver indivíduos do pica-pau barrado juntos e, de acordo com Luciano Lima, é possível que eles fossem da mesma família.
Além das fotos desse raro pica-pau, o observador Nil Rodrigues também soma outros achados no acervo: trinca-ferro, azulão, ave-pescadora e até o falcão peregrino.
"Temos um grupo de amigos e sempre saímos para passarinhar. Amamos ver as aves livres na natureza e sempre tomamos cuidado ao divulgar as fotos para não atrair pessoas mal intencionadas que queiram pegar esses animais", finaliza.
https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2024/03/06/pica-pau-com-mutacao-genetica-e-fotografado-em-minas-gerais.ghtml