Pesquisa inédita encomendada pela Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG) mostra que 36% dos brasileiros adultos nunca foram ao oftalmologista. Outros 18% fizeram apenas uma consulta em toda a vida.
Conduzido pelo Ibope, o trabalho foi feito com base numa mostra de 2.002 entrevistas em todo o País, em junho.
“Os resultados deixam clara a necessidade de se reforçar o acesso ao tratamento e principalmente à informação”, avalia o presidente da SBG e professor da Universidade Estadual de Campinas Vital Paulino Costa.
O médico afirma não ser incomum serviços receberem pacientes com perda importante da visão provocada pelo glaucoma.
“Como a doença não tem sintomas em seu estágio inicial, muitas vezes as pessoas se dão conta de que algo vai errado somente quando a perda da visão já começou”, afirma. Ele lembra, no entanto, que no glaucoma os danos são irreversíveis.
“Isso muitas vezes surpreende o paciente. Ele acredita que o tratamento trará de volta a visão perdida.” Daí a importância, completa, da agilidade tanto no diagnóstico quanto no início do tratamento.
Pressão
O glaucoma é uma doença progressiva, causada pelo aumento da pressão intraocular. Essa pressão acaba provocando lesões no nervo óptico, perda de visão e, em muitos casos, cegueira. O tratamento é feito com colírios e, em alguns pacientes, com cirurgias.
A prevalência do glaucoma aumenta com a idade. Aos 40 anos, cerca de 2% das pessoas têm a doença. Aos 70 anos, o porcentual salta para 6%.
“O maior receio é de que, com envelhecimento da população e o desconhecimento em torno da doença, o número de casos de cegueira no País aumente consideravelmente”, alerta Paulino Costa.
Da amostra que representa a população geral, 36% nunca ouviram falar em glaucoma. O desconhecimento está presente em todos os níveis de escolaridade. Dos entrevistados com nível superior, 10% disseram não conhecer a doença.
A falsa ideia de que a cegueira causada pelo distúrbio é reversível também foi identificada na pesquisa do Ibope: entre os que conhecem o glaucoma, 88% disseram saber que ele provoca a perda da visão. Mas 41% deles imaginam que o problema pode ser revertido.
Diante desse quadro, a sociedade decidiu lançar uma campanha de alerta para população. Uma das principais mensagens ressalta a importância de se consultar o oftalmologista depois dos 40 anos.
Vital estima que exista no Brasil 1 milhão de pessoas com glaucoma, mas apenas 50% desses pacientes estão em tratamento. Além da falta de informação, afirma, a dificuldade ao acesso a consultas com especialistas, sobretudo em cidades mais afastadas, contribui para percentuais tão elevados.
O coordenador-geral de Média e Alta Complexidade do Ministério da Saúde, José Eduardo Fogolin, surpreendeu-se com dados da pesquisa sobre o acesso da população ao diagnóstico.
“Precisamos checar a amostra usada pelo Ibope, avaliar qual foi o perfil epidemiológico considerado”, diz.
Fogolin disse que o acesso da população às consultas com especialistas aumentou. No ano de 2010, contou, foram 1,7 milhão de consultas. Em 2011, 3,2 milhões.
“Aumentamos o atendimento, incluímos mais uma linha de colírio para o tratamento”, afirma.
Fonte: Agência Estado