Para promotor cearense, questão é política e cabe ao IBGE e à Justiça.
Quando soube que Sumaré, área onde mora há 30 anos, no Ceará, seria integrada ao Piauí, o agricultor Pedro José de Oliveira, de 72 anos, resolveu procurar o Ministério Público para dizer oficialmente que não quer pertencer ao estado vizinho. “Aqui toda a vida foi do Ceará, de Viçosa. Os mais velhos sabem disso. Meu pai morreu com 90 anos e eu já estou com 72”, afirma. A localidade é uma das regiões que estão em litígio entre os estados de Ceará e do Piauí.
Confuso, Oliveira diz que foi ao Fórum de Viçosa do Ceará tirar dúvidas sobre a possibilidade de Sumaré realmente pertencer ao Piauí. “Eu disse: sabe de uma coisa, eu vou falar com o promotor de Justiça. Teve essa confusão, as mães de famílias pobres com medo de perder o cartão do Bolsa Família, para receber [o benefício] de Cocal, essas coisas”, explicou.
O agricultor recorda que pegou um papel que recebeu dos deputados do Piauí e foi ao fórum de Viçosa. Recebeu a informação de que o promotor não estava lá e que havia dias marcados para encontrá-lo. “Não falei com ele, mas falei com a secretária do promotor de Justiça. Contei a história, e ela foi comigo lá no balcão onde a mulherzinha faz petição, faz transferência, faz tudo”, diz.
Ele contou a história para a secretária, que anotou tudo no computador. “Eu disse que a gente não quer ser de Cocal. Ela disse que era tudo política e que não tem nada a ver Palmeiras e Sumaré serem do Piauí”, recorda.
Além disso, Oliveira afirma que ninguém da área quer mudar o título eleitoral para Cocal, no Piauí. “Se vier qualquer coisa do Cocal para cá, a gente quer a anulação. Então, se não houver a anulação, nós queremos um plebiscito”.
O agricultor explica que até empréstimos fez em Viçosa do Ceará, onde possui conta bancária. “Só era para pagar em sete anos com dois anos de carência. Nós não temos medo não. A gente tem que ter fé em Deus”, diz.
Ministério Público
O promotor de Viçosa do Ceará, Ivan Pinheiro Leitão, diz não se lembrar da demanda do agricultor. De acordo com ele, houve um levantamento do IBGE na área, mas que a questão é política, com a Justiça e com o IBGE. O promotor afirma que houve um levantamento do instituto, que mudou duas sessões eleitorais de Viçosa do Ceará para Granja e Tianguá, também no estado. Ivan Pinheiro diz não ter conhecimento de nenhuma alteração de Viçosa para Cocal no Piauí.
Velório
O agricultor Pedro Oliveira chegou a ir a um velório no distrito de Campestre, de Cocal (PI), para encontrar políticos da cidade, na luta em favor de sua causa. “Fui e conversei com esse político de Cocal. Eu disse 'rapaz, como é que vai ficar esse negócio? Ele disse 'olha, vou trazer uns deputados de Teresina (PI), montar uma reunião no Conduru. Para quem for do Piauí, ficar no Piauí, quem for do Ceará, ficar no Ceará. Eu disse 'o que nós queremos é isso mesmo'. Aí, todo mundo fica satisfeito”.
IBGE
O IBGE do Ceará estima que cerca de 29 mil habitantes fizeram parte da contagem de Piauí e Ceará no último levantamento. A contagem da população afeta as verbas do Fundo de Participação dos Municípios, que é proporcional ao número de habitantes. O instituto afirma que fez uma divisão para fins censitários. "Para outros órgãos, continua área de litígio", explica o chefe do IBGE no Ceará, Francisco José Moreira Lopes.
Em ofício de janeiro de 2011 aos municípios, o IBGE fez uma divisão das regiões referente ao Censo de 2010. As localidades de Boqueirão do Cercado, Baixa do Cedro, Pau Ferro, Oitizeiro, Picui, Socorro, Sabiazal, Santa Cruz, Córrego do Lino, Limoeiro, Limoeirinho, Boaçu, Puxi e Lamarão estão no território de Granja, no Ceará. Os povoados de Olho d'água dos Costas estão divididos entre Viçosa do Cearáx e Granja. Já Sumaré foi inserida no território de Cocal, no Piauí.
As áreas onde a indefinição é mais crítica concentram 5.528 habitantes, espalhados por oito distritos. Conduru, Palmeiras dos Ricardos e Grota, estão em Granja, no Ceará (1359 pessoas). Jaboti e Tucuns foram parte para Granja (1359) e parte para Cocal, no Piauí (312). Deus me Livre (526), Sumaré (257) e Campestre (1715) ficaram no Piauí.