Francisco da Xagas Silva ficou sem nenhuma sequela.
Pedro Triginelli e Pedro CunhaDo G1 MG
Francisco da Xagas Silva é eletricista aposentado, tem 66 anos e vive uma vida normal no bairro Floramar, na Região Norte de Belo Horizonte. Quem o vê hoje – frequentando a academia e brincando com o neto – não imagina que há cerca de três anos ele teve 70 paradas cardíacas em menos de 12 horas. “Eles [médicos] já tinham desistido de mim. Hoje estou bem, não sinto diferença. Não tive nenhuma sequela”, disse.
No dia 31 de dezembro de 2008, Silva estava na casa do irmão, quando começou a sentir dores. Ele foi levado para casa e, ao entrar em um veículo do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), ficou inconsciente. “Não lembro de quase nada”, afirmou.
Depois disso, segundo a família, o eletricista teve a primeira parada cardíaca na porta do Hospital Risoleta Tolentino Neves, na capital mineira. De acordo com a filha dele, Ninotchka Lessa, que é enfermeira, a partir daquele momento, o coração de Silva parou e foi reanimado outras 69 vezes. “Os médicos chegavam a todo momento e diziam para esperar o pior porque era muito difícil”, afirmou a filha.
Depois das paradas cardíacas, Silva ficou 14 dias em coma. Ninotchka afirma que os médicos tentaram diminuir a sedação, mas o estado de saúde do pai continuava grave. A filha lembra como se fosse hoje do dia em que recebeu a notícia que o eletricista tinha acordado.
“Estávamos em casa esperando o horário para fazer uma visita, quando o telefone tocou. A gente estava esperando o pior. A enfermeira apenas disse que ele havia acordado e chamou pelo meu filho, Raphael”, explicou. O neto tinha nascido seis dias antes de Silva sofrer as paradas cardíacas.
O aposentado mudou os hábitos depois do susto que levou. Ele afirma que na época fumava quase dois maços de cigarro por dia. “Parei de fumar e hoje frequento a academia quase cinco vezes por semana. Só dou uma recaída quando vejo doces. Sou diabético”, informou. O eletricista já tinha um histórico de doenças como úlcera, tuberculose e uma trombose.
O caso, considerado raro na medicina, fez parte da tese de doutorado da enfermeira Daniela Morais. O estudo – que discorre a respeito de fatores determinantes de sobrevida de pessoas que tiveram paradas cardíacas e receberam um atendimento inicial pelo Samu – será publicado em breve em um periódico científico.
Para enfermeira, que estuda o tema desde 2005, conhecer um paciente como Silva é um grande privilégio. “Eu nunca imaginei encontrar uma pessoa tão bem, após ter passado por tantas situações complicadas”, disse Daniela.
A assessoria de imprensa do Hospital Tolentino Risoleta Neves informou que o paciente foi atendido na unidade de saúde em dezembro de 2008. O hospital não soube dar mais detalhes porque naquela época o sistema ainda não era informatizado e o médico que prestou o socorro não trabalha mais na instituição.
De acordo com a presidente da Sociedade Mineira de Cardiologia, Maria da Consolação Vieira Moreira, o caso como o de Francisco da Xagas Silva não é habitual. Para a especialista, a pessoa que tem parada cardíaca fora do hospital dificilmente sobrevive e, se acontece, normalmente, ela terá sequelas.
Segundo Maria da Consolação, a parada cardíaca é mais frequente após os 40 anos, em ambos os gêneros. Diversas são as causas que podem acarretar o problema. Entretanto, segundo a cardiologista, a parada cardíaca pode ser evitada com o controle do colesterol e da diabetes, verificação da pressão, visitas regulares ao médico, além da evitar hábitos como o fumo e o sedentarismo.
Passados três anos, Silva pensa que o que aconteceu só pode ter sido um milagre. “Não tenho medo de acontecer de novo. Sinto que estou vivendo de novo”, falou.