Produção justa, alimentos mais saudáveis, saborosos e nutritivos. Os produtos orgânicos conquistaram mercado no Brasil e no mundo nos últimos anos e agora ocupam espaço nos carrinhos de compras de muitos consumidores, que se preocupam com o que estão levando para casa.
A busca por frutas, verduras e outros produtos orgânicos aumentou significativamente nos últimos anos. Este setor da agricultura tem apresentado grande desenvolvimento mundial, principalmente na Europa e Estados Unidos, e o Brasil acompanha os números crescentes. Dados da Rede Pão de Açúcar, por exemplo, apontam um crescimento de 30% a 40% nas vendas desses produtos.
Para quem procura uma alimentação mais saudável, os orgânicos são a melhor opção. Produzidos em sistema agro ecológico, sem a utilização de agrotóxicos, eles também são social, ambiental e economicamente justos, além de apresentarem maior riqueza nutricional e melhor sabor.
Os alimentos orgânicos fazem parte de um cenário que constitui o “consumo consciente”. Com informação e cuidado, consumidores têm pesquisado melhor na hora de escolher o que comprar, levando em consideração os aspectos da sua produção.
AFINAL, O QUE SÃO?
A definição oficial do Ministério da Agricultura determina que o cultivo orgânico “utiliza como base do processo produtivo os princípios agros ecológicos que contemplam o uso responsável do solo, da água, do ar e dos demais recursos naturais, respeitando as relações sociais e culturais”. Deixar de utilizar agrotóxicos não é o bastante, é preciso respeitar os diversos aspectos relacionados à produção, para garantir um sistema agropecuário sustentável.
Além de preservar a natureza e a diversidade biológica, as vantagens desse cultivo também estão relacionadas à saúde e à segurança alimentar. O consumo consciente e responsável contribui, também, para a manutenção de uma rede de instituições que trabalham em prol da qualidade de vida para as futuras e atuais gerações.
SAÚDE
A escolha por produtos orgânicos, tanto de origem vegetal como animal, leva à mesa, além de produtos mais saborosos, maior riqueza nutricional e saúde. Mas o Brasil ainda é o campeão mundial no uso de agrotóxicos, pelo terceiro ano consecutivo. Dados do Ministério da Saúde apontam o crescimento de problemas causados por agrotóxicos no País. Segundo o Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do órgão, foram registrados oito mil casos de intoxicações em 2011.
Na lista de doenças relacionadas à ingestão dos também chamados “defensivos agrícolas” estão depressão, má formação congênita, câncer e infertilidade, entre outros. Além dos alimentos, os agroquímicos também se dispersam no meio ambiente, percolam o solo, contaminam os recursos hídricos e também poluem o ar.
EXPERIÊNCIA LOCAL
Em Fortaleza, o mercado de orgânicos também está crescendo. A Feira Agroecológica do Benfica é um dos principais pontos de venda de produtos orgânicos provenientes da agricultura familiar regional.
A ambientalista Fernanda Rodrigues, membro da Associação Alternativa Terrazul, uma das organizadoras da feira, destaca o crescimento do comércio nos últimos dois anos. Segundo Fernanda, além das frutas e verduras, a procura por outros tipos de produtos orgânicos, como pão integral, tofu e cereais, também aumentou.
Fernanda destaca como uma das vantagens da feira o contato direto do consumidor com o produtor, o que contribui para a sua valorização. Ela considera que, além de trazer qualidade de vida, o consumo de orgânicos é um ato político. “É uma forma de reivindicação, de dizer não à agricultura convencional que gera doenças e mortes no campo”, salienta.
MERCADO
No Brasil, a cadeia da produção orgânica está sendo construída gradualmente. Diversos obstáculos como os baixos investimentos realizados nas agroindústrias e na produção, que têm dificuldade de gerar escala devem ser enfrentados.
No entanto, o País encontra-se entre os maiores produtores de orgânicos do mundo, conforme o relatório The World Organic Agriculture, elaborado pelo Research Institute of Organic Agriculture (FIBL) e pela International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM) e (FIBL/INFOAM, 2010). Segundo dados do Censo Agropecuário 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 4,93 milhões de hectares de área destinada ao cultivo de produtos orgânicos.
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a quantidade atual de unidades de produção oficialmente controladas é de 11.500, sendo 620 delas localizadas no Ceará. E esse número só tende a crescer, principalmente, se depender dos consumidores brasileiros que estão cada vez mais familiarizados com o consumo consciente.
Para o presidente da Associação Brasileira de Orgânicos (Brasil Bio), José Alexandre Ribeiro, o setor de orgânicos tem crescido vertiginosamente em todo o mundo, deixando de ser tendência de mercado, para concretizar-se como uma realidade irreversível de um modo de produção com forte demanda. “Cada vez mais o consumidor conscientiza-se da necessidade de consumir alimentos com qualidade e maior valor nutricional, ambientalmente comprometido e socialmente responsável”, ressalta.
CUSTOS
De acordo com o Instituto Biodinâmico (IBD), os custos da certificação dependem do modo como ela é realizada. Para a certificação em grupo, dirigida a grupos de pequenos produtores, agricultores familiares, o processo custa em torno de R$ 300 a R$ 400 ao ano, por propriedade certificada.
Já para a certificação individual, para médios e grandes produtores, e para a indústria, os custos variam, dependendo do tamanho e da complexidade das operações de produção, mas estão em torno de R$ 3 mil anuais.
PREÇO E MERCADO
Por que pagamos mais caro pelos alimentos orgânicos? Segundo o Ministério da Agricultura, há vários pontos a serem levados em consideração quando se analisa os preços, como, por exemplo, o sistema de produção que não funciona em grandes escalas e a demanda maior que a oferta.
Ainda é preciso muito mais investimento para incrementar a produção brasileira, que ainda não consegue atender à demanda do mercado interno.
CERTIFICAÇÃO
Muitas pessoas pensam que produto orgânico é o mesmo que produto natural. Ledo engano. A diferença entre os dois está na certificação. É ela quem dá ao consumidor a garantia de que produtos rotulados como “orgânicos” tenham, de fato, sido produzidos dentro dos padrões da agricultura sem uso de agrotóxicos. “A certificação apresenta-se em forma de selo afixado ou impresso no rótulo ou na embalagem do produto”, como informa a SNA – Sociedade Nacional de Agricultura (http://www.organicsnet.com.br).
O desenvolvimento do mercado de produtos orgânicos depende fundamentalmente da confiança dos consumidores na sua autenticidade, que, por sua vez, só pode ser assegurada pela legislação e/ou programas de certificação eficientes. Pelo outro lado enquadrar a produção orgânica num conjunto de instruções normativas e regulamentos resultará num enorme desafio para os produtores.
A implantação, a partir de janeiro de 2011, do selo único de certificação brasileiro “Orgânicos Brasil” ajudará a organizar os produtos ofertados, deverá trazer transparência ao sistema, construir estatísticas e levar ao público informações sobre os alimentos e produtos consumidos.
As certificadoras autorizadas são credenciadas através do Ifoam (International Federation of Organic Agriculture Movements), uma federação internacional que congrega os diversos movimentos relacionados à agricultura orgânica. No Brasil, as certificadoras fazem parte do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, através do qual os produtores obtêm o selo orgânico.