Número de marcas batidas cai para menos da metade em relação a Pequim, mas os tempos na Inglaterra sem o auxílio dos supermaiôs impressionam
Por Lydia GismondiDireto de Londres, Inglaterra
A natação mundial acordou do último sonho olímpico e reencontrou a realidade em Londres. O que se viu na piscina de Pequim, em 2008, provavelmente nunca mais se repetirá. Foi uma exceção à regra de que é preciso muito esforço e talento para superar limites. De volta ao mundo dos humanos, os recordes mundiais diminuíram de 25 para 9. Efeitos do adeus do maiô da Nasa, que parecia nadar pelo atleta. No Jogos de 2012, no entanto, as marcas voltaram a cair. Na raça, sem tecnologia.
Os Jogos de Pequim receberam uma natação em polvorosa com a descoberta do século nas piscinas. A disputa na China foi a primeira grande competição com o maiô desenvolvido com tecnologias da Nasa. A peça de roupa, feita de poliuretano, aliada à evolução dos próprios nadadores, resultou em um número impressionante de recordes mundiais: 25. Não apenas na disputa por medalhas, como também em eliminatórias e semifinais.
Preocupada com o peso que o traje havia alcançado na modalidade, a Federação Internacional de Natação (Fina) resolveu proibir o uso dos maiôs tecnológicos a partir de 2010. A decisão, embora apoiada pela grande maioria dos envolvidos, deixou uma sensação de que talvez esses recordes mundiais demorariam anos, quem sabe uma década, para voltarem a cair. O jejum, porém, durou apenas um pouco mais de um ano. Em 2011, duas marcas masculinas foram superadas (200m medley e 1500m). Mas a surpresa maior ainda estava por vir. No Centro Aquático de Londres, foram outras nove quebras.
- Em Pequim, foi onde realmente os recordes aconteceram por conta dos trajes. Foi um benefício muito grande. Aqui, surpreendeu pelo número de recordes mundiais. Nove recordes mundiais superaram a expectativa de todo mundo. É uma marca muito boa - explicou Alexandre Pussieldi, técnico e comentarista do SporTV.
Em Londres, ficou claro que as previsões subestimaram a capacidade de superação dos nadadores e de quem busca insistentemente métodos para aprimorar as técnicas contra o relógio. Sem os maiôs espaciais, Rebecca Soni (200m peito), Cameron van den Burgh (100m peito), Daniel Gyurta (duas vezes os 200m peito), Yang Sun (1500m), Dana Vollmer (100m borboleta), Missy Franklin (200m costas), Shiwen Ye (400m medley) e o revezamento americano do 4x100m medley feminino provaram na piscina dos Jogos Olímpicos de 2012 que não é possível prever onde está o limite humano.
Quando acabaram os trajes, os treinadores tiveram que fazer adaptações em seus trabalhos, procurar outras formas de compensar o ganho que ele trouxe. Só que isso aconteceu muito mais rápido do que se esperava - garantiu Pussieldi.
O nadador americano Ryan Lochte, que conquistou cinco medalhas em Londres, foi o primeiro a bater recorde mundial após o fim dos supermaiôs. Em 2011, melhorou a marca dos 200m medley no Mundial de Xangai. Nas Olimpíadas, os dois ouros garantidos não vieram acompanhados de novos tempos. Ainda assim, ele acredita que os próximos anos serão promissores para a natação mundial.
- É como em qualquer esporte. Todos os anos as pessoas acham maneiras de ficarem melhores. Eu acho que, nos próximos anos, mais recordes mundiais serão quebrados.
Comparando os tempos das medalha de ouros de Pequim com as de Londres, é possível notar que 20 de um total de 32 tiveram marcas menores do que as da China. Em alguns casos, a diferença impressiona. O tunisiano Oussama Mellouli subiu no lugar mais alto do pódio dos 1.500m livre, em 2008, com 14m40s84. Já o chinês Yang Sun foi campeão este ano com 14m31s02 (RM). Em uma prova de apenas 100m, no estilo borboleta, a americana Dana Vollmer venceu com 55s98 (RM), quase um segundo a menos que a australiana Libby Trickett (56s73), na última edição. Outro número impressionante foi o alcançado pela chinesa Shiwen Ye, que estipulou 4m28s43 (RM) nos 400m medley, com apenas 16 anos.