Quixelô Após a interdição do matadouro público de Iguatu, ocorrida no ano passado, pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), a matança de bovinos, ovinos e suínos foi transferida para a unidade da vizinha cidade de Quixelô, que é pequena e não atende a demanda e nem às normas de vigilância sanitária e de proteção ambiental. As condições são precárias. Os animais são abatidos com uso de machado e o corte das peças é feito no chão.
A Semace interditou o matadouro de Quixelô em fins de junho passado, mas, decorrida uma semana, a matança voltou a ser feita normalmente. Diariamente, são abatidos em média cerca de 50 animais, oriundos da cidade de Quixelô e de Iguatu. O espaço é pequeno para comportar os operários e os bichos. O trabalho começa por volta das 2 horas da madrugada e se estende até as 10 horas da noite.
Os marchantes e donos de animais concordam que o abate ocorre em condições precárias, mas avaliam que, se for suspensa novamente, a situação ficará pior. "Quando o matadouro foi interditado, há aproximadamente um mês, muita gente passou a matar na moita, em sítios próximos à Iguatu, sem nenhuma higiene e fiscalização sanitária", disse o criador, José Oliveira. "Outros levaram para Acopiara e a despesa ficou elevada".
O produtor Joaquim Lima observou que o matadouro da cidade de Quixelô, além de antigo, não foi construído para atender uma demanda elevada. "Qualquer pessoa percebe que não há mínimas condições de funcionamento", disse. "Os animais ficam no chão, são abatidos com machadadas e o piso e paredes estão estragados". Segundo ele, falta também sistema de tratamento para a água servida e os demais dejetos.
O encarregado do matadouro de Quixelô, Renato Bezerra Rodrigues, explicou que a matança dos animais vindos da cidade de Iguatu é provisória. "No próximo dia 15, o abatedouro de Iguatu, que é moderno, será inaugurado", disse. "Estamos enfrentando uma situação crítica, mas que é passageira".
Renato Rodrigues disse que há um esforço dos operários para manter o espaço de matança sempre limpo, com uso de água constantemente. "Reconhecemos que as condições são precárias, mas fazemos a matança controlada, de poucos animais de cada vez, e trabalhamos ao longo do dia", explicou.
Sobre a interdição do Matadouro Público de Quixelô, ele disse que após cinco dias foi suspensa. "Houve um pedido nesse sentido, tendo em vista a proximidade de conclusão do abatedouro de Iguatu", disse. "Pelo menos, essa é a informação que temos conhecimento".
A situação do matadouro público de Quixelô reflete uma realidade comum à maioria das cidades do Interior do Estado. As unidades de abate funcionam de forma precária, sem atender as normas da vigilância sanitária e de proteção ao meio ambiente. Esse quadro faz parte de constatação feita pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV). É uma realidade que se repete nas últimas décadas e tem se agravado com o aumento dos núcleos urbanos.
O CRMV constatou, por meio de fiscalização periódica, que 90% dos matadouros públicos no Ceará funcionam de forma inadequada. Geralmente, o órgão atua em solicitação do Ministério Público Estadual ou por denúncia de moradores. Recentemente, o presidente do Conselho de Medicina Veterinária, José Maria dos Santos Filho, disse que a situação é preocupante. "Os problemas se repetem nos matadouros, que muitas vezes são apenas restaurados", observou. "É uma questão de política pública que precisa ser priorizada", defende ele.
Inicialmente, o abatedouro de Iguatu estava previsto para ser inaugurado em 28 de julho passado, mas foi adiado. Uma nova data foi anunciada para o próximo dia 15. O prefeito de Iguatu, Agenor Neto, esclareceu que a transferência decorreu de atraso na instalação de equipamentos por parte de uma empresa que foi contratada. "A obra está pronta e é a mais moderna do Interior do Ceará, dentro dos padrões de exigência de sanidade animal e ambiental", disse. "O abatedouro tem caráter regional e estamos prontos para firmar convênio com outros Municípios da região".
O abatedouro de Iguatu será gerido por uma empresa privada que venceu concorrência pública e firmou contrato com o Município. "A empresa nos garantiu que, em dez dias, conclui a instalação dos equipamentos", afirmou o prefeito, Agenor Neto.
Projetos regionais
O CRMV propõe ao Governo do Estado a construção de abatedouros regionais, em forma de consórcio entre os Municípios. A ideia tem por objetivo a economia de recursos e a oferta de um serviço adequado dentro das normas de saúde pública, de vigilância sanitária e do meio ambiente a partir da centralização em uma cidade polo do abate de animais.
No ano passado, na região Centro-Sul, a Semace interditou matadouros nas cidades de Iguatu, Cariús e Orós. Neste ano, foi interditado o de Quixelô. A Assessoria de Imprensa da Semace não informou, entretanto, até o fechamento desta edição, se houve a suspensão provisória da proibição de matança na unidade de Quixelô e quantas unidades estão fechadas por ordem administração do órgão no Interior do Ceará.
Mais informações:
Conselho Regional de Medicina Veterinária
Telefone: (85) 3272. 4886
Prefeitura de Quixelô
Telefone: (88) 3579. 1210
HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER