Ao lado de Cameron, Dilma diz que Brasil faz sua parte para conter crise

Reunião resultou em 6 acordos, que incluem Olimpíadas, bolsas e cinema.

Priscilla Mendes e Iara LemosDo G1, em Brasília

O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, e a presidente Dilma Rousseff, durante declaração à imprensa após reunião bilateral no Palácio do Planalto.

A presidente Dilma Rousseff recebeu nesta sexta-feira (28), no Palácio do Planalto, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron. Na declaração à imprensa ao lado do premiê britânico, ela afirmou que o Brasil vem fazendo sua parte no esforço para superação da crise econômica internacional.

A reunião bilateral entre os dois chefes de governo durou quase duas horas, com assinatura de atos de cooperação entre os dois países. No discurso, Dilma afirmou que, entre outros assuntos, conversou com Cameron sobre a situação econômica do Reino Unido e da Europa.

"O Brasil tem feito a sua parte no que se refere a recuperação mundial quando desenvolvemos incentivos ao crescimento do emprego e a demanda doméstica. E fiz ver ao primeiro-ministro que, em plena crise, temos aumentado nossas importações", afirmou a presidente.

Na última terça, ao fazer o discurso de abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York, a presidente criticou as políticas para enfrentamento da crise adotadas por países ricos. Segundo ela, as políticas fiscais ortodoxas dos países desenvolvidos agravam a recessão e provocam efeitos nocivos nas economias dos países em desenvolvimento.

Comércio com o Reino Unido
Na declaração à imprensa nesta sexta, a presidente destacou o crescimento no comércio entre Brasil e Reino Unido, que passou de US$ 7,8 bilhões em 2010 para US$ 8,6 bilhões em 2011, além do crescimento no investimento direto. Segundo o Itamaraty, no ano passado, o estoque de investimentos britânicos no Brasil cresceu em US$ 2,7 bilhões, o que faz do Reino Unido o 6º maior investidor no país.

"Revisamos vários aspectos da nossa parceria estratégica. A despeito da crise econômica e financeira internacional, os fluxos de comércio e investimento entre Brasil e Reino Unido tem registrado contínuo crescimento. Nós consideramos que eles podem aumentar ainda mais", declarou a presidente.

Irã e Oriente Médio
A presidente comentou ainda a situação do Irã, país que vem sendo advertido por potências ocidentais, que temem que seu programa atômico tenha fins militares. "Me preocupa a crescente retórica em prol de uma ação militar no Irã. Qualquer iniciativa desse tipo constituiria uma violação da Carta da ONU com graves consequências para o Oriente Médio", disse.
Nesta quinta (27), em discurso na ONU, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que a comunidade internacional precisa estabelecer uma "linha vermelha clara" para conter a construção de armas nucleares no país persa.

Segundo Netanyahu, no próximo verão (inverno de 2013 no Brasil), o Irã vai estar prestes a ter urânio enriquecido suficiente para fazer uma primeira bomba nuclear. Analistas internacionais avaliam que, se isso for concretizado, Israel poderia atacar o Irã em 2013.

Dilma afirmou que o "multilateralismo deve nos guiar a todos na busca pela solução dos conflitos no Oriente Médio". A resolução dos conflitos na região, disse, "só será viável com maior participação da comunidade internacional e nós consideramos que postergar a resolução desse conflito só serve para favorecer os interesse extremistas que existem em todos os lados".

Em sua fala, David Cameron defendeu que o Brasil se torne um membro permanente do Conselho de Segurança da ONUx. Segundo ele, Brasil e Reino Unido vão trabalhar de forma conjunta para erradicar com a pobreza do mundo. "Temos o interesse de trabalhar no painel da ONU para erradicarmos a pobreza do mundo. Importa para os nossos povos e para o resto do mundo", afirmou.

Olimpíadas
Em seu discurso, Cameron afirmou que 22 empresas britânicas já fecharam contrato com o Brasil para obras da Copa do Mundo e Olimpíadas, no valor de 50 milhões de libras (cerca de R$ 164 milhões). "Queremos transformar este momento ímpar para a parceria destes países. Estou aqui para abrir as portar para que mais empresas britânicas se tornem parceiros", disse.

Dilma disse que o Brasil já começou a fazer a "contagem regressiva" para as Olimpíadas do Rio 2016. Ela elogiou os jogos deste ano, que foram “brilhantemente organizados pelo Reino Unido. Com o encerramento dos jogos de Londres, a tocha olímpica começa a fazer a sua transição para o Brasil e nos começamos a fazer a nossa contagem regressiva.

Acordos
Dilma e Cameron assinaram nesta tarde seis atos de cooperação, sendo três deles relacionados ao programa Ciência sem Fronteiras, que incentiva brasileiros a realizarem intercâmbio acadêmico no exterior. O Reino Unido vai conceder 10 mil bolsas de estudo no país entre 2012 e 2015. Foi criado ainda um comitê de revisão anual para examinar a ampliação progressiva do programa.

Um dos atos diz respeito ao compartilhamento de informações, planejamento e criação de legados relacionados organização dos Jogos Olímpicos. Outro acordo, de natureza tributária, permite troca de informações entre as receitas federais do Brasil e do Reino Unido.

Os dois chefes de governo assinaram ainda acordo de coprodução cinematográfica entre a brasileira Ancine e a British Film Institute (BFI). Pelo acordo, filmes realizados em coprodução entre Brasil e Reino Unido podem receber os benefícios governamentais concedidos a produções nacionais em ambos os países.

Em seu discurso, em tom de brincadeira, Cameron disse que espera que a parceria no cinema produza filmes de grande sucesso. "Para que nossos astros produzirem outros filmes inesquíveis, como o do James Bond pendurado no Pão de Açúcar". Era uma referência ao 11º filme da série do agente secreto, "007 Contra o Foguete da Morte" (1979), estrelado por Roger Moore e rodado em parte no Rio.