Lula se reúne na COP27 com enviados do clima de EUA e China
Na quarta, Lula participará de um evento em que os governadores amazônicos lançarão uma iniciativa chamada de “Carta da Amazônia
Por Ana Rosa Alves* — Sharm el-Sheikh
Lula com o enviado chinês para o clima, Xie Zhenhua Ricardo Stuckert/Divulgação
Presidente eleito, hospedado pelo governo local, também conversará com representante climático da União Europeia na quarta
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que desembarcou no Egito para a COP27 de madrugada, se reuniu nesta terça-feira com os enviados americano e chinês para o clima, John Kerry e Xie Zhenhua. O encontro foi a portas fechadas, na véspera de o petista começar sua agenda pública na conferência climática da ONU, onde era aguardado com expectativa.
Na quarta, o presidente terá um encontro bilateral com o comissário climático da União Europeia, o holandês Frans Timmermans. Hoje, ele também conversou por telefone com o presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, que o convidou oficialmente para a conferência no balneário de Sharm el-Sheikh, às margens do Mar Vermelho, e cedeu hospedagem para o petista.
De acordo com a assessoria de Lula, nos encontros com Kerry e Xie o presidente eleito reiterou sua intenção de levar o Brasil de volta às conversas sobre meio ambiente e questões globais sem negacionismo sobre o aquecimento do planeta provocado pela ação humana. O americano e o chinês são velhos conhecidos de conferências climáticas e, na COP26 em Glasgow, na Escócia, contribuíram para que houvesse consenso na declaração final.
Hoje, Lula já se encontrou também com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e com uma série de autoridades como os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Katia Abreu (PP-TO) e Eliziane Gama (Cidadania-MA).
Outra agenda do presidente nesta terça foi com a deputada federal eleita (Rede-SP) e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Um dos nomes mais cotados para assumir o controle da pasta a partir de 1º de janeiro, ela disse que o encontro foi para brifar o presidente eleito sobre a extensa agenda bilateral que teve desde que chegou no Egito.
— Uma coisa importante é que a minha vinda aqui é para mostrar ao povo brasileiro, ao mundo, que o Brasil está de volta ao cenário mundial para discutir clima, economia, desigualdade, desemprego — disse Lula no encontro. — E nessa questão do clima, o Brasil pode ser um país muito importante nas decisões que o mundo vai tomar daqui pra frente. Não abriremos mão da soberania da Amazônia, mas queremos compartilhar uma saída para que o mundo viva melhor a partir daquilo que a Amazônia tem a oferecer para o mundo.
Kerry foi um dos que conversou com a deputada eleita. Na semana passada, em entrevista ao Valor Econômico, ela disse que a reunião foi uma iniciativa do enviado de Biden e que o americano sinalizou o interesse da Casa Branca em estabelecer e aprofundar parcerias com o Brasil em várias frentes.
O enviado climático do presidente Joe Biden foi o primeiro funcionário do alto escalão do governo americano a se encontrar oficialmente com o petista desde a vitória no segundo turno em 30 de outubro. Biden, contudo, telefonou para Lula para parabenizá-lo e ressaltar a" força das instituições democráticas" do Brasil. Uma visita a Washington também está sendo articulada, segundo o conselheiro de Segurança Nacional americano, Jake Sullivan.
Sharm el-Sheikh, sede da COP27, é conhecida como a Cancún do Oriente Médio
A conferência internacional da ONU sobre as mudanças climáticas (COP27) ocorre em novembro de 2022 num turístico balneário egípcio
Na comitiva do presidente eleito estão o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e a futura primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja. Lula não irá ao pavilhão da COP nesta terça, mas sua mulher fez uma visita ao espaço.
Na quarta, Lula participará de um evento em que os governadores amazônicos lançarão uma iniciativa chamada de “Carta da Amazônia: uma agenda comum para a transição climática”. Ao seu lado, participarão presencialmente os governadores Gladson Cameli (AC), Mauro Mendes (MT), Helder Barbalho (PA), Wanderlei Barbosa (TO) e Marcos Rocha (RO).
O encontro será às 11h (7h em Brasília) no espaço que os governadores amazônicos têm na zona diplomática da COP — além deles, o governo federal tem seu próprio megaestande e a sociedade civil tem um espaço próprio, o Brazil Climate Action Hub. Também na quarta-feira, o presidente eleito fará um pronunciamento na Zona Azul da COP, nome dado ao espaço diplomático da conferência. Em seguida, ele dará uma entrevista coletiva.
Na quinta, Lula terá um encontro com representantes da sociedade civil brasileira no Brazil Climate Action Hub — iniciativa que está em sua terceira COP consecutiva. Foi lançada em 2019 após o governo Bolsonaro e o MMA, então sob o comando de Ricardo Salles, não pôr um pavilhão naquela COP. Desde então, tem sido um espaço de reflexão e crítica às políticas ambientais da gestão atual.
Depois, Lula terá um encontro com o Fórum Internacional dos Povos Indígenas e o Fórum dos Povos sobre Mudança Climática. Uma das promessas do presidente eleito é criar pela primeira vez um Ministério dos Povos Originários, e o nome da deputada eleita Sônia Guajajara (Psol-SP) para comandar a pasta teria sido o primeiro sobre o qual houve acordo no governo de transição.
Em um evento no espaço da sociedade civil na segunda, contudo, ela criticou a ausência dos povos indígenas e originários no governo de transição:
— A criação do Ministério dos Povos Originários vem sendo amplamente anunciada, isso vem sendo repercutido a cada dia na mídia. Mas nós, os maiores interessados, ainda não fomos convidados para compor a equipe de transição — disse ela. — É muito importante que de fato haja esse movimento de consulta para que a gente possa construir o que de fato será esse ministério.
*A repórter viajou a Sharm el-Sheikh, no Egito, a convite do Instituto Clima e Sociedade (iCS)
https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2022/11/lula-se-encontrara-com-enviado-do-clima-dos-eua-na-cop27-nesta-terca.ghtml?utm_source=globo.com&utm_medium=oglobo
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