68 mil mulheres buscam vagas na RMF; construção dá espaço
A previsão de instalação de grandes empreendimentos no Ceará, nos próximos anos, associada a mudanças na dinâmica da economia nos últimos meses, tem tornado mais nítidos questionamentos que persistem desde que a mulher passou a se inserir com mais força no mercado de trabalho. Historicamente mais exposta à situação de desemprego, a mão de obra feminina tem encontrado maior dificuldade de inserção na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), sobretudo por conta do desempenho negativo do setor de serviços, que, em 2013, foi responsável pela perda de 18 mil ocupações.
Ao mesmo tempo, a geração de vagas na RMF tem sido impulsionada pela construção civil e pela indústria de transformação - setores que tendem a absorver sobretudo mão de obra masculina e que deverão ser responsáveis pela criação de dezenas de milhares de novos postos de trabalho nos próximos anos.
Pressão
Ao todo, 68 mil mulheres têm procurado vagas na RMF, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Correspondendo a 54,5% do total de desempregados, elas costumam enfrentar desafios que se estendem desde a procura por oportunidades até o fim da trajetória profissional.
Logo que são contratadas, muitas se deparam com a remuneração inferior à masculina, o que é agravado pelo preconceito existente na hora de ascender na profissão.
Além disso, a dificuldade em conciliar o trabalho e as atividades domésticas, bem como a insuficiência de políticas públicas persistem como entraves que ameaçam o aproveitamento das novas oportunidades por parte das mulheres.
Exemplos de determinação
Apesar dos entraves, não faltam na Capital e em cidades vizinhas exemplos de mulheres que - por necessidade financeira ou desejo de realizar-se profissionalmente - continuam pressionando o mercado e se tornando cada vez mais frequentes em cursos de capacitação. A busca pela qualificação - com mais participação feminina - tem acontecido mesmo em áreas onde elas pouco se inseriam, como computação e eletrônica.
Em um Estado que aposta na atração de indústrias buscando o desenvolvimento econômico vertiginoso, as desigualdades que persistem, apesar da geração recente de renda e de novos postos de trabalho, fazem com que o papel da mulher na construção do Ceará dos próximos anos, embora indispensável, ainda seja incerto.
JOÃO MOURA
Repórter
Opinião do Especialista
É preciso garantir qualidade
As falhas encontradas nas relações de trabalho no Ceará estão ligadas ao próprio desenvolvimento da economia no Estado, onde a formação do mercado não se deu através de uma indústria pujante, por exemplo, mas sim a partir do comércio. O comércio cearense é um dos melhores do Brasil. O problema é que ele é um setor que, tradicionalmente, paga maus salários e apresenta dificuldades para de oferecer melhores condições de trabalho, ao mesmo tempo em que tem facilidade para tornar as relações informais.
Quando os outros setores, como a indústria, começaram a se desenvolver, espelharam-se no pior exemplo, que era o comércio, o que faz com que diversas atividades se deem através de condições precárias. Um exemplo disso é a mão de obra feminina na indústria de confecção, na qual a produção é rateada em facções na periferia de Fortaleza. É um setor que emprega muita gente, mas sem carteira assinada e sem jornada definida.
As iniciativas desempenhadas pelo poder público têm, sim, atraído mais empregos para o Estado, o que é bom. Questiona-se, porém, a qualidade das vagas. Isso se torna pior devido à falta de planejamento, quanto a infraestrutura e políticas públicas, diante da insuficiência, por exemplo, de unidades de ensino perto das indústrias.
Ediran Teixeira
Economista do Dieese
Comentários