Diferença salarial ainda persiste entre homens e mulheres
ENTRE GÊNEROS
Por ter uma remuneração menor que os homens, as mulheres costumam ter menos possibilidades de pagar cursos de capacitação profissional, como de corte e costura ou de outras áreas
Na indústria da Região Metropolitana de Fortaleza, elas ganham em torno de 70% do salário dos homens
Se conseguir o primeiro emprego já é uma tarefa difícil para as cearenses, conseguir uma vaga com condições iguais às dos homens se torna ainda mais complicado, sobretudo em setores onde predomina a mão de obra masculina. Longe de afetar apenas as trabalhadoras, essa situação também prejudica aqueles que dependem da renda delas, as quais acabam tendo mais dificuldade para se qualificar.
Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), o rendimento médio das mulheres corresponde a menos de 80% do que os homens recebem. O cenário se agrava na indústria, onde as trabalhadoras da RMF ganham em torno de 70% do salário masculino, conforme a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED).
Segundo o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Ediran Teixeira, a divergência na remuneração tem reduzido a cada ano, mas ainda a um ritmo muito lento. "Mesmo tendo dois anos a mais de estudo, não conseguem as mesmas condições de trabalho", comenta.
36 anos para igualar
Conforme Ediran, a diferença salarial tem caído em torno de 0,03% a cada mês. Se esse ritmo for mantido, indica, a remuneração de homens e mulheres na RMF só será igualada daqui a 36 anos. Ele acrescenta que é comum trabalhadoras terem menor remuneração mesmo ocupando cargos que exijam alta qualificação. Ele cita o exemplo de empresas que, ao precisar de engenheiros, tendem a contratar homens. Quando contratam uma mulher, acrescenta, ela acaba exercendo uma função de auxiliar outro engenheiro que tem a mesma formação.
"Ela exerce a mesma função, tem a mesma jornada, mas, como a forma de inserção é precarizada, ela recebe menos e dificilmente ascende a um cargo de chefia. Quando isso acontece, é muitas vezes no setor público, através de concurso", ilustra. O economista ressalta ainda que, por costumeiramente terem de arcar com uma série de tarefas domésticas, as mulheres são vistas pelas empresas como profissionais que têm menos tempo para se dedicar ao trabalho, sobretudo por conta da eventual necessidade se licenciar após ter um filho. "E, com esse preconceito enraizado, a mulher é vista não como uma figura produtiva, mas como um custo", frisa.
Dificuldade de qualificação
Conforme a professora do curso de Economia Doméstica da Universidade Federal do Ceará (UFC) Sande Gurgel, um dos impactos da diferença no salário por conta do gênero é a redução da renda familiar, o que, entre outras implicações, diminui a possibilidade de maior qualificação das mulheres e mesmo dos filhos - futuros profissionais que participarão da População Economicamente Ativa (PEA).
Para Ediran, as empresas não devem ver trabalhadores dos dois gêneros como profissionais exatamente iguais, mas sim valorizar também as qualidades femininas. "Enquanto profissional, a mulher tem capacidades diferentes do homem. Ela assimila melhor as informações e tem um pensar diferente", salienta. (JM)
Comentários