Após 114 anos desaparecida, espécie de periquito ameaçada retorna à Caatinga

Durante cinco meses, os 18 periquitos permaneceram em recintos de aclimatação dentro da reserva

Ascom Semace - Texto e fotos

Após mais de cem anos sem registros do periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus) na região do Planalto da Ibiapaba, entre os municípios de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI), 18 exemplares da espécie ameaçada foram reintroduzidos na Reserva Natural Serra das Almas (RNSA), no Ceará, nesta quinta-feira (12).

Essa iniciativa faz parte do projeto Refaunar Arvorar, promovido pelo Parque Arvorar, do Beach Park, em colaboração com as ONGs Associação Caatinga e Aquasis. A ação contou com a partici-pação do fiscal ambiental, Roberto Cavalcante e da gestora ambiental, Marina Lopes, da Superin-tendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), além de fiscais do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

Esse esforço está alinhado ao Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves da Caatinga, uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente destinada à proteção de espécies nativas ameaçadas. Antes da soltura, os periquitos passaram por rigorosas avaliações realizadas por biólogos, veterinários e zootecnistas, que garantiram a saúde das aves e sua adaptação ao novo ambiente.

Período de reabilitação

Durante cinco meses, os 18 periquitos permaneceram em recintos de aclimatação dentro da reserva, um período crucial para sua familiarização com o local, estabelecimento de vínculos familiares e fortalecimento da adaptação ao ambiente. Esse processo aumenta consideravelmente as chances de sucesso da reintrodução e da sobrevivência das aves.

A seleção dos indivíduos para a reintrodução na Serra das Almas seguiu critérios rigorosos adotados na soltura realizada na Serra da Aratanha, em 2022. Entre os requisitos, destacam-se a pertença dos animais a grupos familiares de vida livre, o que garante maior coesão social e facilita sua adaptação ao novo ambiente.

Além disso, as aves foram escolhidas por estarem habituadas ao uso de caixas-ninho, o que facilita o manejo durante o processo de soltura. Outro fator importante foi o treinamento prévio para o uso de comedouros, uma preparação essencial para a aclimatação gradual e bem-sucedida dos indivíduos ao habitat natural.

Marco significativo na Caatinga

“Foi um privilégio poder presenciar a soltura dos periquitos-cara-suja. Me emocionei ao ver as aves voltarem à natureza depois de tantos anos do último registro comprovado na região. Fiquei com a certeza de que, com o esforço conjunto, a natureza pode se recuperar, e que, em breve, poderemos ver outras ações semelhantes, com outras espécies ameaçadas no Ceará”, explica Roberto Cavalcante, integrante da equipe de fiscais ambientais da Semace.

Além disso, três periquitos que haviam sido apreendidos pelo Ibama e acolhidos no Parque Arvorar também serão transferidos para a reserva, onde passarão por um novo processo de aclimatação antes de serem soltos definitivamente.

A Reserva Natural Serra das Almas já se consolidou como um refúgio para diversas espécies que retornaram espontaneamente à região, como a paca, o tatu-bola e o guariba-da-caatinga. No entanto, espécies extintas localmente, como o periquito-cara-suja, as emas e as araras, requerem intervenções diretas, como a reintrodução, para se reintegrarem ao seu habitat original. A colaboração entre organizações, órgãos ambientais e especialistas tem sido essencial para o sucesso dessas iniciativas de conservação. 

https://www.ceara.gov.br/2024/12/15/apos-114-anos-desaparecido-especie-de-periquito-ameacada-retorna-a-caatinga/