Reservatórios estratégicos não apresentam aporte significativo
Reservatórios ainda com pouca recuperação de água
[caption id="attachment_134867" align="alignleft" width="300"] Maior açude do Ceará, o Castanhão acumula 5,57% da sua capacidade ( Foto: Honório Barbosa )Clique para ampliar[/caption] As chuvas ainda não melhoraram de forma significativa o nível dos açudes estratégicos para o abastecimento por Honório Barbosa - Colaborador Iguatu. A água que abastece cerca de 45% da população do Ceará, concentrada na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), é oriunda do Semiárido, onde chove menos do que a faixa litorânea. Essa realidade geográfica impõe uma dependência dos municípios do entorno da Capital das águas do sertão e exige do governo um esforço para a transferência do recurso hídrico. As últimas chuvas ainda não melhoraram de forma significativa o nível dos reservatórios estratégicos para o abastecimento das cidades. Leia mais Governo aposta na transposição Em plena quadra chuvosa, o quadro permanece preocupante. O temor do governo do Estado é de agravamento da crise a partir do segundo semestre deste ano, caso não se observe recargas nos açudes responsáveis pelo abastecimento humano dos maiores centros urbanos. Hoje, o Ceará, em média, acumula 8,5% de sua capacidade hídrica, nos 153 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). Em 1º de janeiro passado, o Ceará, em média, acumulava 6,6% de sua capacidade hídrica. "A situação é grave e preocupante", afirma o diretor de Planejamento da Cogerh, Ubiratan Patrício. "Ainda não chegamos ao nível do fim da quadra chuva de 2016, que era de 11,9%". Já foram decorridos 45 dias do atual período de chuvas. Ilusão O registro de chuvas em várias cidades, desde fevereiro, com cheia de alguns riachos, pode nos apresentar uma ideia falsa da realidade, de que no sertão o quadro de estiagem que castiga o Ceará desde 2012 ficou para trás. Não é verdade. Imagens de água escorrendo e de açudes sangrando não significam necessariamente que o risco de desabastecimento está superado. "Houve recargas pontuais, melhoria em alguns reservatórios, mas o quadro geral ainda não foi alterado. É preciso esclarecer que a chuva por si só não se transforma em aporte. É necessário ter intensidade, que chova muito, em poucas horas, na bacia do reservatório, nas cabeceiras dos riachos e rios para que se tenha o escoamento até o açude", explica Ubiratan Patrício. Para o abastecimento das 11 cidades da RMF, além das águas do Castanhão, há o sistema interligado de cinco açudes locais: Pacoti, Riachão, Gavião, Aracoiaba e Pacajus. Exceto o Gavião, onde está a Estação de Tratamento de Água da Cagece, e permanece cheio por causa da transferência de água, os demais acumulam volume reduzido. Aracoiaba (7%), Pacajus (16,2%) e Pacoti (17,2%). "Para reabastecer os açudes da RMF é preciso chover de forma intensa na região de Pacatuba e em Baturité", observa Patrício. Para que ocorra aportes nos médios e grandes reservatórios, há necessidade de chuvas intensas, rápidas, na bacia hidrográfica do reservatório. Caminho das águas Há um ditado popular que afirma que "a água corre para o mar". De fato, quando os açudes estão transbordando ou quando não há barramentos nos cursos dos rios esse é o caminho natural. Na faixa litorânea é isso que acontece, mas a chuva que banha as bacias hidrográficas nas serras, encostas, vales, grotas e riachos, no sertão, chega aos rios e daí aos açudes. Centenas de açudes contribuem para represar a água das chuvas no sertão. As bacias do Alto Jaguaribe, Salgado (Cariri) e Médio Jaguaribe definem o regime de água que chega ao Castanhão, que barra o Rio Jaguaribe em Alto Santo. É o maior açude do Estado e estratégico para o abastecimento da RMF. Nos últimos dias, a água que escorre no Rio Salgado, no município de Icó, deságua no Jaguaribe e daí para o Castanhão. "Se não houver uma cheia elevada no Salgado, não teremos aporte importante no Castanhão, que é um açude grande e estratégico para a Região Metropolitana e o Baixo Jaguaribe", frisa Patrício. Como os açudes estão secos, é preciso muita chuva para encher os primeiros reservatórios, ao longo de cursos de rios, que abastecem os reservatórios maiores. Os três maiores açudes do Ceará acumulam baixo volume: o Castanhão (5,6%), o Orós (9,8%) e o Banabuiú (0,6%). "A água diretamente da chuva sobre o reservatório não contribui para o regime de cheia. É preciso que acumule nos riachos, escorra para os rios e daí para os açudes. Sem a cheia dos principais rios, os maiores açudes não vão registrar significativos aportes", explica o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Raul Fritz. "É preciso chover bem, de forma intensa e com regularidade em áreas das bacias do Salgado (no Cariri) e do Alto e do Médio Jaguaribe para aporte hídrico no Orós e no Castanhão", observa.
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