Reserva de alimentos para pecuária é menor do que 2013

CULTIVOS REDUZIDOS

Russas. Produtores e Governo do Ceará estão atentos para uma possível escassez de alimentação animal já no próximo semestre, como reflexo do quadro de seca que vem se alastrando pelo seu terceiro ano consecutivo. A oferta de produtos agrícolas para a pecuária, até o momento, é menor do que a produzida no ano passado.

Algumas estratégias de curto e a longo prazo já estão sendo adotadas para suprir a demanda alimentar e diminuir os impactos negativos registrados em 2013, como exemplo a perda de 10% do rebanho cearense. Para a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), ainda é preciso fazer muito mais para que a seca deixe de ser um problema para a economia cearense.

Enquanto de um lado irrigantes do Perímetro Irrigado Jaguaribe/Apodi estão mantendo a cautela na produção de milho para produção de silagem e forragem . Isso se dá porque, no primeiro semestre de 2013, muitos produtores vendo a escassez de comida para animal resolveram investir nesse tipo de produção e tiveram prejuízos em decorrência do aumento da oferta em relação à procura e a consequente queda no preço de mercado. Paralelamente, o governo do Estado através da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) vem incentivando o cultivo de palma forrageira principalmente nas áreas de sequeiro, envolvendo pequenos produtores.

De acordo com o presidente Federação das Associações do Perímetro Irrigado Jaguaribe/Apodi (Fapija), Raimundo Santos, nos três últimos meses foram produzidas silagem em uma área de cerca de 800 hectares, já para atender a demanda do segundo semestre deste ano. "Já existe silagem pronta e com relação a questão da forragem para fazer hoje tem poucas áreas. Este ano os produtores ficaram cautelosos porque no ano passado ficou muito milho seco, mas mesmo assim eles conseguiram fazer a silagem e estocar", conta. A produção de silagem em 2013 quase chegou as 44 toneladas, a um preço médio de R$ 0,14 o quilo do produto.

Estímulo

A iniciativa de estimular pequenos produtores a cultivarem a palma forrageira vem sendo realizadas com por meio de parcerias. De acordo com o secretário Nelson Martins, a adesão dos produtores tem sido bastante positiva. "Temos um convênio com a Chesf para o cultivo de 110 hectares de palma e sorgo. Também há o convênio com o Ministério da Integração Nacional para implantar 30 mil hectares de palma forrageira, um projeto que curta em torno de R$ 16 milhões, divididos entre Estado e Federação", conta.

Aulas de campo sobre o cultivo da palma estão sendo realizadas no interior do Estado, a mais recente delas aconteceu no Assentamento Malhada, no Crato, região sul do Estado. "Distribuímos na faixa de 4 milhões de raquetes de palma através do Programa Hora de Plantar, isso da para cultivar cerca de 400 hectares", acrescenta. Nelson também ressaltou a distribuição dos kits de irrigação, adquiridos por meio de convênio junto ao Dnocs para a produção de sorgo e outros tipos de capim.

Para o Presidente da Faec, Flávio Saboya, além dessas duas estratégias , a curto e a longo prazo, também é necessário aplicar uma estratégia definitiva para que a seca não continue a prejudicar a economia cearense.

"A Faec defende também a 'Hora de Guardar', que pode se constituir em um programa com incentivos governamentais, principalmente de crédito e de seguro, para que toda a reserva estratégica alimentar possa ser utilizada em momentos críticos de estiagem", afirma. Para ele somente deste modo poderão ser mantidas as atividades agropecuárias em todo o Estado.

Saboya propõe a criação imediata de um novo seguro emergencial para as atividades agropecuárias no semiárido, caso haja uma possível suspensão da água para irrigação.

"O abastecimento humano é a prioridade na oferta dos recursos hídricos e diante de situações críticas em açudes do Estado e um possível racionamento de água em várias regiões, isso poderá afetar a irrigação, diminuindo a quantidade de áreas irrigadas. Temos que pensar nisso", explica o presidente.

Saboya cita a situação do Açude de Pentecoste, que em detrimento do abastecimento humano foi fechada a liberação de água para projetos irrigados. "Acho que tudo isso seria muito bem harmonizado se conseguíssemos implantar no Brasil o seguro seca para as atividades econômicas", ressaltou.

A temática proposta pelo presidente da Faec será discutida em reunião do Comitê da Seca, na próxima segunda-feira, na sede do Corpo de Bombeiros. Ele já apresentou outra proposta de seguro-alimentação animal, que encontra-se em estudo no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Ellen Freitas
Colaboradora