Temporal na Baixada Santista deixa 17 mortos e 32 desaparecidos, diz Corpo de Bombeiros

Dentre as vítimas, estão dois bombeiros que trabalhavam nas buscas em Guarujá, segundo a Defesa Civil do Estado de São Paulo.

Bombeiros trabalham em área de deslizamento em Guarujá, na Baixada Santista — Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo

Fortes chuvas causaram alagamentos, deslizamentos em morros e transtornos na região. Mortes ocorreram em Santos, São Vicente e Guarujá. Dois bombeiros morreram enquanto buscavam vítimas.

Por G1 Santos

Bombeiros realizam buscas por pessoas soterradas em deslizamento em morro de Santos

O temporal que caiu na Baixada Santista, no litoral de São Paulo, provocou deslizamentos de terra em morros da região na madrugada desta terça-feira (3) e deixou 17 mortos e 32 pessoas desaparecidas, de acordo com o Corpo de Bombeiros. Dentre as vítimas, estão dois bombeiros que trabalhavam nas buscas em Guarujá, segundo a Defesa Civil do Estado de São Paulo.

Veja onde ocorreram as mortes:

Guarujá – 15 mortes

Santos – 1 morte

São Vicente – 1 morte

A tempestade causou alagamentos em vias públicas, afetou serviços (transporte, educação, fornecimento de água, energia elétrica e telefonia) e fez rodovias serem bloqueadas. A chuva – que continuou ao longo de todo o dia, com alguns períodos de interrupção – prejudicou a operação de buscas, encerrada por volta das 19h30, segundo os bombeiros. Os trabalhos devem ser retomados na manhã desta quarta-feira (4).

De acordo com o capitão e porta-voz do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, Marcos Palumbo, as equipes trabalham nas buscas em Santos, São Vicente e em Guarujá com 114 bombeiros e 29 viaturas. "Permanecem no local e só sairão após a localização de todas as vítimas e deixar todos os locais em segurança", disse o capitão.

Inicialmente os bombeiros chegaram a falar em até 45 desaparecidos, mas o número posteriormente foi revisto.

"O número de desaparecidos é bastante volátil. (...) Esse número irá mudar no passar do dia", disse o tenente André Elias, que trabalha no Gabinete do Comandante do Corpo de Bombeiros.

O governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), foi até Santos após o temporal e anunciou que o programa aluguel social será disponibilizado para as pessoas desalojadas após o temporal que atingiu a região da Baixada Santista.

A Defesa Civil do Estado e o Fundo Social de São Paulo coordenam a remessa de 4,6 toneladas de materiais para vítimas nas cidades de Guarujá, Santos e São Vicente.

Desabrigados e desalojados

De acordo com a Defesa Civil do Estado, até a tarde desta terça-feira, havia 200 desabrigados em Guarujá e sete em São Vicente. Também há 11 desalojados em São Vicente. Em Peruíbe, 65 pessoas deixaram temporariamente suas casas e foram recebidas no Centro Comunitário do Caraminguava.

Chuva

De acordo com a Defesa Civil do Estado de São Paulo, em 24h choveu mais de 100 mm em todas as nove cidades da Baixada Santista.

Foram 300 mm no Guarujá, 222 milímetros em Santos e 187 mm em São Vicente. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o normal esperado para o mês de março no Guarujá são 277 mm - ou seja, já choveu mais que o esperado para o mês na cidade.

O temporal começou na noite desta segunda-feira (2) e se estendeu durante toda a madrugada e manhã desta terça-feira (3). Moradores registraram alagamentos e ruas ficaram intransitáveis em toda a Baixada Santista. Passageiros de um ônibus mostraram o rápido aumento do nível da água no interior do veículo. Diversas linhas de ônibus e itinerários foram comprometidos pelo temporal.

Houve quedas de barreira nas rodovias Anchieta, Cônego Domênico Rangoni, Rio-Santos e Guarujá-Bertioga, que fazem a ligação de cidades da Baixada Santista com outras regiões do Estado de São Paulo.

Veja a situação nas cidades da Baixada Santista:

Guarujá

Guarujá foi um dos mais afetados pela tempestade na Baixada Santista. A Prefeito Valter Suman sobrevoou as áreas afetadas e decretou estado de calamidade pública e luto de três dias em razão das fortes chuvas que atingiram a cidade desde a noite desta segunda-feira (2). Também foi decretado ponto facultativo no município.

O temporal provocou deslizamentos em sete morros, sendo dois em grandes proporções (Morro do Macaco e Barreira do João Guarda). Em 24 horas, choveu 282 mm, o que era esperado para todo o mês de março.

"Com o decreto de calamidade pública, a cidade pode ter acesso a recursos federais para ações de socorro, assistência e restabelecimento de serviços essenciais. Estamos unindo todas as formas para amenizar os sofrimentos", declarou o prefeito de Guarujá, Válter Suman.

A Secretaria de Educação suspendeu as aulas e as escolas estão abertas para receber doações.

Já as unidades próximas aos morros atingidos passaram a acolher famílias desabrigadas. Dentre esses locais, estão as escolas Sérgio Pereira (Av. Atlântica, 1516 - Barreira do João Guarda), Creche Conveniada Tio João (Vila Baiana) e Escola Paulo Freire (Av. Tancredo neves, s/nº- Santa Clara).

Além disso, o complexo de escolas ao lado do Teatro Procópio Ferreira servirá de alojamento para os desabrigados.

Os serviços de abastecimento de água, energia elétrica e telefonia sofreram oscilações durante esta terça. O transporte público também teve alteração nos itinerários.

Santos

A Defesa Civil de Santos atendeu a mais de 120 chamados nas últimas horas – a maior parte deles foi feita do morro do São Bento. Os morros da Caneleira, Bufo e Fontana, Santa Maria, Pacheco e do Saboó também sofreram com o alto índice pluviométrico da madrugada desta terça.

Um vídeo registrado por uma moradora do Morro do Tetéu flagrou o momento em que um pedaço de terra desabou.

Uma manicure de 35 anos salvou o ex-marido, que seria soterrado em um deslizamento de terra, também no Morro do Tetéu. Ela usou uma marreta para quebrar a parede e puxar o homem, que estava preso em um dos cômodos da casa.

A Prefeitura de Santos informou que, até o fim da tarde desta terça-feira, não havia um balanço sobre o número total de desabrigados. As famílias foram atendidas pela Secretaria de Assistência Social e pela Defesa Civil.

Algumas pessoas acolhidas foram levadas a cinco unidades da Prefeitura, incluindo as instituições conveniadas: Seabrigo, Seacolhe, Albergue Noturno, Casa das Anas e Abrigo de Emergência.

A Santa Casa de Santos recebeu vítimas das chuvas na Cidade. Uma criança de 7 anos foi internada na UTI Pediátrica, em estado grave. Um adulto de 43 anos com politraumatismos foi internado na enfermaria, e seu estado de saúde era considerado regular.

Por volta das 16h, deu entrada na unidade uma criança de 2 anos, do São Bento, com politraumatismos – até a última atualização desta reportagem, seu estado era considerado regular.

As escolas tiveram as aulas suspensas nesta terça-feira e o VLT parou de operar.

São Vicente

São Vicente registrou deslizamentos nos morros do Itararé, Barbosas, Ilha Porchat e Parque Prainha.

O prefeito Pedro Gouvêa decretou estado de calamidade pública no Município.

Na Vila Valença, em uma clínica de repouso, o chão de um cômodo cedeu e um homem foi encontrado morto. O local foi interditado. Sete moradias foram interditadas na Avenida Saturnino de Brito, no Parque Prainha. Onze pessoas foram atendidas pela Assistência Social. Houve escorregamento de pedras na Avenida Newton Prado mas ninguém ficou ferido. No Morro dos Barbosas houve escorregamento na região próxima ao hotel Chácara do Mosteiro. Os resíduos obstruíram a rua.

A Ontrantur, empresa que opera o sistema de transporte municipal, informa que as linhas 106 e 107 do bairro Tancredo Neves estão com um trajeto especial para atender a passarela que liga ao bairro Náutica III. O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) também teve a operação suspensa, devido a deslizamento de terra próximo ao túnel que faz a ligação entre as cidades de Santos e São Vicente.

O Centro de Atendimento de Traumatologia e Ortopedia (Cato) e o Reabilitar I, na Cidade Náutica, e as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) Sambaiatuba, Pompeba e Vila Margarida tiveram as atividades suspensas devidos aos alagamentos.

O acumulado de chuvas nas últimas 72 horas é de 351mm. O total de chuvas registrado no mês de março é de 330,4 mm.O nível vigente é de alerta. O esperado para o mês é 400 mm. A cidade registrou o mês de fevereiro mais chuvoso dos últimos 67 anos. O índice pluviométrico alcançou a marca histórica de 915,2 mm.

Praia Grande

Praia Grande não registrou ocorrências graves em decorrência das fortes chuvas desta madrugada. Pontos de alagamentos foram registrados, mas não há desabrigados ou desalojados na Cidade. O índice pluviométrico acumulado nas últimas 72h foi de 235 milímetros.

Mongaguá

A Prefeitura de Mongaguá informa que, em caso de necessidade, todos os prédios públicos estarão à disposição para receberem as pessoas. As famílias estão sendo encaminhadas e acolhidas no Clube da Melhor Idade do Centro. As equipes da Assistência Social do Município registraram 68 pessoas desabrigadas, divididas entre adultos e crianças. Equipes da Administração estão percorrendo a cidade e monitorando as vias, justamente visando a cobertura deste serviço.

Peruíbe

Em Peruíbe, 65 pessoas deixaram temporariamente suas casas e foram recebidas no Centro Comunitário do Caraminguava. Não houve ocorrências e não há áreas de risco. Algumas ruas ficaram alagadas, mas com as águas já estão escoando.

Doações

As cidades da Baixada Santista, no litoral de São Paulo, estão recebendo doações para as famílias que foram prejudicadas pelo forte temporal.

https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2020/03/03/corpo-de-bombeiros-diz-que-ha-46-desaparecidos-na-baixada-santista-apos-temporal.ghtml