IMPULSO: Parceria fomenta e ajuda a ter mais segurança sobre investimentos
Diante de um investimento bilionário, cujo valor supera o orçamento de qualquer outro empreendimento privado assegurado para o Estado, o ingresso do governo cearense como acionista simbólico da refinaria Premium II pode - ainda que pareça desnecessário para a Petrobras - ser mais um passo para o fortalecimento de uma política de atração recente na história do Ceará, que se estende muito além do aporte financeiro a empresas cuja vinda é almejada.
Tendo como intuito formalizar o interesse na chegada de empreendimentos com potencial para a geração de empregos e incremento do Produto Interno Bruto (PIB), a participação do Estado como sócio minoritário em empreendimentos como a Siderúrgica América Latina (Silat) - na qual possui 10% das ações - permitirá ao Estado, além da atração de novas empresas, ter mais segurança sobre a atuação de outros "gigantes" que estudam a possibilidade de se instalar no Ceará.
Conforme explica o diretor de atração de investimentos da Agência de Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece), Cláudio Frota, o foco do governo, hoje, é fomentar as "âncoras de desenvolvimento" do Ceará - que se traduzem sobretudo na operação portuária no Pecém e na futura atuação de duas siderúrgicas e uma refinaria, impulsionando o setor metalmecânico que já ganhando força.
No caso da parceria com a TAC Motors, o governo pode conhecer o que a empresa tem desenvolvido quanto a novas tecnologias.
Ações
Atualmente, o governo cearense possui ações na Silat e na montadora TAC Motors, instalada em Sobral. Através dos investimentos nas duas companhias, destaca Frota, o poder público tem representação no conselho administrativo e pode acompanhar as ações e projetos às quais outros acionistas também tem acesso. "Tudo isso também valeria para a refinaria", acrescenta.
Amanhã, o governador Cid Gomes deverá encontrar a presidente da Petrobras, Graça Foster, para tratar do tema. O governador informou, na última semana, que a iniciativa representaria uma forma de acompanhar mais de perto o desenvolvimento do projeto e das obras.
Novas tecnologias
No caso da TAC Motors, ilustra, o governo pode conhecer o que a empresa tem desenvolvido quanto a novas tecnologias - o que pode ser favorável ao Estado no futuro. Conforme o presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico do Ceará (Cede), Alexandre Pereira, outra vantagem para o Estado, nesse caso, seria, por exemplo, a maior facilidade para a formação de parcerias, como a fabricação de veículos para serem comprados pelo governo federal, voltados para trabalhos de fiscalização e monitoramento em praias e locais de difícil acesso. "Existem dados estratégicos na empresa, e o Estado, como acionista, tem acesso ao plano de negócios, e nem sempre o negócio é só aquilo que se apresenta (no mercado)", complementa Cláudio Frota.
O diretor ressalta que a intenção do Estado é "não se perpetuar" nos empreendimentos com ações compradas. Ele explica que o governo, após determinado tempo em cada empreendimento, deverá deixar de ser sócio - através, por exemplo, da venda das ações -, para, em seguida, investir em outras empresas. "Você tem que ter um princípio de liquidez nos investimentos para poder fazer com que essa política aconteça e seja dada vez a outros projetos sem que o Estado tenha que aportar novos recursos", justifica
De acordo com o presidente do Cede, a participação acionária do governo do Estado, mesmo de forma simbólica, é relevante para a as decisões tomadas por investidores que planejam se instalar no Ceará - especialmente os empresários que são de outros países.
Estratégia
"Essa é uma das formas de desenvolver o Cipp (Complexo Industrial e Portuário do Pecém), que já é uma realidade"
Alexandre Pereira
Presidente do Cede
Êxitos podem atrair novos negócios
Embora o governo do Estado só possua hoje participação efetiva em dois empreendimentos - a Siderúrgica Latino-Americana (Silat) e a TAC Motors -, os próximos anos deverão ser fundamentais para a formação de novas parcerias do tipo, uma vez que o êxito das relações atuais poderá servir como "vitrine" para outros empreendimentos.
Para a Adece, caso a sociedade com a Silat seja bem-sucedida, a siderúrgica pode servir de "cartão-postal do Ceará" para outros empreendimentos.
"Se o nosso relacionamento com a Silat for a contento, a própria Silat vai ser um cartão de visita do Ceará lá fora", aponta o diretor de atração da Agência de Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece), Cláudio Frota.
Uma das vantagens da relação com a siderúrgica, explica, é que a laminadora poderá ser responsável pela atração de outros empreendimentos interessados em aproveitar a produção dela, além de incentivar investidores de outros setores. "A Silat pode vir a ser um ´garoto propaganda´ pra atração de novos investimentos", comenta.
Lucros
Conforme o diretor da Agência, o Estado, assim como acionistas privados, recebe lucros a partir da operação dos empreendimentos. "Se a empresa pagar dividendos, por exemplo, o Estado também vai receber", aponta.
Ele destaca que, além do potencial de geração de postos de trabalho e desenvolvimento da economia, a Agência também leva em consideração o tipo de tecnologia a ser utilizada pela companhia, além da forma como essa tecnologia pode ser difundida e da formação de mão de obra especializada.
Conforme Frota, o Estado tem mantido diálogos com possíveis investidores, mas ainda "não há nenhuma confirmação ou efetivação" de novos sócios para o governo. (JM)
JOÃO MOURA
REPÓRTER
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