SERTÃO CENTRAL:Missa reúne vaqueiros em Caridade.

Caridade Gibões, chapéus e couro. A intimidade com as montarias e as músicas típicas do Sertão do Ceará comprovaram: eram mais de 1.500 vaqueiros legítimos que carregavam as bandeiras do Brasil e do parque João Guilherme.

A 14ª missa do vaqueiro tornou-se a maior tradição no município de Caridade cidade que fica a 100 quilômetros da Capital. A celebração, que contou com a presença da prefeita da cidade, Simone Tavares, faz parte da festa do vaqueiro e tem toda sua liturgia baseada na vida dos heróis de sertanejos, que assistem à celebração religiosa montados em seus cavalos.

Peculiaridade

Ao som dos chocalhos vestidos com roupas de couro os sertanejos seguiram em uma grande cavalgada pelas ruas de Caridade até a fazenda ideal onde foi celebrada a missa pelos padres Tula e Zé Linhares.

Em cima dos cavalos, eles participam da celebração, rezam pedindo paz, saúde e agradecem as bençãos alcançadas a Santo Antônio. A missa foi criada por Junior Tavares um defensor ferrenho da cultura popular.

No rosto de cada vaqueiro é possível ver as marcas de uma vida de muito trabalho debaixo do sol forte do sertão motivo de orgulho para eles, na hora do ofertório os vaqueiros depositam no altar objetos do cotidiano e instrumentos usados no pastoreiro dos animais.

No fim da missa foram distribuídos aos vaqueiros, queijo, rapadura e carne de boi alimentos que fazem parte do dia a dia do homem da caatinga.

A missa em Caridade é realizada sempre na 1ª semana de julho. Aboios, agradecimentos e ao padroeiro da cidade o santo casamenteiro forma o leque da festa, que vem a Caridade não importa se vaqueiro ou defensor da cultura popular carrega a certeza que no próximo ano se vivo estiver estará presente na manifestação cultural.

Homem de fé

Percorrendo as narrativas e o imaginário cultural do nordeste brasileiro, certamente, nenhum personagem simboliza e traduz tanto a essência do ser sertanejo como a tradicional figura do vaqueiro. Materializando valores morais essenciais a constituição da dignidade do homem como a determinação e honestidade aliados a coragem e destreza, o vaqueiro na lida de suas fatigas atividades diárias está sempre em constante exposição a perigos diversos como tombo do cavalo ou a chifrada de uma reis.

Como forma de proteção diante desse e de outros perigos além de sua indumentária o tradicional paletó de couro "perneira, gibão, chapéu, peitoral, luvas e botas" o vaqueiro vale-se de uma prática, que, segundo ele mesmo, é a mais importante e essencial: a fé.

Couro

Esse sentimento é algo extremamente associado à vida do vaqueiro, fundamentando além de sua espiritualidade, a expectativa de uma vida melhor. A vida desses heróis do campo não é nada fácil. Esse personagem típico do sertão, o vaqueiro, ainda hoje mantém herdada dos tempos da civilização do couro.

A fé e devoção a Santo Antônio trouxeram a Caridade, vaqueiros de Aratuba, Baturité,Apuiarés, Canindé, Mulungu,Pentecoste, Paramoti, Maranguape, Itatira ,Madalena, Tejuçuoca, Santa Quitéria, Fortaleza e Serrita.

Nesta missa, padre Tula comemorou 25 anos de fé e cultura em defesa da missa do vaqueiro.Os valores culturais do povo e da gente do sertão. "Precisamos ganhar força na reflexão e liturgia", sentenciou o padre. Segundo ele, se Jesus Cristo tivesse nascido no Nordeste não teria falado de ovelhas, mas de boi, vaca e vaqueiros, uma celebridade viva do cotidiano religioso.

Religiosidade

Pedido de proteção

Vaqueiros revelam fé em santo protetor dos perigos escondidos na caatinga e na lida com o gado. Missa e festa são enfeitadas com tradicional roupa de couro. 

Antônio Carlos Alves
Colaborador