Ecoarena: novo Mané Garrincha carrega a marca da sustentabilidade
Energia solar, aproveitamento de água da chuva, retirada de gases poluentes da atmosfera - são apenas alguns conceitos de sustentabilidade presentes no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. A preocupação com o meio ambiente é marca registrada da nova arena da capital federal, que depois de 1.027 dias de trabalho, será aberta ao público neste sábado.
- O mundo está passando por grandes problemas de mudanças climáticas, custos elevados de geração de energia, risco de falta de água. Tudo isso dirigiu muito nossos trabalhos. Procuramos desenvolver um projeto que tivesse um enorme impacto ambiental e também um custo de manutenção baixo, para ser viável. Com isso, chegamos a esse conceito de Ecoarena, que é uma construção ecológica e econômica - explicou o arquiteto Vicente de Castro Mello, responsável, ao lado do pai, Eduardo de Castro Mello, pelo projeto do novo Mané Garrincha.
As preocupações ambientais começam com a própria arquitetura do estádio. A fachada aberta entre o teto e as arquibancadas possibilita boa circulação de vento no interior da arena. Já a grande área de cobertura (68 mil m²) mantém o sombreamento do estádio, diminuindo a absorção de calor pelo concreto. Duas características que ajudam a reduzir a necessidade de equipamentos de refrigeração, diminuindo o consumo de energia.
Outra característica sustentável está no material da cobertura. Produzida no Japão, a membrana é feita de dióxido de titânio, que ajuda a retirar gases poluentes da atmosfera. O material da membrana também combate o acumulo de sujeira, facilitando a manutenção.
O teto do novo Mané Garrincha também conta com calhas para a captação de água da chuva, que será armazenada em quatro reservatórios com capacidade para cerca de 1.400 m³. A água recolhida será usada nas descargas dos banheiros e para outros serviços de limpeza do estádio. O sistema de aproveitamento da água da chuva ainda deverá ser ampliado com o projeto do entorno do estádio, que prevê pisos permeáveis e um lago de retenção. Estas obras, no entanto, só deverão ser executadas após a Copa de 2014, quando a Fifa liberar os espaços usados com instalações provisórias.
Mas antes do Mundial, o novo Mané Garrincha já deverá contar com sua usina de energia solar. Até fevereiro de 2014, serão instaladas nove mil placas fotovoltaicas na parte de concreto da cobertura, com potência de 2,4 megawatts de energia. A estimativa é que sejam produzidos 3,2 milhões de quilowatt-hora por ano, quantidade superior ao que seria gasto na arena caso seja mantida uma média de quatro eventos por mês. Isso pode fazer o estádio autossuficiente em energia.
- Energia solar ou captação de água são exemplos mais concretos, mas o que temos é um conjunto de ações de sustentabilidade desde o início da obra, como no uso de componentes que aprisionam carbono. Em 2009, sugerimos em uma conferência com arquitetos de todo o Brasil que o Mundial de 2014 ficasse marcado como sendo a Copa verde. Apresentamos várias ideias, que foram adotadas também em outros projetos de estádios. E aqui, em Brasília, tentamos fazer do Estádio Nacional o melhor símbolo para este conceito da Ecoarena - explicou Vicente.
Com todas as medidas de sustentabilidade adotadas na obra, os projetistas esperam que o novo Mané Garrincha alcance a categoria máxima da certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), concedida por uma das entidades mais conceituadas do setor em todo o mundo.
- Estamos buscando alcançar a certificação por volta de março do ano que vem. Acreditamos que será o primeiro estádio de Copa com o Leed Platinum - afirmou Ian McKee, integrante do escritório que projetou o estádio e diretor de sustentabilidade da obra.
Além do Mané Garrincha, outros estádios da Copa de 2014 também buscam certificação Leed, como o Maracanã, Beira-Rio e Mineirão.
Além da preocupação com a sustentabilidade, a arquitetura do novo Mané Garrincha também foi projetada de maneira que o estádio se adequasse ao padrão consagrado por Oscar Niemeyer na capital federal.
- Era um desafio muito grande colocar uma obra desta dimensão no centro da cidade. Não poderia ser algo que viesse a chocar visualmente. Então, detectamos algumas características dos projetos do Oscar e procuramos traduzir isto para o estádio - explicou o arquiteto Eduardo de Castro Mello.
Monumentos como os Palácios do Planalto, do Itamaraty e da Justiça foram algumas das inspirações para o projeto do Estádio Nacional Mané Garrincha.
- Os palácios da cidade contam com colunas na fachada e uma grande varanda que circunda o prédio propriamente dito. Foi essa filosofia da arquitetura de Brasília que trouxemos para o estádio - concluiu o arquiteto.
Arena multiuso
Outra marca do novo Mané Garrincha são suas características de arena multiuso. Com a falta de times candangos na elite do futebol (o melhor classificado no cenário nacional é o Brasiliense, que está na Série C), o estádio provavelmente não terá muitos jogos com potencial para receber sua capacidade máxima - 71 mil torcedores. Sendo assim, a grande aposta do Governo do Distrito Federal (GDF) é de que o espaço seja utilizado para grandes eventos, como shows, congressos e outras modalidades esportivas.
A principal característica que facilita a utilização do Mané Garrincha como arena multiuso é o grau de inclinação das suas arquibancadas, que deixam o público mais próximo do campo. Há também rampas próprias para o acesso de pessoas ao gramado (para o caso de shows e congressos), além de estrutura de banheiros e espaços para camarins no nível do campo. O estádio também conta com quatro grande túneis que permitem a entrada de caminhões com equipamentos para palcos.
O primeiro grande evento musical do novo estádio está marcado para o dia 29 de junho, com o espetáculo "Renato Russo Sinfônico". Produzido pelo filho do líder da banda Legião Urbana, Giuliano Manfredini, o show terá a participação da Orquestra do Teatro Nacional de Brasília e nomes da música brasileira e internacional. O grande destaque será a projeção da imagem de Renato Russo, por meio de um holograma.
A responsabilidade de atrair eventos para o Mané Garrincha deverá ficar a cargo de uma empresa especializada em gestão de arenas. A escolha será feita por meio uma licitação que o governo pretende realizar ainda em 2013.
Custo alto e atrasos
Em 2010, quando foi assinada a Matriz de Responsabilidades da Copa, a previsão de gastos com as obras do Mané Garrincha era de R$ 745,3 milhões. No entanto, segundo o último levantamento do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF), o valor já está orçado em R$ 1,2 bilhão.
Quando foi apresentado, havia apenas o custo do projeto básico. Atingiu esse nível porque no projeto inicial não constava a cobertura, por exemplo. Além disso, no projeto original seria aproveitado um quarto de arquibancada, o que não foi possível. Não é reforma. Estamos fazendo um estádio completamente novo, que custará cerca de R$ 1 bilhão com a isenção fiscal do Recopa - justificou o secretário extraordinário da Copa no Distrito Federal, Cláudio Monteiro, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM em março deste ano.
Além de caro, o novo estádio também sofreu com atrasos na construção. A promessa inicial do governo era de que a obra seria concluída em dezembro de 2012. Prazo que não foi cumprido e a entrega foi adiada para o dia 21 de abril de 2013, no aniversário de 53 anos da cidade.
No entanto, a menos de uma semana da nova data estabelecida, o GDF acabou anunciando mais um adiamento na inauguração.Alegando dificuldades por conta das chuvas em Brasília, o governo adiou a cerimônia de entrega para este sábado. Ainda assim, a obra não está 100% concluída. Mesmo depois da partida inaugural, operários continuarão trabalhando na instalação de guarda-corpo nas arquibancadas superiores e no acabamento de salas e espaços de circulação na área interna do estádio. Do lado de fora, ainda faltam obras de pavimentação e urbanização do entorno.
Estreia com decisão e expectativa por Santos x Fla
A inauguração do Mané Garrincha será dividida em dois momentos neste sábado. Às 10h, será realizada uma cerimônia formal com a presença de convidados e autoridades, como a presidente Dilma Rousseff e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo.
À tarde, às 16h, será a vez de Brasiliense e Brasília entrarem em campo para o jogo de estreia do estádio. E logo na primeira partida, o novo Mané Garrincha também já conhecerá seu primeiro campeão: o confronto entre Jacaré e Colorado vale o título candango. O Brasiliense, que venceu o jogo de ida por 1 a 0, pode empatar para ser campeão. Já o Brasília, só pensa na vitória para quebrar o jejum de 25 anos sem conquistar o campeonato.
Por recomendação da Fifa, o jogo de inauguração contará com apenas 30% da capacidade total do Mané Garrincha, que é de 71 mil lugares. Apenas as arquibancadas inferiores e alguns camarotes serão liberados para o público (cerca de 22 mil assentos). O primeiro teste do estádio com lotação máxima será no dia 26 de maio, com o jogo entre Santos e Flamengo, pela rodada de abertura do Brasileirão 2013. Mais de 69 mil ingressos foram colocados à venda. Na última semana, torcedores dos dois times enfrentaram grandes filas por bilhetes para o clássico.
Copa das Confederações e no Mundial de 2014
O novo Mané Garrincha terá o importante papel de dar a largada para os grandes eventos esportivos que o Brasil receberá nos próximos anos - Copa das Confederações de 2013, Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016.
Palco da abertura da Copa das Confederações, entre Brasil e Japão, no dia 15 de junho, o estádio também receberá sete jogos do Mundial de 2014 (maior número ao lado do Maracanã). Serão realizadas em Brasília quatro partidas da primeira fase, incluindo uma da seleção brasileira, além de um confronto de oitavas de final, um de quartas, e a disputa do terceiro lugar.
A capital federal também foi pré-selecionada para ser uma das sedes do futebol nas Olimpíadas de 2016.
Conheça alguns números curiosos do novo Mané Garrincha:
Capacidade - 71 mil pessoas (22 mil no setor inferior, 6 mil no setor intermediário e 43 mil no setor superior)
Acessibilidade - 735 lugares para pessoas com condições reduzidas e um acompanhante
Camarotes - 74 (capacidade para 1.590 pessoas)
Vestiários - 4
Estacionamento externo - 7.848 vagas
Estacionamento interno - 572 vagas
Bares - 40 *previsão
Lanchonetes - 14 *previsão
Restaurantes - 2 *previsão
Elevadores - 20
Escadas rolantes - 16
Iluminação - 465 refletores; 713 refletores para iluminar a fachada; 130 postes de luz na área externa
Imprensa - 6 cabines de TV; sala de coletiva para 262 pessoas; tribuna para 260 jornalistas.
Por Fabrício MarquesBrasília
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