Joias Perdidas: esperanças no Inter, Diego e Diogo viram \'ciganos da bola\'
Com encontros e desencontros, gêmeos não se tornam os craques que um Inter bem diferente do atual imaginava, mas têm carinho da torcida colorada
Em época de vacas desnutridas, em que o Inter ainda não tinha na sala de troféus taças como as da Libertadores ou do Mundial de Clubes, as principais esperanças da torcida repousavam sobre a base. Mas a pressão não desabava em cima de um só jogador. Dois nomes envergavam o futuro vermelho no início dos anos 2000. Colecionadores de títulos durante a formação, os gêmeos Diego e Diogo eram perspectiva de dias melhores para os colorados. Tornaram-se sinônimos de esperança.
Filhos de João Carlos - ex-lateral-direito do Inter de 1979 - , Diego e Diogo estão hoje a quilômetros de distância um do outro e também do clube em que foram lançados. Continuam ligados, porém, pelo sentimento. O primeiro é camisa 10 do Nacional, de Portugal, e o segundo busca a vaga de titular no ABC, de Natal.
Em conversa com o GLOBOESPORTE.COM, ambos falam do passado no Inter com saudade. Há todo um tom nostálgico entre eles, de um passado que poderia ser mais vitorioso, com mais títulos (veja no vídeo acima um gol de Diego, contra o Cruzeiro, com a camisa do Inter).
- Nós fomos lançados para o grupo profissional em época de muita pressão e cobrança. Todo mundo escutava falar de Diego e Diogo. Não que tenhamos decepcionado, mas se subíssemos em um momento como o de hoje, com uma base a mais, acho que seria mais fácil. Não me arrependo. Foi através dali que fomos para o mundão. Mas, claro, queríamos dar títulos ao clube - afirmou Diego.
Enquanto o Inter atravessava provavelmente o momento mais drástico de sua história, escapando do rebaixamento somente na derradeira rodada do Brasileirão de 2002, a diretoria, comandada pelo presidente Fernando Carvalho, projetava a temporada seguinte focada em reformulação. O conceito baseava-se na renovação do elenco a partir da valorização das categorias de base. E o orgulho do torcedor se renovava quando escutava os nomes de Diego e Diogo, que soavam quase interligados um ao outro.
Personagens constantes em categorias de base da Seleção, os gêmeos alcançaram protagonismo, no entanto, no time colorado sub-15, em 2000. Comandada pela dupla, a equipe infantil conseguiu o feito que somente seria conquistado pelo grupo profissional seis anos depois. A euforia foi tanta que o Beira-Rio passou a ostentar o letreiro “Campeão do Mundo Sub-15”.
- O Inter não ganhava nada, não tinha título de expressão. Acho que se criou uma esperança para o clube. Foi legal, teve um reconhecimento – relembrou Diego.
A excitação da torcida contagiou a imprensa. A partir de então, Diego e Diogo se tornaram populares nas páginas de jornais e em reportagens de televisão. Eram considerados como "joias raríssimas", conforme jornais da época.
Só que esse status-relâmpago oferecido aos garotos também gerou certo problema: quadruplicou a responsabilidade dos meninos que iniciavam a vida de boleiros profissionais. Eles passaram a conviver com pressão, mesmo somente com 17 anos, na época.
- Quando éramos da base, estávamos loucos para nos tornarmos logo profissionais. Quando aconteceu, criou-se uma carga em cima de nós – opinou o atacante.
Especialmente Diego viveu momentos importantes pelo Inter. Logo na primeira temporada, em 2003, assegurou a vaga de titular. Ao lado de Daniel Carvalho e Nilmar, formou o chamado "trio de ouro", ajudando o clube a conseguir boa campanha no Brasileirão (ficou a um ponto da vaga na Libertadores). Só que, naquela temporada, as convocações para a seleção sub-20 acabaram prejudicando o desempenho do time gaúcho. Os três participaram do Sul-Americano da categoria, em que o Brasil acabou derrotado na decisão pela Argentina. Já no fim do ano, Diego ficou fora da lista para o Mundial. Nilmar e Daniel Carvalho foram titulares na campanha do título e acabaram tendo trajetória mais expressiva do que a do colega de Beira-Rio.
Na temporada seguinte, em 2004, Diego cresceu a partir do meio do ano, com Muricy Ramalho no comando. Participou da campanha na Sul-Americana e viu o clube cair para o Boca Juniors na semifinal. Chegou a marcar um gol na Bombonera.
Faltaram oportunidades, na visão de Diogo
O outro irmão, Diogo, também recorda dessa arrancada da carreira com carinho. Só que há uma pequena frustração no meia do ABC: a falta de oportunidades. Ao contrário de Diego, ele não conseguiu emendar uma sequência para ganhar a chance de ser titular.
- Poderia ter recebido mais oportunidade, mais chance no Inter, por saber o nosso potencial... Na base, éramos os destaques. O clube poderia ter nos dado mais confiança. Tivemos inúmeras oportunidades de sair do Inter, mas a ideia era sempre ficar, dar o retorno esperado - avaliou Diogo.
E então os gêmeos se separaram pela primeira vez. Diogo acabou emprestado para clubes como Figueirense, Paulista, Coritiba (em que foi campeão da Série B), Ipatinga e Bragantino. Em 2005, Diego passou uma temporada no Santos. E quando teve a oportunidade de enfrentar o Inter, em um Beira-Rio lotado? A torcida se manifestou pela cria colorada, em tom de reverência, respeito.
- Até hoje, quando estou no Brasil, os colorados são bem simpáticos comigo e com o Diogo. Criou-se aquele vínculo com o Inter. Quando voltei, em 2005, para jogar com o Santos no Beira-Rio, o estádio todo gritou meu nome. Foi emocionante - lembrou.
Fomos lançados para o grupo profissional em época de muita pressão e cobrança. Todo mundo escutava falar de Diego e Diogo. Não que tenhamos decepcionado, mas se subíssemos em um momento como hoje, acho que seria mais fácil."
Diego,
ex-atacante do Inter
Só que o destino do mundo da bola quis novamente que o futebol dos irmãos se cruzasse. Em 2008, Diego chegou ao Guangzhou Pharmaceutical, da China. Na temporada seguinte, foi a vez de Diogo ser contratado. Os gêmeos estavam juntos novamente, e o sucesso foi imediato: viraram ídolos da torcida.
Para Diogo, principalmente, foi como uma retomada. Depois de alguns problemas de lesões, ele voltava a atuar bem, se destacava... No aniversário dos gêmeos, em 1º de abril de 2009, uma surpresa: os dois receberam bolo no intervalo de uma partida, ainda no gramado.
- Foi um presente bem diferente, difícil de acontecer. Teve jogos em que eles levaram faixas minhas e do Diogo - contou o irmão.
Mas então houve uma notícia desagravável. O Guangzhou acabou punido por "negociar resultados". Logo, a associação acabou rebaixada e fechou por alguns meses. E os irmãos voltaram a se separar.
Diogo circulou no meio futebolístico. De volta ao Rio Grande do Sul, atuou por Caxias e Novo Hamburgo. Também passou por Botafogo-SP, Bonsucesso e Sport antes de chegar ao ABC.
- Sei que tenho condições para atuar nas séries A e B. Confio no meu futebol e vejo que tem muito espaço. Depende só de mim.
Já Diego está há três anos no Nacional da Ilha da Madeira, de Portugal. E pretende ficar por lá por pelo menos mais uma temporada, quando encerra o contrato.
Com 28 anos, Diego e Diogo ainda têm vida longa no futebol. Sobre as origens, lamentam a falta de títulos maiores pelo Inter. Mas sentem que fazem parte de uma geração que catapultou a instituição para a fase atual.
Por Diego GuichardPorto Alegre
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