Coelce diz que mercado cresceu além do planejado

DIANTE DE CRÍTICAS

Em meio a críticas de parte do empresariado cearense, notadamente do segmento da construção civil, que vem reclamando pelo atraso nas ligações de energia elétrica em empreendimentos novos, e sob pressão do governo estadual para recolher ICMS relativo a serviços prestados nos polos de irrigação, a Companhia Energética do Ceará (Coelce) reconheceu ontem, que o crescimento verificado no setor, em 2012, da ordem de 11%, superou a expansão planejada pela distribuidora.

"Em 2011, o crescimento foi de 1,8%. Nosso planejamento esperava algo (incremento da demanda de serviços) entre 6% e 8%, em 2012, mas o mercado avançou 11%, no ano passado", revelou o diretor de Relações Institucionais e Comunicação da Coelce, José Nunes de Almeida Neto. Para 2013, ele estima novo crescimento acima de 10%. Segundo Nunes, o elevado incremento no volume de obras de infraestrutura, como o Centro de Eventos do Ceará, escolas e policlínicas públicas, novos shopping centers na Capital e no Interior, a elevação no padrão de energização dos novos edifícios e até extensões residenciais, - também chamados de "puxadinhos"- furou o planejamento. "O (setor) mais crítico foi a extensão da rede de média tensão", revelou José Nunes.

"Novos padrões"

Conforme disse, somente neste segmento, a Coelce fechou 2012 com 187 demandas "dentro de casa", mas em aberto, sem atendimento. "No ano passado, conectamos 145,5 mil novos clientes", acrescentou o diretor, lembrando que o padrão de energização residencial, de prédios e indústrias no Ceará evoluiu, exigindo mais planejamento, mão de obra e material.

"Em muitas cidades do Interior, as escolas, que antes consumiam 30 KVA, hoje requerem 600KVA, o que demanda planejamento", exemplificou. Nunes disse ainda, que obras de remanejamento de estrutura elétrica em ruas e avenidas também demandaram um contingente de mão de obra e material, que a empresa não esperava. "Grandes obras implicam em remanejamento da rede, o que demanda muitos trabalhadores", acrescentou, destacando a dificuldade de formação de mão de obra especializada para o setor. Revelou ainda, que a empresa enfrentou problemas com fornecedores de peças e equipamentos.

Terceirização

Para amenizar os problemas e tentar minimizar as queixas, José Nunes afirmou que a Coelce já cadastrou novos fornecedores, inclusive pequenos, e que está buscando parcerias com outras empresas do setor elétrico, inclusive de fora da região.

"Estamos buscando parcerias na modalidade "torn key" (obra pronta), em que a empresa terceirizada realiza toda a obra, mas sob a supervisão e com material fornecido pela Coelce.

Investimentos

O diretor refuta o questionamento de que faltam investimentos da empresa no setor. Ontem, a Coelce anunciou investimentos de R$ 48 milhões no primeiro trimestre de 2013, montante 25,3% superior aos R$ 38 milhões aplicados nos três primeiros meses de 2012.

De acordo com as demonstrações financeiras e operacionais do primeiro trimestre de 2013, 60% dos investimentos da companhia, o equivalente a R$ 29 milhões, foram "para atender à crescente demanda de energia". Valor que, pelo número de reclamações do mercado, não tem sido suficiente para suprir a demanda do setor produtivo.

O relatório informa que o volume total de venda e transporte de energia na área de concessão da distribuidora, no período em análise, foi de 2.609 GWh, o que representa incremento de 11,1%, em relação aos três primeiros meses de 2012, cujo volume foi de 2.348 GWh. A Coelce encerrou o primeiro trimestre deste ano com 3,36 milhões de consumidores, 3,2% superior ao número registrado no fim dos três primeiros meses de 2012.

Lucro menor

Apesar do aumento nas vendas de energia, a receita operacional bruta registrada nos três primeiros meses de 2013 foi de R$ 895 milhões, 8,1% menor do que o anotado no primeiro trimestre de 2012. De janeiro a março deste ano, o lucro líquido caiu para R$ 63 milhões, uma retração de 48%, ante os R$ 120 milhões de lucro líquido anotado em igual período do ano passado.

Segundo o diretor de Relações com Investidores da Coelce, Teobaldo Leal, reduções de 6,76% na tarifa de energia elétrica em 2012, e de 18,05%, neste ano, foram os principais responsáveis pela redução do lucro. Outro fator apontado por ele, é a compra de energia mais cara nas termelétricas - inclusive na TermoFortaleza, empresa do grupo Endesa, controlador da Coelce.

Nesse cenário, o montante de dividendos distribuído aos acionistas pela empresa recuou de R$ 276 milhões, em 2012, para R$ 214 milhões, este ano. Em 2011, foram pagos R$ 4,27, em dividendos por ação; em 2012, R$ 3,55 e este ano, R$ 2,75, uma redução de 40%, em três anos.

CARLOS EUGÊNIO
REPÓRTER