Lei dos Empregados Domésticos leva mudanças para dentro das casas
Projeção mostram que o salário da classe pode chegar a R$ 1.422 em 2020.
O modelo de organização familiar que a gente conhece começou a mudar. Esse tema começou a entrar em pauta com a aprovação da lei dos empregados domésticos. Agora, eles têm os mesmos direitos e deveres que qualquer trabalhador, com uma jornada de trabalho de 44 horas e FGTS.
Além das novas garantias, o trabalho das domésticas também está mais caro. Enquanto o salário das demais categorias subiu 2,7% em 2010 e pouco mais de 4% em 2011, o salários das empregadas subiu 5% em 2010 e 6% em 2011, descontando a inflação. Foi a categoria que mais teve aumento nos últimos dez anos.
“Subiu mais de 50% a remuneração desse trabalhador em comparação à média de salário dos trabalhadores no período. O aumento foi de 25% a 27%, então teve o dobro de aumento dos trabalhadores normais. A única categoria que chegou perto disso foram os trabalhadores da construção civil”, relata Jefferson Mariano, analista sócio-econômico do IBGE.
Um dos motivos dos salários estarem mais altos é que tem menos profissionais no mercado. O número de trabalhadores domésticos caiu de 17% em 2010 para 15,7% em 2011. Só no ano passado, 40 mil pessoas deixaram de exercer essa função, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Ainda segundo o Ipea, de 1999 a 2009 o número de diaristas pulou de 1,2 milhão para dois milhões. Silmara da Silva, por exemplo, segue esta tendência. Ela continua sendo uma trabalhadora doméstica, mas não mais como mensalista. Ela ganhava R$ 1 mil por mês, quando decidiu seguir o conselho das amigas e virou diarista. “Para mim está compensando mais. Dá para tirar entre R$ 2 mil e R$ 2,2 mil, dependendo se você tem a semana completa.
Com esse novo cenário de mercado, o Brasil se aproxima países onde os trabalhadores domésticos são muito caros e, por isso, as famílias acabam contando muito pouco com eles. “Alguns produtos que tinham uma penetração pequena nos lares brasileiros tiveram um aumento expressivo, como por exemplo, a lavadora de roupa automática, que passou de 33% há uma década para 50% hoje. Microondas tinha uma penetração de menos de 20% e hoje tem mais de 50%. A gente vê que essa mudança vem ocorrendo gradualmente e com a nova legislação deve acelerar mais ainda”, afirma Gustavo Mello, gerente geral de marketing da Whirpool Brastemp.
Todas essas mudanças vão interferir diretamente na relação entre empregado e patrão. “Acho que vai existir uma nova relação com esse grupo de trabalhadores, uma relação assentada não fundamentalmente nos laços afetivos, mas sim nos laços mais profissionais, o que do ponto de vista social é bastante positivo”, opina o sociólogo Ruy Braga.
Projeções
O Instituto Doméstica Legal preparou uma tabela com a projeção dos salários dos trabalhadores domésticos em 2020. Para fazer o cálculo, eles utilizaram a correção pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), baseada em uma média dos anos anteriores de 6,5%. Veja como ficou:
Estados Piso em 2013 Piso em 2020
Paraná R$ 885,00 R$ 1.422,00
Rio de Janeiro R$ 802,53 R$ 1.322,00
Rio Grande do Sul R$ 770,00 R$ 1.238,00
Santa Catarina R$ 765,00 R$ 1.229,00
São Paulo R$ 765,00 R$ 1.229,00
Demais estados R$ 678,00 R$ 1.088,00
Essa projeção mostra o piso salarial da categoria. Atualmente, a média salarial no Rio de Janeiro já é de R$ 900 e, em 2020, pode chegar a R$ 1.648,00. Em São Paulo, a média hoje é de R$ 1.100,00 e pode chegar a mais de R$ 1.800,00.
Outro dado interessante é que, segundo o IBGE, em 2001 havia um empregado doméstico para cada oito domicílios. Em 2011, esse número passou de um para cada nove domicílios. Se o crescimento do número de domicílios se mantiver na mesma proporção, a cada ano será necessário mais de 156.649 trabalhadores domésticos. Em 2020, seriam mais de 1,2 milhão, ou seja, um aumento de 18%.
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