Parteira diz que ajudou mais de 600 crianças a nascer no Piauí
Mãe de 29 bebês, ela teve primeiro filho com 13 anos; cinco sobreviveram.
Uma idosa de 80 anos não se esquece dos mais de 600 partos que realizou em sua vida. A aposentada Maria Alves da Silva aprendeu o ofício aos oito anos de idade, mas somente aos dez anos realizou seu primeiro parto. Ela conta que assim como auxiliou no nascimento de muitas crianças, também precisou da ajuda de uma parteira durante o nascimento dos seus 29 filhos.
“Eu tive 29 filhos, mas devido à pouca assistência médica que tínhamos na época, eu perdi quase todos. Alguns morreram durante o parto, outros com poucos meses de nascidos. O certo é que apenas cinco conseguiram sobreviver, cresceram e constituíram família”, afirma a aposentada.
O primogênito nasceu do primeiro casamento que aconteceu aos 13 anos. Ela teve sete crianças durante os seis anos de casada, mas apenas duas sobreviveram. Os outros 22 filhos nasceram do casamento com João Aguiar da Silva. Maria Alves conta que apenas três filhos cresceram deste matrimônio.
Apesar das perdas, a família da aposentada é grande. Segundo ela, um encontro com todos os filhos, netos, bisnetos e tataraneto ainda não foi possível. “São cinco filhos, 31 netos, 21 bisnetos e um tataraneto. Eu nunca consegui reunir todos porque tenho um filho que mora em Nazária (interior do Piauí) e outro em Fortaleza, no Ceará”, lamenta a aposentada.
Maria Alves, que é natural de Parnaíba, município localizado a 318 quilômetros de Teresina, relatou ao G1 que foi em sua cidade natal que, aos oito anos, presenciou o primeiro nascimento de um bebê, cena que a influenciou a abraçar a profissão que seguiria por toda a sua vida.
“Minha mãe estava sentada na cama pronta para ter minha irmã. Eu estava sentada no chão, aguardando meu pai, que tinha ido buscar a parteira. Mas não deu tempo e minha irmã nasceu nas minhas pernas. Quando a parteira chegou, ela me ensinou a cortar o umbigo do bebê”, lembra Maria Alves.
A aposentada afirma que foram mais de 50 anos ajudando mães a darem à luz. Maria Alves garante que durante este tempo nenhum bebê ou mãe morreram em suas mãos. “Tenho certeza que Deus estava presente em todos os partos que fiz. Muitas mães não tinham força e com certeza foi Ele quem ajudou e permitiu que tudo ocorresse bem”, afirmou.
Para aprimorar a técnica que aprendeu com a parteira de sua mãe, dona Maria participou do projeto Rondon, desenvolvido pela Universidade Federal de Goiás no campus avançado de Picos, no Piauí. O curso aconteceu em 1975 e o certificado é motivo de orgulho para aposentada.
“O quadro fica na parede da sala. Gosto de olhar para ele e lembrar dos bebês que trouxe ao mundo. Foi através deste curso, que eu tive condições de adquirir equipamentos necessários para realizar um bom parto. Além disso, os médicos e enfermeiros me orientaram com técnicas”, disse.
De acordo com a parteira, o procedimento mais difícil que realizou foi o parto de trigêmeos, já que o risco dos bebês e da genitora morrerem era maior. “Era preciso ser ágil na retirada das crianças do útero da mãe, mas assim que uma criança saiu, as outras vieram logo em seguida”, lembra.
Maria Alves e o esposo João Aguiar da Silva, de 80 anos, sustentavam seus filhos através da agricultura e da venda dos subprodutos da carnaúba. A natureza do trabalho do casal motivou uma mudança constante de endereço. Ela conta que chegou a morar em pelo menos dez municípios do Piauí.
Conforme a aposentada, quando chegava a uma nova cidade, a fama de parteira logo se espalhava e muitos pais vinham em busca dela para ajudar no momento do parto. “A falta de assistência médica e a distância dos centros de saúde tornavam o trabalho da parteira indispensável nas comunidades rurais”, justifica.
Filha de Maria Alves, Rosa Maria da Silva conta que sua filha, hoje com 26 anos, nasceu com a ajuda da avó.
“Ela acompanhou a parteira. Foi ela quem orientou como a profissional deveria pegar a cabeça do bebê e o melhor momento para retirá-la. Tenho muito orgulho da minha mãe. Eu sei que o trabalho dela foi fundamental para muitas mulheres”, diz Rosa.
Aposentada, de óculos, com filhos, netos,bisnetos e um tataraneto (Foto: Gilcilene Araújo/G1)
Maria Alves mostra fotos de alguns bebês que ajudou no parto (Foto: Gilcilene Araújo/G1)
Certificado de curso de parteira é motivo de orgulho para a aposentada (Foto: Gilcilene Araújo/G1)
Aposentada auxiliou no parto da filha Rosa Maria (Foto: Gilcilene Araújo/G1)
Gilcilene AraújoDo G1 PI
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