Feira livre em Iguatu vira palco para artistas

CENTRO-SUL

Diversos artistas apresentam-se no Baião na Feira. Eles cantam, tocam sanfona, triângulo, pandeiro, zabumba, fazem motes de viola, declamam poesia, leem trechos de cordel e, assim, resgatam e divulgam a cultura regional  

Iguatu. A feira livre que acontece tradicionalmente aos sábados, nesta cidade, localizada na região Centro-Sul, está mais animada. Cordel, baião, repente, cantoria e embolada misturam-se aos tradicionais produtos de consumo: frutas, verduras, grãos, cereais, confecções, temperos e utensílios domésticos. Uma vez por mês, um novo som ecoa entre os gritos dos vendedores e desperta a curiosidade dos consumidores. É o projeto Baião na Feira que neste ano foi ampliado com o sarau de cordéis.

Sanfoneiros, violeiros, poetas populares e músicos locais cantam e tocam ritmos variados da cultura cearense. A ideia da secretaria de Cultura do município é animar e ampliar o espaço de apresentação de artísticas populares e escritores de literatura de cordel. “A feira é um espaço de convergência de classes sociais diferentes”, observa o coordenador de ações culturais, Michel Prudêncio de Oliveira.

Variedade

A feira livre abre espaço para apresentações artísticas, em um verdadeiro palco para que o artista mostre o seu talento e aproxime cada vez mais o público de suas tradições culturais. Do feijão ao tempero rústico, da fruta da época à oriunda de outras regiões. Do calçado de borracha ao chinelo de couro. Tudo isso são mercadorias e opções variadas para os consumidores, em meio ao tempero cultural. E quando a mistura é de ritmos, em que se destaca o autêntico forró pé de serra, passando pelo repente, pelo desafio das violas e gritos do aboio ao anunciar os artistas populares, o espaço de arte e cultura fica ainda mais animado. A festa popular está completa. Esse é o objetivo do projeto, que acontece no último sábado de cada mês.

A feira livre atrai milhares de moradores. Realizada no entorno do Mercado Central é opção de compra dos diversos produtos por um preço mais acessível. A ideia foi apresentar a presença espontânea do público consumidor e ofertar arte e cultura, em um cardápio de manifestações artísticas da cultura nordestina.

A feira livre abre espaço para diversas apresentações artísticas, em um verdadeiro palco para que o artista divulgue e apresente o seu talento e aproxime cada vez mais o público de suas tradições culturais

 O poeta e repentista, Chico Alves, destaca a oportunidade criada pelo projeto. “Essa é uma iniciativa que valoriza e abre espaço para os valores da região”, disse. “Muitos têm oportunidade de mostrar seu talento”.

Um dos artistas que recentemente participou do projeto foi o jovem sanfoneiro, Lucas Pereira da Silva, Lucas do Acordeom, com apenas dez anos de idade, mas que toca como gente grande. Autodidata e hoje aluno da Escola de Música Popular Humberto Teixeira, animou a plateia tocando xote, baião e arrasta pé.

A cantoria e o forró se destacam no repertório do projeto. “Nós sentimos que a semente foi plantada, germinou rápido e já dá bons frutos”, disse Chico Alves. O projeto homenageia o iguatuense, compositor e parceiro de Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira. Foi essa dupla que criou o ritmo baião, na década de 1940. Mas, a iniciativa abre espaço também para apresentação de outros ritmos e manifestações musicais urbanas.

O Baião na Feira atrai um público que está de passagem, mas há outros cativos que acompanham a programação mensal. “O projeto proporcionou que os moradores conhecessem mais sobre a vida e a obra de Humberto Teixeira”, disse a secretária de Cultura, Diana Mendonça. Implantado, em 2010, a iniciativa foi retomada neste mês.

Atração a mais

A cada edição diversos artistas sobem ao palco do Baião na Feira para mostrar o seu repertório e o seu talento. Há aqueles que cantam, outros tocam sanfona, triângulo, pandeiro, zabumba, outros fazem motes de viola, declamam poesia, leem trechos de cordel e, assim, resgatam e divulgam a cultura regional.

Os feirantes aprovaram a ideia e não reclamam do som musical. “É bom, deixa a feira mais animada”, disse o feirante José de Souza, que há 12 anos trabalha na feira livre. Os consumidores dividem o olhar e a atenção entre os produtos e a apresentação dos artistas. “Foi uma boa ideia”, disse a dona de casa, Maria do Socorro Almeida.

Segundo Michel Prudêncio, vários artistas locais já procuram a secretaria de Cultura com o objetivo de agendar participação no projeto. Sanfoneiros, repentistas e poetas disputam o espaço no palco de apresentações culturais na feira livre. “Cada um quer mostrar o seu talento, a sua arte”, disse. 

Por meio do projeto, a secretaria de Cultura vai resgatar o trabalho do mestre Zai, que há várias décadas apresenta teatro de boneco, conhecido popularmente por mamulengo. Aposentado, o artista mora na zona rural deste município. 

Neste mês, também recomeçou o projeto Sarau de Cordéis uma ação que compõe o Programa ‘Iguatu: uma cidade de leitores’. A iniciativa é da Biblioteca Pública Municipal Dr. Matos Peixoto. O objetivo é incentivar e preservar a literatura popular por meio de apresentação de uma obra de cordel. 
Na próxima edição, será a vez do poeta Rivamoura Teixeira que lança livreto em homenagem ao compositor e músico iguatuense, Evaldo Gouvêa.

Mais informações

Secretaria da Cultura e Turismo
Prefeitura Municipal de Iguatu
Telefones: 
(88) 3581-7649
(88) 92451514

Sábado é dia de maior movimento

Iguatu. Instalada na década de 1970, no entorno do Centro de Abastecimento Manoel Carlos de Gouvêa, o conhecido Mercado Central de Iguatu, a feira livre reúne diariamente dezenas de vendedores de cereais, grãos, farinha, tempero, frutas, verduras, confecções, calçados e comidas típicas. Aos sábados, os negócios se expandem e ocupam três quarteirões da Avenida Agenor Araújo, a antiga Rua da Lagoa.

O setor de confecções ocupa boa parte do espaço destinado aos feirantes na área interditada aos sábados, pela manhã. Vendedores locais e oriundos de Icó, Jaguaribe e de outros municípios da região Centro-Sul lotam o espaço

O setor de confecções ocupa boa parte do espaço destinado aos feirantes na área interditada aos sábados, pela manhã. Vendedores locais e oriundos de Icó, Jaguaribe e de outros municípios da região Centro-Sul chegam pela madrugada e armam suas barracas bem cedo, a partir das 5 horas da manhã. Cada um carrega consigo batalhas diárias pela sobrevivência e expectativas de boas vendas a cada feira. É um trabalho árduo, mas que parece incansável.

Bons tempos

Maria Eunice de Lima há mais de 20 anos batalha diariamente na feira livre de Iguatu, vendendo confecções diversas. Ela veio de Aracati no início da década de 1960 e nunca mais voltou. Aqui casou e constituiu família.

"No passado já foi melhor, a gente vendia mais", contou. "Hoje o comércio está muito concorrido, são muitas lojas espalhadas em todos os bairros e no centro". A maioria dos feirantes adquire as confecções de revendedores em Fortaleza e no município de Santa Cruz do Capibaribe em Pernambuco. "São polos onde se encontra um melhor preço e maior variedade de produto", observa o vendedor Paulo Lima. "No Cariri, também, há opções de compra".

Bronca antiga

É unânime a reclamação dos vendedores quanto à precariedade do lugar. No início da década de 1980, foi construído um centro de feirantes, mas logo o espaço foi modificado e ocupado de forma desordenada.

Os boxes foram insuficientes para abrigar as mercadorias expostas à venda e o número de comerciantes. Resultado: houve uma expansão com a instalação de bancas e a coberta improvisada com uso de telhas de amianto, cerâmico e alumínio. Em meio aos feirantes, surgiram bares e a precariedade do espaço contribui para o afastamento dos clientes. "As pessoas têm medo de vir para cá", lamenta o vendedor, Licanor Bezerra. "No dia a dia, a venda é pouca, mas aos sábados, aumenta 50 por cento", observa.

Dona Rosa Correia há 50 anos está no batente, enfrentando sol e chuva. É uma das poucas feirantes que mantém a venda de peças, vestidos, blusas e passarela com bordados. Especializou-se em roupas para senhora e virou referência na cidade. "Nas lojas faltam esse tipo de vestido", disse. "O nosso preço é bom e as confecções são de malha e de algodão de boa qualidade".

A aposentada Maria Neide Bezerra há quatro anos descobriu a banca de dona Rosa Correia. "Virei cliente e sempre dou uma passada por aqui para ver se chegou alguma novidade", disse.

"O preço das peças é muito bom". Ela contou que já espalhou para amigas a opção de comprar, de forma acessível, vestidos e blusas para senhoras.

Na história

De acordo com a Enciclopédia Luso-Brasileira, as feiras são fenômenos econômicos e sociais muito antigos, conhecidas pelos romanos e gregos.

Na Baixa Idade Média, houve uma expansão e contribuiu para o surgimento de muitas cidades na Europa. Desde a antiguidade foram criadas regras e controle da atividade estatal.

No Brasil, as feiras existem desde o tempo colonial. Apesar da modernidade, do avanço tecnológico, das compras em supermercados e centros de lojas com ambientes de luxo e climatizado, as feiras livres resistem e ainda são marcantes no Interior.

Proporcionam oportunidade de emprego e de renda para milhares de famílias. Em muitas cidades, as feiras são o principal ponto de comércio e atrai os moradores. Em Iguatu, por exemplo, também funciona como centro cultura e de lazer, apesar da precariedade do mercado e do seu entorno.