Agricultores pernambucanos aprendem a conviver com a seca
Armazenando água das chuvas e rios, agricultores produzem o ano todo.
Já que não é possível evitar a seca, a atitude mais eficiente é aprender a conviver com ela. É o que defendem muitos especialistas, que desenvolveram diversas técnicas para o conjunto chamado de ‘alternativas de convivência com o semiárido’, como construir cisternas para armazenar água dos rios e das chuvas e fazer um planejamento para vencer a aridez e extrair o melhor da terra. Como parte do programa Água para Todos, o Governo Federal já distribuiu quase 270 mil cisternas de PVC e a meta é chegar a 750 reservatórios até 2014. Além deste programa, a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), em parceria com o Governo Federal e os governos estaduais, também desenvolve um projeto de convivência com a seca para ajudar várias famílias que vivem nessa região nordestina.
A iniciativa da ASA já construiu e distribuiu cerca de 454 mil cisternas no semiárido brasileiro, cada uma com capacidade para 16 mil litros. O reservatório é feito de alvenaria, fica um metro enterrado, deve ser pintado de branco para refletir a luz do sol e manter a água sempre fresca. João Lourenço mora em Calumbi, no Sertão, e vive feliz com a cisterna que tem no quintal de casa. “Essa água aqui é muito boa para beber, é limpa, não entra sujeira”, diz o agricultor. Dentro de casa, foi instalado um sistema de captação da água da chuva, a partir de calhas.
A expectativa da ASA é chegar à meta de construir um milhão de reservatórios no interior. De acordo com a entidade, se chover 500 milímetros – abaixo da média anual do Sertão – uma casa com mais de 40 m² poderá armazenar água o suficiente para beber e cozinhar durante um ano. “É essa a política, estocar na hora da abundância para que a gente possa ter água na hora da escassez”, explica o coordenador da ASA, Manuel dos Anjos. Outro tipo de cisterna muito utilizada pela Articulação é a do tipo calçadão, utilizada especialmente para armazenar água para produção agrícola e criação de animais. Esse modelo é formado por uma área cimentada de 200m², cuja água que cai sobre ela escorre para um reservatório com capacidade para até 52 mil litros.
Para conseguir acesso às cisternas de 16 mil litros construídas com a tecnologia da ASA, a família deve ter renda per capita de até meio salário mínimo, morar na própria casa e não ter outra cisterna na residência. No caso da cisterna de 52 mil litros, o morador precisa passar por uma capacitação. “Para ter a cisterna de produção, a família precisa ter a cisterna de 16 mil litros, que é a cisterna da primeira água – porque não faz sentido você ir para a segunda água se não tem a primeira. A prioridade é o consumo humano”, segue Manoel dos Anjos. “A família também precisa ter disponibilidade de mão de obra e afinidade com a produção”.
A ASA disponibiliza o telefone (81) 2121.7666 para tirar dúvidas sobre as cisternas e como ter acesso aos reservatórios.
Orientação anti-desperdício
Em Serra Talhadax, no Sertão, seis famílias moram na comunidade Barra Nova e conseguem produzir alimentos diversos o ano inteiro só com o sistema de cisternas e armazenamento de águas. Sempre tiveram um poço por perto, mas não sabiam como utilizar a água até que conheceram o Centro de Educação Comunitário Rural (Cecor). “A orientação é que essa água seja utilizada para cozinhar e beber”, explica o presidente do Cecor, João Laércio Ferreira. Com uma relação equilibrada com a natureza, os agricultores aprendem a usar da melhor maneira os poucos recursos que têm. “Hoje, a especialização nos ensina a trabalhar com pouco desperdício e mais qualidade nos produtos”, conta o agricultor Alessandro Vitorino da Silva.
De acordo com a assessora técnica do Cecor, Kelle Souza, os sertanejos aprendem a capacitar os moradores para executar bem a agricultora familiar. “A agricultura familiar não é uma colheita única, como milho e feijão, que tem período certo. Se os agricultores têm uma demanda de água, eles podem produzir várias coisas durante o ano inteiro”, detalha Kelle. Dessa forma, os moradores conseguem encher os carros e levar tudo para a feira de produtos orgânicos da cidade, chegando a vender até 200 quilos de frutas, verduras e hortaliças.
O agricultor João Lourenço Dunga explica as diferenças na paisagem da caatinga antes e depois das tecnologias de reservatórios. “Antes aqui só era caatinga e pedra. Agora está aí, olha, fartura. As crianças comem na hora que querem, a mulher pode temperar à vontade. Quando os vizinhos querem, é só vir atrás”, conta o morador da comunidade.
Do G1 PE
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