Plantas alternativas são usadas para alimentar rebanhos no Nordeste

Bois e vacas têm conseguido sobreviver mesmo diante da severa estiagem.

Muitos produtores do Nordeste estão tendo que driblar as dificuldades como podem para conviver com a seca. Na Fazenda Carnaúba, que fica em Taperoá, na Paraíba, choveu apenas três vezes nos últimos dois anos, o que empobreceu ainda mais o Sertão do Cariri paraibano. Quando tudo o que tradicionalmente se usava como alimentação se acabou, os donos investiram na criação de alternativas para manter os animais, como o uso do mandacaru e o bagaço da cana-de-açúcar.

Há mais de 30 anos não se recorria ao mandacaru para alimentar os animais e, agora, todo o estoque dele que havia na propriedade está sendo queimado para que, livre dos espinhos, substitua os alimentos que a seca levou.

Nos cinco silos onde estavam armazenadas 1.000 toneladas de feno, palma e cana-de-açúcar, nada restou. A sementeira com 15 variedades de palma cedeu ao consumo nos cochos e à praga cochonilha-do-carmim.

O produtor rural Joaquim Dantas explica que o bagaço de cana é comprado no litoral e precisa ser modificado. “O bagaço adquirido do litoral passa por um processo simples aqui de hidrólise. A gente adiciona uma solução de água com cal e ele é mexido na betoneira, que a gente, como usa um volume maior tem que usar a betoneira, descansa por 48h e a gente potencializa a absorção dele em quase seis vezes pelo animal”, afirmou.

Depois de testarem diversas raças, os donos optaram por manter no curral duas que aguentam firme a aridez da região, como a raça sindi, nativa do Afeganistão, e o zebu guzerá, que tem origem na Índia. Muitos destes bois e vacas já foram premiados em exposições Brasil afora. Com a estiagem, emagreceram, mas estão todos vivos graças ao bagaço hidrolisado, ao mandacaru e à ureia misturados ao alimento.

A fazenda também é referência na criação de ovelhas e cabras. “As cabras continuam soltas na caatinga. A gente tá até admirado como é que elas tão mantendo o ‘score’ [condição física dos animais] na condição que tá. Reduziram a produção de leite, mas mantém o score, mantém a produção”, explicou Joaquim Dantas.

O proprietário da Fazenda Carnaúba, Manoel Dantas Vilar, conhece a seca de velhos tempos. Ele, que trabalhou na Sudene, guarda um livro de registros da chuva na região anotados desde 1910. Nunca o município de Taperoá teve um ano tão seco quanto o último. “Só se ocupam e pensam sobre a seca depois que ela já está instalada no Nordeste”, disse.

Ele se esforça para manter o rebanho. Já vendeu parte dos animais, mas segue convicto de que existem, sim, meios de conviver com algo que não se pode evitar: a estiagem. “Pra dizer de outra maneira mais clara: você tem que pegar pro Semiárido os elementos biológicos, plantas e animais que são adaptados com o clima daqui, com a regra extravagante de distribuição de chuva daqui. Se você fizer isso, de todas as zonas secas do mundo, o Semiárido do Nordeste do Brasil seria a [região] mais produtiva, com maior garantia de sobrevivências das populações”, finalizou.

Do G1 PE