DIVERGÊNCIAS ENTRE ALIADOS

O clima esquentou entre deputados estaduais do PSB, na Assembleia Legislativa, na manhã de ontem, durante sessão ordinária. A discussão teve início quando a deputada Eliane Novais, membro da chamada ala histórica do PSB, acusou o presidente do partido no Ceará, o governador Cid Gomes, de estar antecipando o debate eleitoral da sucessão presidencial do próximo ano. Em contrapartida, os parlamentares aliados do chefe do Poder Executivo afirmaram que Novais tem sido infiel à legenda, pois apoiou a candidatura petista, quando das eleições municipais no ano passado.

O líder do Governo na Assembleia, José Sarto, disse que não é o governador Cid quem está antecipando o debate, e sim setores do partido, defendendo que a discussão seja feita com toda a legenda.

Eliane Novais chegou a chamar de "inoportuna" a decisão do diretório estadual presidido por Cid Gomes, de pedir à direção nacional do partido que convoque encontro para discutir possível candidatura própria da legenda à Presidência da República. Segundo ela, o assunto foi levado à tribuna do Senado Federal pelo senador Rodrigo Rollemberg, para ressaltar que a decisão sobre uma possível candidatura do PSB à presidência da República cabe à direção nacional do partido e será tomada, de forma coletiva, no tempo do PSB.

Funciona

"Não é no tempo ou de acordo com a vontade pessoal do governador Cid Gomes ou do ex-deputado Ciro Gomes, que estão no partido há poucos anos, mas, mesmo assim, em alguns momentos parecem querer ser os "donos" dos rumos do PSB. Não é assim que funciona o partido, que tem uma tradição e uma história longa", disparou a deputada, que perdeu muito espaço na sigla ao longo dos últimos anos.

Conforme disse, o governador estaria prestando um "desserviço ao País", quando, segundo ela, tenta pressionar o PSB, a fim de antecipar o debate eleitoral. "Quero reafirmar que a decisão sobre a candidatura do PSB em nível nacional sempre foi tomada de forma coletiva, baseada em amplas consultas internas e sempre no ano da eleição".

Segundo ainda a deputada, "diferente do que pensam Cid e Ciro, o partido tem hoje capacidade e envergadura para entrar na disputa eleitoral para a presidência da república e tem um nome respeitado, bem avaliado nacionalmente e reconhecido dentro do Partido que é o do presidente Eduardo Campos", disparou a deputada.

Ela ainda disse que os irmãos Ferreira Gomes cobram uma posição mais célere de Eduardo Campos, enquanto ficaram "até o último minuto" no Governo Lúcio Alcântara e na gestão da ex-prefeita Luizianne Lins. " Tomaram a decisão de lançar candidaturas próprias nos minutos finais e agora querem que o partido atenda ao desejo e à conveniência deles. Se querem apoiar a Dilma, se já têm essa decisão formada que saiam do partido. Não vai ser novidade", criticou ela, afirmando que os dois já estiveram no Arena, PDS, PMDB, PSDB, PPS e agora PSB.

Convidado

O deputado Sergio Aguiar afirmou que acompanha o governador Cid Gomes e lembrou que não se sente convidado a sair da legenda. Para ele, é estranho as palavras da deputada, pois o PSB faz parte do projeto que não é somente do PT, mas Nacional. O pessebista lembrou que o PSB tem cargos no Ministério, mas ressaltou que a legenda tem que manter o discurso da coerência e saber se isso é o que a maioria do partido quer.

"O recall que tinha o Ciro Gomes era de mais de dois dígitos. Hoje, estamos há alguns meses das eleições e o Eduardo Campos só tem 6% nas últimas pesquisas. O  pensamento do governador é de cautela. Eu me sinto à vontade dentro do PSB, mas seguindo as orientações dele", disparou o parlamentar, além de outras observações contrárias ao pensamento da deputada.

O líder do Governo, José Sarto, disse que quem tem tentado antecipar essa discussão não é o governador do Ceará, mas setores do PSB. Ele defende que esse debate seja feito com todos da legenda e afirmou que a Eliane Novais decidiu nas eleições municipais passadas por apoiar o petista Elmano de Freitas, ainda que o partido tenha apresentado a candidatura de Roberto Cláudio, atual prefeito de Fortaleza. Para Sarto, esta atitude da deputada é, "no mínimo estranha".

Infidelidade

"O governador não queria candidatura própria. Ele foi o que mais lutou contra isso. A deputada Eliane e o ex-deputado Sergio Novais votaram favoráveis ao candidato do PT, sendo ela deputada do PSB. Não só votou como foi para a linha de frente, estava nas ruas. De quem é mesmo a contradição?" indagou, para deixar enfatizado a infidelidade da deputada.

Ele disse que existe um "ranço pessoal" de Eliane para com Cid Gomes, sendo ele um dos melhores gestores do País, em sua opinião. O parlamentar lembrou, por exemplo, o programa Paic, que foi adotado pelo Governo Federal. "Há quatro anos a gente tinha um candidato com conhecimento do País e tinha envergadura para a Presidência. Quer queira ou não, o ex-governador Ciro Gomes tinha capacidade de ser candidato", afirmou.

Sarto ressaltou também que a candidatura de Dilma Rousseff chegou a ser questionada na época, mas o partido resolveu apoiar o PT. "O PSB cresceu à sombra da eleição da presidente Dilma. O Estado tem parcerias que são fundamentais com o Governo Federal. É conveniente lançar candidatura no ano que vem por conta dessa aliança?", questionou.

Desprezo

Eliane Novais, por outro lado, disse que foi perseguida e que sequer foi chamada para as reuniões da executiva, sendo ela membro do grupo. Em resposta, José Sarto disse que a ala histórica do partido contratou "capangas" para agredir verbal e fisicamente os membros do partido, na tentativa de evitar a reunião da direção municipal da agremiação que ia defenestrar o irmão da deputado da direção municipal do partido.

Desde a exclusão de Sérgio Novais da direção municipal do PSB que a deputada passou a ser oposição ao Governo na Assembleia, aproveitando ainda o momento da eleição municipal para mostrar sua insatisfação com o comando do partido e a candidatura do atual prefeito Roberto Cláudio, no ano passado.

Wellington Landim (PSB) ressaltou que o governador Cid Gomes está fazendo uma pré-campanha para a presidente Dilma Rousseff, assim como Aécio Neves, Marina Silva e Eduardo Campos estão fazendo para eles próprios. "Ontem (quinta-feira em horário eleitoral gratuito na TV) ficaram estampadas as críticas que o Eduardo Campos fez à presidência e não existe Estado mais beneficiado do que Pernambuco nesse Governo", apontou o pessebista.

Outros aliados do governador não se manifestaram, alegando que a recomendação de Cid é para desprezar as manifestações da deputada Eliane Novais que espera uma reação dele para aparecer como vítima, o que ele não vai deixar acontecer.